|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2004/INVESTIGAÇÃO
Informações constam de papéis enviados pela aduana norte-americana ao Brasil; ex-prefeito diz que documentos são "falsos"
Maluf movimentou US$ 1,8 mi em cassinos
LILIAN CHRISTOFOLETTI
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O candidato à Prefeitura de São
Paulo pelo PP, Paulo Maluf, movimentou pelo menos US$ 1,78
milhão em cassinos, segundo informou ao Brasil o US Customs
(serviço de aduana), subordinado
ao Departamento de Segurança
Interna dos Estados Unidos.
O informe faz parte de um pacote de documentos enviado pelos
EUA, que cooperam com o governo do Brasil na investigação sobre
evasão de divisas atribuída ao ex-prefeito. Ao encaminhar os papéis sobre cassinos, autoridades
norte-americanas alertaram sobre eventuais crimes de sonegação fiscal ou lavagem de dinheiro.
"Esses documentos são falsos",
declarou o ex-prefeito por meio
de sua assessoria. Questionada
sobre eventuais ganhos em cassinos terem sido declarados à Receita Federal, a assessoria disse
que o ex-prefeito não joga "na Sena nem na loteria esportiva nem
em bingo", recusando-se a responder especificamente sobre
cassinos.
O levantamento feito pela alfândega dos EUA, intitulado "Transactions for Paulo Salim Maluf",
apresenta 23 movimentações de
"compra ou resgate" de valores
em cassinos durante seis anos
não-seqüenciais -1987, 1988,
1991, 1997, 2000 e 2001.
O documento se refere apenas a
cassinos que operam nos EUA.
Os valores registrados podem
corresponder à compra de crédito
em fichas ou ao resgate de valores.
Só uma quebra de sigilo específica
para cassinos poderia detalhar
quando ele está comprando fichas e quando ele está resgatando
valores. Esse pedido de quebra de
sigilo já foi encaminhado pelo Ministério Público de São Paulo às
autoridades norte-americanas.
A compra de fichas não significa
necessariamente que o jogador
aposte o valor empenhado no cassino. Ele pode simplesmente
comprar fichas e deixar o dinheiro para créditos futuros. Esse valor poderá ser resgatado a qualquer momento no mesmo cassino ou em cassinos interligados,
em qualquer parte do mundo.
Não é a primeira vez que o nome do candidato aparece relacionado a cassinos.
Conforme noticiou a Folha, na
base de dados encaminhada pela
promotoria nova-iorquina à CPI
do Banestado, o nome de Maluf
aparece como beneficiário de um
depósito de US$ 406,5 mil no antigo MTB Bank, de Nova York, feito
no dia 10 de janeiro de 2002. Como origem do dinheiro, o banco
registrou um endereço de uma
praça de cassinos de Monte Carlo,
no principado de Mônaco.
Operações
Segundo o departamento norte-americano, a pesquisa foi realizada por meio do número do passaporte do candidato, que precisou
apresentar o documento a cada
compra ou resgate de crédito acumulado em casas de jogos.
De acordo com a relação, no
ano de 1991 concentra-se o maior
volume de jogos e de valores. Foram computadas 13 operações em
cassinos dos EUA no valor total
de US$ 1,05 milhão -um ano depois, Maluf entraria na campanha
à Prefeitura de São Paulo.
No período em que Maluf permaneceu na prefeitura, entre 1993
e 1996, não há registros de jogos.
Novas movimentações voltam a
aparecer em maio de 1997, entre
os dias 23 e 26 daquele mês. Foram US$ 135,7 mil. O período
coincide com uma viagem realizada pelo ex-prefeito aos EUA,
quando foi entrevistado por um
correspondente da Folha em Nova York. Na ocasião, o ex-prefeito
disse ter viajado para tratar de assuntos de interesse da Eucatex,
empresa da família dele.
Ano eleitoral
Outro registro existente no relatório norte-americano é do dia 19
de novembro de 2000, quando ele
teria depositado ou resgatado
US$ 31 mil em um cassino. Naquele ano, Maluf havia participado da campanha eleitoral para
prefeito. Perdeu e, no dia 9 daquele mês e daquele ano, embarcou
para os EUA para "descansar".
As últimas operações são de
2001 e somam US$ 376 mil.
Se um apostador brasileiro ganhar dinheiro em cassinos, precisa declarar o prêmio no Imposto
de Renda e pagar um tributo de
27,5% sobre o valor. O não-pagamento configura crime de sonegação fiscal.
O crime prescreve em cinco
anos -prazo em que o caso pode
ser discutido na Justiça. Portanto,
se acionado judicialmente, o ex-prefeito poderá ter de explicar
apenas as três últimas movimentações, registradas entre 2000 e
2001, que, juntas, somam US$ 407
mil. As anteriores, conforme a lei,
já estariam prescritas.
Colaborou MAURO ZAFALON, da Reportagem Local
Texto Anterior: Marta leva mais R$ 48,2 mi da União Próximo Texto: Outro lado: "Informação é falsa", diz assessor Índice
|