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CELSO PINTO
Faltam US$ 35 bilhões
O Brasil precisa de US$ 19,7
bilhões neste último trimestre
para fechar suas contas. Pode
contar com uns US$ 10 bilhões
entre dinheiro da privatização
e financiamentos vinculados à
importação. Os outros US$ 10
bilhões teriam que vir em empréstimos, ou haveria maiores
perdas de reservas.
Para o ano que vem, o Brasil
precisará US$ 57 bilhões. Mesmo supondo que entrarão US$
17 bilhões em investimentos diretos e US$ 15 bilhões para financiar importações, seriam
precisos mais US$ 25 bilhões
em empréstimos para fechar as
contas.
Hoje é impossível conseguir
qualquer empréstimo voluntário no mercado e é difícil prever quando (ou se) o mercado
será reaberto para o Brasil e os
países emergentes. A única alternativa para cobrir a necessidade de US$ 35 bilhões até o
final de 99 seria o Brasil assegurar pelo menos uns US$ 30
bilhões de fontes oficiais, supondo que algo virá do setor
privado.
Os cálculos são de José Júlio
Senna, ex-diretor do Banco
Central e hoje diretor do banco
Fleming Graphus. Estão numa
análise recém-concluída pelo
banco sobre o Brasil.
Olhando os números, dá para
entender a importância de um
pacote de apoio ao Brasil formado por recursos do FMI,
bancos multilaterais e de países do G-7. Senna não diz, mas
se sabe que o pacote que está
sendo discutido entre o Brasil e
o FMI é de US$ 25 bilhões, dos
quais US$ 16 bilhões com recursos do Fundo.
Nos cálculos de Senna está
suposto que o déficit externo
em conta corrente ficará em
US$ 11,5 bilhões entre outubro
e dezembro, elevando o total,
no ano, para US$ 31,5 bilhões.
Além disso, será preciso honrar
amortizações de US$ 8,2 bilhões.
Para 99, Senna prevê uma redução do déficit em conta corrente para US$ 28 bilhões, graças à contenção de importações, pela retração na economia e por ação do governo.
Além disso, haveria US$ 29 bilhões em amortizações vencendo, o que eleva o total necessário para US$ 57 bilhões.
O pacote externo seria um
apoio importante, mas todo o
modelo econômico teria que
passar por uma ampla reformulação. Seria preciso um
ajuste fiscal equivalente a, no
mínimo, 3% do PIB (ou mais
de US$ 20 bilhões). E uma flexibilização do câmbio.
Senna admite que é impossível mexer no câmbio agora,
mas acha imprescindível fazê-lo no futuro próximo. Sua
sugestão é uma banda larga de
flutuação, cujo piso embutisse
uma desvalorização razoável
do real.
O Brasil não é a Rússia, mas
se tornou vulnerável a um ataque especulativo por várias razões. Abusou da rigidez cambial, ficou "excessivamente dependente de recursos externos"
e adotou uma "política macroeconômica interna insustentável a longo prazo: déficit
público elevado e recorrentes
aumentos dos juros".
O maior componente do déficit público é o custo dos juros. E
a razão para o salto nos juros,
diz Senna, inequivocamente
está ligada à necessidade de
atrair dólares para cobrir o buraco das contas externas. Isso
determina um piso interno para os juros que é a paridade
entre os juros pagos pelo Brasil,
aqui e no exterior, mais a expectativa de desvalorização.
Desde maio, argumenta Senna, o governo deixou de respeitar essa paridade, baixando
mais rapidamente os juros internos para aliviar sua pressão
sobre o déficit. E desde maio,
por esta razão, o Brasil perdeu
reservas sem parar.
Primeiro, saíram investidores
externos em renda fixa no Brasil, mas a redução do diferencial também afetou o fechamento de câmbio comercial. O
exportador fechava logo o
câmbio para ganhar um extra
com os juros internos e o importador adiava a remessa pela
mesma razão.
Quando o diferencial caiu, o
saldo no câmbio comercial (de
US$ 1,3 bilhão em julho) se
transformou em déficit (de US$
26 milhões em agosto e US$ 863
milhões até 22 de setembro).
Além do desestímulo dos juros,
a crise acabou também fazendo desaparecer algumas linhas
de crédito comerciais.
Só que manter este diferencial positivo de juros eternamente inviabiliza o ajuste do
déficit fiscal. Só há solução,
portanto, com redução de juros
e isso exigiria um ajuste fiscal,
mas, também, um ajuste cambial em alguns meses.
BC vende
Na coluna de terça-feira ("O
custo das crises"), por um lapso, ao descrever as operações
do BC no mercado futuro, a
coluna falou em compras de
dólares futuros e não de venda,
como seria, obviamente, correto. Aos três leitores que notaram e alertaram, obrigado.
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