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GOVERNO
Ministro do Desenvolvimento afirma que, na Casa Civil, foi vítima de "invejas, ciúmes e insatisfações"
Malan é nome ao Planalto, diz Carvalho
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Instalado em seu novo gabinete, onde coloca um pote de balas à disposição dos interlocutores, como sinal de sua ""fase doce",
o ministro do Desenvolvimento,
Clóvis Carvalho, avalia que a reforma ministerial fortaleceu Pedro Malan a ponto de torná-lo
possível candidato à sucessão do
presidente Fernando Henrique
Cardoso.
"Sem a menor dúvida", disse
Carvalho, em entrevista à Folha,
com uma ressalva: ""As condições
da história não se repetem: dois
ministros da Fazenda virando
presidente..."
Embora tenha assumido o posto idealizado como principal vitrine do segundo mandato de
FHC prometendo pressa, ele investe contra expectativas exageradas sobre seu desempenho.
Os resultados serão lentos, avisa, enquanto tenta melhorar a
imagem da época de chefe da Casa Civil, segundo ele produto de
"invejas, ciúmes, insatisfações".
Sobre as cobranças do PSDB,
partido do qual é fundador, o ministro saiu com a seguinte frase:
"O PSDB não existe, existem
membros do partido com nome,
sobrenome e CPF".
Carvalho defende a concessão
de incentivos fiscais limitados à
Ford e conta que houve, ""no mínimo", mal-entendido na negociação. Sobre a polêmica viagem a
Fernando de Noronha no jatinho
da FAB, o ministro surpreende e
diz que faria tudo de novo.
Folha - No que o ministro Clóvis Carvalho será diferente do
ministro Celso Lafer?
Clóvis Carvalho - Só o tempo
vai mostrar. Eu pretendo acelerar
as condições do desenvolvimento. Dado o pressuposto da nossa
firme adesão às metas do equilíbrio fiscal, há muito recurso a ser
mobilizado para o desenvolvimento. A diferença é o estilo de
gestão. E um sentido maior de urgência.
Folha - Com resultados rápidos?
Carvalho - Nisso fico muito perto do ministro Celso Lafer. São
tempos diversos: o tempo político, o tempo das aspirações do
próprio povo e o tempo real do
desenvolvimento, o tempo econômico. Não há passe de mágica.
O maior problema ainda é o excesso de expectativa no curto prazo.
Há coisas a fazer que não requerem grandes investimentos. É
preciso atenção aos gargalos para
agregar novos setores à corrente
de exportação. É um esforço lento. A nova política cambial abriu
uma avenida, mas as respostas
não vêm rapidamente.
Folha - O resultado da desvalorização sobre as exportações
decepcionou?
Carvalho - De jeito nenhum.
Temos de ser realistas, sair da cadeira da escola, parar de escrever
"papers" e ir buscar as condições
efetivas da realidade.
Além das condições financeiras,
é preciso desenvolver as condições de competitividade na economia real. Ela existe, não está
nos livros. Essa meta de exportar
US$ 100 bilhões em 2002 não é fácil, mas é perfeitamente possível.
Folha - É rezar para o cenário
externo ajudar?
Carvalho - Vão existir novos
inimigos, com certeza. Vamos
procurar superar os obstáculos. A
vida é assim. É preciso ver ainda
que, com o esforço de competitividade, estamos viabilizando
também a substituição de importações.
Fica mais em conta produzir
aqui do que importar. Essa meta
mobilizadora de exportar US$ 100
bilhões em 2002 é muito significativa.
"O PSDB não existe, existem membros do partido com
nome, sobrenome
e CPF"
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Folha - Outra meta do programa de governo, de criar 7,8 milhões de empregos em quatro
anos, anda meio esquecida, não
chegou a ser mencionada pelo
presidente nos discursos recentes. Ela está de pé?
Carvalho - Com certeza. No
momento em que ele falou dos
US$ 100 bilhões, o presidente dava uma missão para um setor do
ministério. Ele podia efetivamente ter se lembrado, mas isso vai ser
feito. A privatização terá um papel importante.
Folha - Mas empresas privatizadas andaram demitindo pessoal...
Carvalho - É a regra do jogo. Temos de procurar gerar emprego
dentro de condições do mundo
globalizado. Temos de estender a
frente produtiva de maneira a dar
oportunidades aos que perderem
o emprego.
Folha - O PSDB cobra do governo uma ação mais agressiva
de desenvolvimento. O sr. pretende corresponder a esse desejo?
Carvalho - A sociedade fez a opção pela estabilidade ao eleger
Fernando Henrique. São necessários sacrifícios para atingir as metas fiscais, equilibrar as contas do
governo.
Isso não significa que só vamos
pensar no desenvolvimento depois de resolvido o ajuste e asseguradas as condições macroeconômicas da estabilidade. Quem
tenta pintar isso está fazendo um
exercício de ficção para efeito de
discurso.
Folha - A crítica vem do PSDB.
Carvalho - Que seja. E o PSDB
não existe, existem membros do
partido com nome, sobrenome e
CPF. Dentro do PSDB, certamente existe gente que explicita essa
preocupação, que nada mais é do
que exprimir o clamor das ruas.
