|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo retoma a distribuição de cestas básicas a sem-terra
A menos de duas semanas da eleição, movimentos temem que benefício se torne moeda de troca política; alimentos chegam após vários meses de atraso
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Incra (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma
Agrária) retomou a distribuição de cestas básicas a famílias
de acampamentos de sem-terra, a menos de duas semanas
das eleições. A iniciativa provocou críticas de lideranças de
movimentos, que temem que o
benefício se transforme em
moeda de troca política.
Em Minas Gerais, as cestas
não eram distribuídas desde fevereiro. Elas são fornecidas pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, dentro do programa Fome
Zero. Segundo o ministério, 216
mil famílias que estão acampadas à espera da reforma agrária
receberão o auxílio.
Em Minas, Piauí, Ceará, Paraíba, Maranhão, Bahia e Alagoas, as lideranças regionais
dos movimentos de sem-terra e
os sindicatos rurais informaram que a distribuição começou há duas semanas, depois de
vários meses de espera por parte dos acampados. No Paraná,
os alimentos começaram a chegar aos acampamentos na semana passada.
A distribuição não é feita de
modo uniforme entre os Estados. Os acampamentos de Minas Gerais estão recebendo
duas cestas por família, cada
uma com 22 kg de alimentos. Já
no Piauí e no Pará, cada família
recebe uma cesta.
O programa de ajuda alimentícia prevê cinco cestas ao ano,
por família, mas não há um cronograma definido para as entregas. No Piauí e no sul do Pará, a última distribuição tinha
sido feita há quatro meses. No
Ceará, há três meses.
Eleição
A doação às vésperas das eleições municipais é criticada por
lideranças regionais do MST e
por dirigentes de federações
dos trabalhadores na agricultura. "Seria mais correto distribuir os alimentos depois da
eleição, porque, de certa forma,
a ajuda traz dividendos políticos", afirma Moisés Ricardo,
presidente da Fetraece (Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Ceará).
"Há três meses não chegavam cestas de alimentos às
2.500 famílias dos acampamentos de sem-terra do Ceará.
Por que só chegam agora? Será
que a distribuição vai continuar
depois da eleição?", indaga
Francisco Antônio Pereira,
membro da executiva do MST
no Estado.
Em alguns Estados, o Incra
permite que os próprios representantes dos sem-terra retirem os alimentos dos armazéns
da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Como
há, entre os cadastrados para
retirar alimentos, líderes de
acampamentos candidatos a
vereador, o receio de que as cestas sejam usadas como munição eleitoral acendeu o alerta
também nas superintendências regionais do Incra.
O superintendente em Minas
Gerais, Adelmo Leão, enviou
funcionários a Uberlândia e a
Montes Claros -onde estão os
dois pontos de distribuição da
Conab- para acompanhar a retirada dos alimentos dos armazéns pelas lideranças dos acampamentos. Também para verificar se o número de famílias
acampadas bate com os dados
que foram fornecidos pelos
movimentos de sem-terra.
"Tomei uma medida preventiva", afirmou Adelmo Leão.
Segundo a Folha apurou, ele
foi alertado da existência de
candidatos a vereador entre os
autorizados a retirar as cestas
básicas na Conab.
A superintendência regional
do Incra em Marabá, no sul do
Pará, decidiu entregar as cestas
nos acampamentos em vez de
delegar a tarefa aos representantes dos acampamentos. A
distribuição deve começar na
próxima semana, segundo funcionários do órgão.
Sabedores de que os alimentos já se encontram nos armazéns da Conab, em Marabá, os
sem-terra têm bloqueado rodovias estaduais pressionando
para que sua distribuição seja
iniciada logo.
A superintendência na Bahia
comunicou ao TRE e ao Ministério Público Federal a ocorrência das doações antes de começar a distribuir as cestas, há
duas semanas. "Nos sentiríamos mais confortáveis se a distribuição acontecesse após a
eleição", disse o superintendente adjunto, Marcos Antônio
da Silva. Ele disse que concordou em começar a entrega antes da eleição porque os alimentos são perecíveis e poderiam se deteriorar.
Texto Anterior: Outro lado: Costa diz estar tranqüilo e nega favorecimento Próximo Texto: O programa Índice
|