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Walfrido diz que não cobrará dívida de campanha tucana
Ministro pagou R$ 511 mil devidos por caixa dois de Azeredo na eleição de 1998
Originada no valerioduto,
operação se assemelha à da dívida do PT no mensalão
nacional, só cobrada por
publicitário após escândalo
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares
Guia, pagou de seu bolso, em
2002, R$ 511 mil de uma dívida
do caixa dois da campanha de
1998 de Eduardo Azeredo
(PSDB-MG). Cinco anos depois, Walfrido nunca cobrou o
dinheiro e disse que não vai cobrar Azeredo, de quem é "muito amigo".
"Ele tem todo o tempo que
quiser para pagar." Sua assessoria ressaltou que o ministro é
"um homem muito rico" e que
dispunha de uma alta quantia
de recursos em 2002, após a
venda de uma empresa de hemoderivados.
A dívida assumida pelo ministro era cobrada de Azeredo
pelo coordenador financeiro da
sua campanha de 1998, Eduardo Mourão. A despesa não foi
lançada na prestação de contas
da campanha do tucano. Portanto, a dívida veio do caixa
dois.
A própria assessoria de Azeredo, hoje senador, admite que
o débito saiu do caixa dois, porque só foi cobrada por Mourão
em 1999, após o fechamento da
prestação de contas daquela
campanha.
A assessoria do senador ressaltou, contudo, que a responsabilidade pela contabilidade
da campanha era de Mourão, a
quem Azeredo atribui a irregularidade.
Conforme a Folha publicou
na edição de sábado, a dívida
assumida por Walfrido é o segundo caso de caixa dois da
campanha de 1998 de Azeredo
envolvendo o ministro. Walfrido também registrou em dois
manuscritos repasses de recursos do caixa dois para aliados
do tucano.
A obrigação financeira assumida por Walfrido tem origem
no valerioduto mineiro e guarda semelhanças com as dívidas
contraídas pelo PT no mensalão nacional.
Ambas surgiram nas transações ilícitas operadas pelo empresário mineiro Marcos Valério de Souza no Banco Rural e até hoje não foram pagas pelos
verdadeiros devedores.
A diferença é que, no caso do
PT, Valério decidiu cobrar a dívida diretamente do partido
após o estouro do mensalão,
enquanto Walfrido nunca pôs
o amigo tucano contra a parede. Valério diz que o PT lhe deve hoje mais de R$ 100 milhões, mas o PT não reconhece a obrigação.
Em 2002, Mourão decidiu
protestar uma dívida de R$ 700
mil contra o tucano, referente a
gastos com aluguel de carros da
campanha de 1998. Para evitar
a execução, Azeredo pediu socorro a Walfrido.
Por meio de sua empresa Samos Participações, Walfrido
tomou um empréstimo de R$
511 mil no Banco Rural. Depois,
quitou o compromisso com dinheiro de seu próprio bolso.
Assim como no mensalão nacional, Marcos Valério surge
muitas vezes nesse caso. Os R$
700 mil que Mourão cobrou de
Azeredo decorreram de um
adiantamento que Valério fez
para a campanha do tucano.
Walfrido ratificou essa versão
em depoimento prestado à Polícia Federal no começo do ano
passado.
"Que em setembro de 2005
tomou conhecimento de [que]
o adiantamento feito ao senhor
Cláudio Mourão originou-se de
recursos disponibilizados pelo
senhor Marcos Valério."
O operador dos mensalões
aparece também no pagamento da dívida feito por Walfrido.
"Que somente recentemente
soube que o cheque disponibilizado para a assessoria de
Eduardo Azeredo foi depositado numa conta de Marcos Valério", disse o ministro à PF.
Contradições
No relatório final do valerioduto mineiro, a Polícia Federal
apontou contradições nas versões apresentadas por Azeredo
e Walfrido sobre o pagamento
da dívida.
"O primeiro afirma que as
negociações com o Banco Rural
[...] ficaram a cargo do próprio
ministro. O segundo declara,
entretanto, que os valores teriam sido disponibilizados por
João Heraldo, diretor do Banco
Rural à época da concessão do
mútuo e ex-secretário do governo de Eduardo Azeredo nos
anos de 1994 a 1998."
Caixa dois é crime. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, deve
apresentar em breve ao STF
(Supremo Tribunal Federal) a
denúncia do valerioduto mineiro, que é o pedido de abertura de ação penal.
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