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"É preciso saber o tamanho do crime", diz Lula sobre Sarney
Presidente volta a minimizar denúncias e a defender senador no comando da Casa
PT mantém posição dúbia; líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, entrega a sua quarta denúncia contra Sarney no Conselho de Ética
Sebastião Moreira/Efe
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O presidente Lula visita projeto de horta orgânica depois de abertura de feira em São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em
São Paulo, que é preciso evitar
o que chamou de "morte precoce" do presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP).
Mesmo depois da revelação
de conversas em que Sarney
orienta o processo de contratação do namorado da neta, Lula
minimizou o teor das denúncias, defendeu a permanência
do presidente do Senado no
cargo e censurou condenação
precoce no país.
"O que você não pode é vender tudo como se fosse um crime de pena de morte", afirmou.
Ao falar das gravações, Lula
disse que "é preciso saber o tamanho do crime". "Ou seja,
uma coisa é você matar, outra
coisa é você roubar, outra coisa
é você pedir um emprego, outra
coisa é relação de influências,
outra coisa é o lobby."
Em entrevista à rádio Globo,
Lula reiterou o discurso de véspera -no qual recomendou ao
Ministério Público cautela com
a biografia dos investigados- e
chegou a comparar prejulgamentos à prática de um crime.
"O que precisamos é não cometer um crime antecipado."
Para Lula, é necessário garantir "confiabilidade às instâncias" de investigação e julgamento: "O que nós precisamos é não estabelecer a morte
precoce. O que nós precisamos
estabelecer é um processo de
investigação, de julgamento e
aí, sim, a pessoa será absolvida
ou condenada em função da
qualidade da investigação".
Segundo o presidente, há
"denúncias que, investigadas,
são verdadeiras". "Mas tem denúncias que não deram em nada e as pessoas já estão condenadas antes. É isso o que eu
quero evitar", justificou.
Apesar do agravamento de
sua situação política, Sarney
disse a amigos e familiares que
não pretende renunciar ao comando da Casa durante o recesso, como estão defendendo
senadores da oposição.
Aliados de Sarney, contudo,
manifestaram preocupação ontem depois de receberem a notícia do acidente doméstico de
sua mulher, Marly Sarney, que
deve passar por uma cirurgia. O
receio é que o acidente abale
emocionalmente Sarney e o leve a pedir uma licença durante
o período de recuperação dela.
Senadores
O PT continua mantendo
uma posição dúbia em relação
ao presidente do Senado. Apesar de considerar grave a série
de denúncias contra Sarney, o
partido não decidiu mudar de
posição e pedir a renúncia.
A líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti
(PT-SC), disse ter ficado "muito preocupada". "Na minha
avaliação, a situação é grave. Os
indícios e denúncias são muito
fortes", disse Ideli, que sempre
seguiu a orientação do Planalto
de defender Sarney. Questionada sobre uma mudança de
opinião na bancada, afirmou:
"Para a bancada mudar de opinião é preciso ter reunião".
Antes do início do recesso
parlamentar, o PT pediu para
Sarney se licenciar. Como ele
não aceitou, o partido não defendeu publicamente sua saída.
A bancada chegou a ter uma
reunião tensa com Lula, que
lembrou que Sarney é um importante aliado do governo. Depois disso, os petistas mantiveram sua opinião, mas pararam
de pressionar o peemebebista.
Ontem, o senador Eduardo
Suplicy (PT-SP) divulgou nota
defendendo que Sarney se licencie. "As gravações realizadas pela Polícia Federal mostram como pessoas da família
do senador e de seu círculo de
amizades foram contratadas
pelo Senado por atos não publicados", afirmou.
Suplicy afirmou ainda que
concorda com a proposta dos
senadores Cristovam Buarque
(PDT-DF) e Pedro Simon
(PMDB-RS) de antecipar a reunião do Conselho de Ética marcada para agosto. No entanto,
só o presidente do conselho, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), pode antecipar o encontro.
Ele é aliado de Sarney e não deverá tomar uma atitude que poderá prejudicar o presidente.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), entregou ontem a
sua quarta denúncia no conselho contra Sarney, que se baseia
nas gravações divulgadas pelo
jornal "O Estado de S. Paulo".
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), afirmou que o
partido ainda não decidiu abrir
representação contra Sarney.
Até agora, só o PSOL ingressou
com um pedido de processo.
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