São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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Diretoria do Fundo faz crítica indireta a propostas de relaxamento das metas de inflação

FMI adverte candidatos a não usar inflação para país crescer

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A cúpula do FMI sugeriu ao próximo governo brasileiro que não utilize "um pouquinho mais de inflação" para estimular a economia a crescer. Numa entrevista a jornalistas brasileiros e argentinos, as mais importantes autoridades do Fundo também asseguraram que a dívida brasileira não precisa ser reestruturada e que o real vai subir após a eleição.
Participaram da entrevista o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, a vice-diretora-gerente, Anne Krueger, e o diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental, Anoop Singh. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
 

DÍVIDA

Horst Köhler - Adotando políticas corretas, a dívida brasileira não precisa ser reestruturada. É por isso que dissemos que gostaríamos de ver os principais candidatos apoiando ao menos os pontos centrais do programa. Pode até haver opiniões diferentes, mas tenho a forte convicção de que o Brasil tem o potencial para sair dessa dificuldade e crescer sem restruturação.

Anne Krueger - Não há razão para reestruturar se considerarmos as taxas de juros reais no Brasil nos últimos dez anos, a taxa média de crescimento, a relação dívida/PIB -que será de 60% no fim do ano- e a taxa de câmbio real -que, apesar de ter depreciado, não vai depreciar mais. Se ela apreciar, a relação dívida/PIB vai cair. Agora, se o crescimento [da economia" for maior, a dívida fica ainda mais sustentável. Se a taxa de juros [sobre a dívida] for mais baixa, melhor ainda. Acho que essa é uma estimativa conservadora razoável, baseada não nos números da crise de agora, mas nos números do passado.

MAIS INFLAÇÃO

Köhler - A taxa de inflação [adequada para um determinado país" não está cravada na pedra, que somente zero por cento é a abordagem certa ou que somente assim funciona. É sempre parte de uma economia dinâmica. Mas nós aprendemos suficientemente que inflação alta não é boa para os pobres porque diminui o valor de seu dinheiro. Não é boa, no fim, para os investidores porque torna difícil para eles calcular. Aprendemos que inflação baixa é boa para o crescimento sustentado. Por exemplo, o famoso chanceler alemão Helmut Schmidt produziu uma fórmula no fim dos anos 70, um pouco mais de inflação é melhor do que um pouco mais de desemprego. O resultado foi que eles tiveram mais inflação e mais desemprego na Alemanha. Não funcionou. Então, eu não acho que existam dados preestabelecidos que sejam corretos. Mas a inflação baixa e a estabilidade servem particularmente ao Brasil, que tem um elevado potencial e que, acho, tirou fortemente vantagem de investimentos estrangeiros diretos. Eles [os brasileiros] não devem pôr em perigo essa perspectiva de investimentos adicionais. É perigoso achar que teremos mais crescimento e tudo o mais relaxando a política monetária.

E SE O BRASIL QUEBRAR?

Köhler -Não daremos as costas ao Brasil, aconteça o que acontecer. Mas achamos que foi correto adotar uma postura pró-ativa. Também fomos generosos [no empréstimo de US$ 30,4 bilhões ao país" porque existe potencial, e a alternativa é terrível.

CÂMBIO

Krueger - Acho que os mercados estão reagindo a incertezas políticas, e, se o novo presidente assegurar os mercados ao ser eleito, as coisas vão reverter rapidamente para uma situação mais normal e isso, por si só, será suficiente. Como disse antes, acho que é seguro dizer que não haverá mais depreciação real [do câmbio].

MAIS ESFORÇO FISCAL

Krueger - No programa [com o Brasil], está previsto que haverá aumento na meta de superávit fiscal primário se detectarmos que houve um erro de previsão. Mas acho que há uma folga naqueles números [a meta atual].


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