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ORÇAMENTO
Saúde e Avança Brasil perdem recursos; Esportes ganha mais verba
Governo corta R$ 4 bi, mas
favorece parlamentares
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A menos de três meses das eleições, o governo anunciou ontem
um corte de gastos de R$ 4 bilhões
que reduziu as verbas da maioria
dos ministérios, mas aumentou
os recursos de pastas como a de
Integração Nacional, o de Esporte
e Turismo e a de Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano,
que concentram as emendas dos
congressistas.
As áreas mais atingidas pelo
corte de verbas foram os programas estratégicos do Avança Brasil
e os ministérios das Comunicações e da Fazenda.
O secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guardia, afirmou
que houve "alteração na composição dos gastos" com a revisão de
despesas divulgada ontem.
O Ministério da Integração Nacional, que desenvolve programas
de irrigação e infra-estrutura, foi o
mais favorecido na redistribuição
de recursos, com aumento de
146% no limite de gastos (R$ 418
milhões).
A Presidência da República, as
agências reguladoras e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano
tiveram um acréscimo de 111%
(R$ 319 milhões) nas suas receitas. A secretaria financia pequenas obras de infra-estrutura, saneamento básico e habitação popular, justamente as que mais interessam aos congressistas.
Apoio político
A liberação de recursos para a
realização dessas obras assegura o
apoio de prefeitos na campanha
de reeleição dos congressistas.
Deputados e senadores costumam participar das inaugurações
dessas obras.
O limite de gastos do Ministério
do Esporte e do Turismo foi aumentado em 41%. O interesse de
deputados e senadores nesse ministério está localizado no programa de construção de quadras esportivas.
O Ministério da Saúde sofreu
um corte de R$ 453 milhões, que
representa 2% do orçamento da
pasta. O corte do Ministério da
Defesa chega a 13% do total, que
equivale a R$ 506 milhões.
Em maio, o governo havia bloqueado R$ 6,3 bilhões de recursos
que os ministérios poderiam gastar até o final do ano. O argumento foi a demora na aprovação pelo
Congresso da emenda que prorrogava a CPMF (imposto sobre o
cheque), o que causaria perda de
arrecadação para a União.
Guardia explicou ontem que,
apesar de a CPMF ter sido aprovada sem a necessidade de noventena -prazo de três meses para
início da cobrança da contribuição-, a maior parte do bloqueio
precisou ser convertida no corte
definitivo de R$ 4 bilhões.
O Executivo também recomendará ao Legislativo, ao Judiciário e
ao Ministério Público da União
corte de despesas de R$ 51,3 milhões. Desse total, R$ 41,4 milhões
devem ser cortados somente no
Judiciário.
"Esse corte não tem um impacto tão grande na economia, mas
demonstra o nosso compromisso
com as metas fiscais, o que pode
assegurar uma trajetória declinante dos juros", justificou
Eduardo Guardia.
Juros
O governo federal precisou cortar gastos para assegurar a obtenção de superávit primário (economia de gastos para pagamento de
juros da dívida pública) de 3,75%
neste ano.
A medida foi necessária porque
a equipe econômica reavaliou as
receitas e despesas do governo e
verificou aumento dos gastos e
queda na previsão de arrecadação
para 2002.
Do corte definitivo anunciado
ontem, R$ 1,5 bilhão já tinha sido
divulgado pelo governo na época
do bloqueio de recursos por conta
de aumento de despesa com a folha de pagamento dos funcionários públicos e o crescimento do
déficit previdenciário.
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