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MPs trancam 82% das sessões do Senado
De 84 sessões deliberativas da atual legislatura, 69 estiveram travadas, maior índice desde que Lula chegou à Presidência
Pela Constituição, as MPs travam votações na Casa porque ganham prioridade na pauta caso não sejam analisadas em até 45 dias
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
O resumo do ano no Senado
não é dos mais animadores para o Palácio do Planalto. Quando a CPMF chegar por lá, os governistas deverão encontrar
uma pauta trancada, o que pode obrigá-los a abrir mão de
medidas provisórias, como
aconteceu na Câmara.
Levantamento feito pela Folha mostra que, até o dia 13 de
setembro, de 84 sessões deliberativas da atual legislatura do
Senado, 69 estiveram trancadas por MPs (82,14%). Na opinião de cientistas políticos, isso
ocorreu em um ano marcado
por dificuldade em votações e
ausência de aprovações importantes no plenário. Por esse
motivo, complementam os especialistas, a prorrogação da
CPMF no Senado torna-se o
maior embate político do segundo governo Lula até aqui.
As MPs normalmente travam as votações do Senado porque, pela Constituição, ganham
prioridade na pauta caso não
sejam analisadas em 45 dias,
prazo que é esgotado quase
sempre na Câmara, por onde as
MPs começam a tramitar.
O percentual de sessões trancadas no Senado é o maior desde que Lula chegou à presidência, em 2003. De acordo com
dados do relatório da Presidência do Senado- documento
que mostra a atividade da Casa
a cada ano-, em 2006, 56,6%
das sessões deliberativas foram
"sobrestadas por medidas provisórias", enquanto, em 2005,
foram 52,8%. Em 2004, o percentual chegou a 39,4% e, no
ano anterior, a 35,8%.
Para aprovar uma emenda
constitucional -como no caso
da CPMF-, são necessárias votações em dois turnos na Câmara e no Senado, com aprovação mínima de três quintos das
duas Casas.
"Na Câmara, a oposição conta com pouco mais de cem deputados. Por outro lado, a
maioria governista no Senado é
muito menos confortável e está
perdendo eficiência com a sucessão de escândalos e a má
condução de crises. Por isso, a
votação da CPMF encontrará
dificuldades", diz o doutor em
ciência política pelo Iuperj José Luciano de Mattos Dias, que
acompanha o Legislativo na
consultoria CAC.
Ele acredita que "o presidencialismo de coalizão está em
crise" porque "barganhas políticas", como indicações para
cargos e liberação de emendas
parlamentares, estão ficando
cada vez mais "caras". "A pauta
travada mostra a eficácia declinante desse sistema."
Segundo dados do site do
Planalto atualizados na última
sexta-feira, em 2006, foram 67
MPs enviadas e 61 convertidas
em lei (algumas apenas em
2007). Em 2005, foram 42 enviadas e 34 convertidas (algumas em 2006). Já em 2003, 57
das 58 MPs enviadas foram
convertidas no mesmo ano ou
no começo de 2004.
Este ano, foram 52 MPs enviadas ao Congresso, das quais
30 foram convertidas em leis
ordinárias- votação por maioria simples e em um turno nas
duas casas. Na semana passada,
três MPs foram revogadas para
destravar a pauta na Câmara
dos Deputados, o que permitiu
ao governo votar a CPMF.
O cientista político Cristiano
Noronha, que faz acompanhamento legislativo na Arko Advise, afirma que "a quantidade de
leis ordinárias aprovadas este
ano mostra que, apesar das crises, houve produção legislativa". Porém, ele ressalta: "O problema é que as leis são basicamente abertura de créditos extraordinários. São leis meramente burocráticas".
Colaborou a Sucursal de Brasília
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