Mas o importante é que todos
estamos juntos num ponto: é preciso acelerar as condições do crescimento econômico sem contradição com a estabilidade. Temos
de buscar cada migalha de recurso, que não poderá vir do orçamento fiscal e fazer multiplicar.
Folha - A reforma ministerial
deu margem a diferentes interpretações: ela teria fortalecido o
ministro da Fazenda, Pedro Malan, ou teria dado um tom mais
desenvolvimentista ao governo? Qual é a sua interpretação?
Carvalho - Eu acho que as duas
coisas aconteceram. A reforma do
presidente pretendeu as duas coisas. De um lado, reafirmar o nosso compromisso com a estabilidade da moeda. Ao mesmo tempo, acelerar o desenvolvimento.
Melhorar a eficácia média do governo, em resumo.
"Sou da turma do Malan, do FHC, do Luiz Carlos Mendonça de Barros, de todo mundo"
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Folha - E o sr. aposta na recuperação da popularidade do
presidente como consequência?
Carvalho - Com certeza, embora isso não seja um objetivo. Eu
não sei chutar quando. É um processo. Eu não tenho dúvida que a
reforma ministerial também pretendeu aumentar a eficácia média
na área da coordenação política, o
que deverá ajudar a aprovar a reforma tributária, a Lei de Responsabilidade Fiscal etc.
Todos saem vencedores: o Malan e a sua turma e nós, do desenvolvimento. Eu agora já estou do
lado de cá, mas, na verdade, sou
da turma do Malan, do Fernando
Henrique, do Luiz Carlos (Mendonça de Barros), de todo mundo.
Folha - Fortaleceu tanto o ministro Malan a ponto de torná-lo um possível candidato ao Planalto?
Carvalho - Claro, claro. Sem a
menor dúvida. Mas não creio que
ele queira. As condições da história não se repetem: dois ministros
da Fazenda virando presidente...
Folha - No seu discurso de
posse, o sr. insistiu na redução
do "custo Brasil". Depois da reforma tributária em análise pelo
Congresso, o governo vai investir em mudar a legislação trabalhista?
Carvalho - Já estamos trabalhando nisso, não vou entrar em
detalhes. A questão-chave do
ponto de vista político é não trabalhar com grandes blocos, focar
mais. De preferência, nada que
dependa de mudança constitucional.
Folha - Mesmo porque a base
política de três quintos de votos
no Congresso talvez não tenha
resistido à reforma ministerial...
Carvalho - Por que não? Veja: o
PPB certamente não tem motivos
para se sentir estimulado a ter posições diferentes, nem o PFL, nem
o PSDB. O PMDB muito menos.
O PMDB trocou a Justiça por Políticas Urbanas.
Do ponto de vista de instrumentos para ação direta e buscar
resultados, a secretaria é muito
mais poderosa do que boa parte
dos ministérios, que têm de plantar e esperar para colher.
Folha - Fora da necessidade de
compor politicamente com setores que apóiam o governo, os
incentivos fiscais à Ford são justificáveis?
Carvalho - Acho que sim. Não
da forma como foi idealizada,
mas da forma que ficou. Deixamos claro em várias oportunidades que não havia condições simplesmente de estender prazos do
regime automotivo do Nordeste.
A renúncia fiscal era muito extensa. O governo vetou, mas, como é do interesse do país essa desconcentração de investimentos,
vimos o que podíamos fazer para
compensar.
Numa negociação com a própria companhia, foi acertado o
que era o estritamente necessário.
Sem estímulos adicionais, essa
desconcentração não se dá.
Folha - Se o governo era contra, por que não impediu a aprovação do texto com incentivos
amplos, que acabou vetado?
Carvalho - No limite, foi um
mal-entendido. A aprovação foi
uma surpresa e, no mínimo, um
mal-entendido.
Folha - Foi uma mancada do
então presidente do BNDES, Pio
Borges, autorizar o financiamento para a Ford?
Carvalho - Ele não autorizou
nada. O pedido está em estudo
dentro do banco e deve progredir.
Em que valor, não sei. O BNDES
certamente levará em conta os
compromissos da Ford com a geração de empregos.
Folha - A quantidade de adversários políticos que o sr. acumulou na passagem pela Casa
Civil complica sua tarefa à frente do Desenvolvimento?
Carvalho - Não acho que complique. Eu atribuo esse estigma a
um círculo vicioso de pequenas
informações alimentadas por invejas, ciúmes, insatisfações. De
outro lado, pela discrição que é
exigida de um chefe da Casa Civil.
Folha - O sr. brigou com muitos ministros, até amigos seus?
Carvalho - Pode ser que tenham
brigado comigo. Eu não me lembro.
Folha - Se o sr. pudesse voltar
no tempo, faria novamente a
polêmica viagem a Fernando de
Noronha no jatinho da FAB?
Carvalho - Sem dúvida nenhuma, eu faria. Não havia nada que
impedisse, e isso era uma forma
de encarar o serviço que o GTE
(Grupo de Transporte Especial)
presta a todas as autoridades há
30 anos. Não há nada que tornasse aquilo menos nobre ou ilegítimo, fora que é absolutamente legal.
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