São Paulo, domingo, 24 de julho de 2005

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"MENSALÃO"/PT

Endividado e em crise, PT enxuga suas despesas

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O desastre financeiro do PT encerrou a "era Blue Tree" do partido, nas palavras de um de seus dirigentes, e vitimou o PED (Processo de Eleição Direta), principal evento do calendário do partido no ano. Inicialmente orçado em R$ 1,4 milhão, o processo que vai renovar pelo voto direto dos filiados a direção nacional do partido, em 18 de setembro, sofreu um corte expressivo. O custo final ainda não foi fechado, mas o corte deve chegar a 50%.
A contenção de gastos no que era para ser a grande vitrine do PT em 2005 é apenas uma ponta do esforço de guerra que o partido se vê obrigado a fazer na era pós-Delúbio Soares, tesoureiro do PT de 2000 até o dia 5 de julho deste ano.
O ex-tesoureiro passou de homem forte para figura desprezada no partido por ter deixado uma dívida oficial de R$ 39 milhões. O rombo dobra se contabilizados os empréstimos "por fora" tomados por Delúbio com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que o partido não tem intenção de honrar.
Na melhor das hipóteses, a dívida equivale a 80% de toda arrecadação do PT no ano passado, de R$ 48 milhões.
As más notícias não param de chegar. Nessa semana, a companhia aérea TAM suspendeu um acordo que tinha com o partido - de fornecimento de passagens com desconto- por falta de pagamento. Procurada, a empresa aérea disse que não comenta contratos comerciais.
O partido agora corre contra o tempo para encontrar outras opções de vôo antes do início dos debates do PED, na semana que vem, que obrigam ao deslocamento de dirigentes partidários. O primeiro dos 28 marcados, na semana que vem em Manaus, deve ser transferido para São Paulo, para economizar gastos.

Blue Tree
"Acabou a era Blue Tree no PT", diz o organizador da eleição interna, Francisco Campos. A referência é à cadeia de hotéis cinco estrelas que virou o símbolo do descontrole de gastos na gestão Delúbio, que organizava reuniões nos hotéis da rede. "Agora hospedagem é em hotéis populares, ou mesmo casas de militantes. Voltamos 15 anos no tempo", afirma Francisco Campos.
O PT está tendo que ter "criatividade" para viabilizar o PED. A impressão de 20 mil exemplares de um jornal contendo as diferentes teses das chapas que disputam a eleição será feita numa gráfica que aceitou vender "fiado".
O envio das teses pelo Correios também não será mais aos 840 mil filiados, como inicialmente previsto, mas a um grupo de 600 mil petistas. O medo do partido é de que o processo seja fragilizado em razão do abatimento da militância. Teme-se que o comparecimento seja inferior a 20%.
"A realização do PED no dia marcado é uma decisão política do diretório nacional. O que estamos fazendo é readequar o processo interno de eleição direta à luz da nova realidade financeira do partido", afirma o tesoureiro petista, José Pimentel, que assumiu no lugar de Delúbio.


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