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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Protesto termina com agressões e um servidor detido

PM entra no Congresso e reprime ato contra reforma

Alan Marques/Folha Imagem
O servidor Rogério Fagundes Mazola é preso quando tentava entrar no Anexo 2


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara dos Deputados convocou ontem o Batalhão de Choque da Polícia Militar para reforçar a segurança, e os policiais entraram em confronto com servidores públicos que protestavam contra a reforma da Previdência, ameaçando interromper sessão da comissão que analisa o tema. Autorizados pela presidência da Casa a entrar nas dependências da Câmara, os policiais arrastaram um servidor, que acabou detido e algemado.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), disse que o pedido de intervenção da PM partiu do serviço de segurança da Casa, mas confirmou que ele autorizou a entrada dos polícias. "Eu, como presidente da Câmara, autorizei a entrada dos policiais para garantir a segurança e a continuidade dos trabalhos."
A entrada de policiais na Câmara gerou polêmica. Os servidores alegam que eles não poderiam circular armados nas dependências. De acordo com o regimento interno da Câmara, o porte de arma é permitido apenas para a segurança da Casa, e qualquer pessoa pode entrar nas instalações, desde que esteja devidamente vestida e identificada.
A Folha ouviu ex-presidentes da Câmara e políticos veteranos que afirmaram não se lembrar de a Polícia Militar ter entrado antes nas dependências da Casa.
"Queríamos apenas assistir e fazer lobby e pressão com os deputados para votarem contra a reforma", disse Sandro Alex de Oliveira Cezar, da Fenasps (servidores da Previdência Social).
Desde o início da manhã, cerca de 40 policiais bloqueavam três entradas da Câmara-exceto para deputados, funcionários e pessoas credenciadas.
Ao mesmo tempo, os manifestantes começaram a chegar na Câmara, por volta das 8h, e se posicionaram na entrada do Anexo 2. É a porta mais próxima do plenário onde deputados da comissão especial iriam discutir o parecer da reforma da Previdência.
O protesto contava com 1.200 servidores, segundo os organizadores -200, na avaliação feita pela PM no local.
Os servidores gritavam "traidor" tanto para deputados do PSDB como para petistas. Os únicos que se "salvaram" pertenciam à ala radical do PT -fortemente ligada ao funcionalismo público.
"É preocupante para a democracia. São práticas que sempre combatemos, é triste acontecer isso com o PT no governo. É um processo de autoritarismo", disse o deputado Doutor Rosinha (PT-PR), que faz parte do "Grupo dos 28", conhecido pelas críticas ao governo. Ele chegou a ser barrado quando chegou à Casa, às 8h30, e liberado depois.
Já o líder do PFL, deputado José Carlos Aleluia, que chegou a discutir com os servidores, disse que o "presidente tem o dever de manter a ordem".

Tensão
No auge da tensão com os servidores que pressionavam para entrar, por volta das 10h30, os policiais militares detiveram Rogério Fagundes Mazola, 35, por cerca de 40 minutos. Ele foi arrastado por PMs e conduzido, algemado, à sala da segurança do Congresso.
O Sindilegis (Sindicato dos Servidores do Legislativo) protocolou na Corregedoria pedido de punição a João Paulo por descumprimento da norma que não permite pessoas armadas nas dependências da Câmara.
Depois de aproximadamente três horas de negociação, a deputada Denise Frossard (PSDB-RJ) conseguiu que o batalhão de choque da PM fosse retirado da porta. Uma comissão de grevistas entrou na Câmara e tentou, sem sucesso, uma audiência com João Paulo.

Colaboraram LUCIANA CONSTANTINO, da Sucursal de Brasília, FERNANDA KRAKOVICS, da Agência Folha, em Brasília, e LILIAN CHRISTOFOLETTI, enviada especial a Brasília


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