São Paulo, Domingo, 24 de Outubro de 1999
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OUTRO LADO
Oficiais negam favorecimento

da Reportagem Local

O capitão Cláudio Borges e o suboficial Peter Gama, da Dumont, negam ter feito tráfico de influência e atribuem a denúncia a uma empresa concorrente.
Os dois visitaram a Redação da Folha na última quarta-feira para falar sobre o caso, mas ressaltaram que não estavam como militares. A entrevista foi gravada, a pedido dos empresários.
Abreu Neto disse que não daria entrevista, mas depois avisou que seus sócios falariam em seu nome. Giovanelli não foi localizado pela Folha.
""Muitas pessoas costumam dizer que o sucesso da Dumont é baseado no fato de algumas das pessoas que trabalham lá serem militares. Isso é uma inverdade. Ninguém cresce como nós crescemos por tráfico de influência. Nós temos competência técnica", afirma Borges.
""Além disso, nenhuma das nossas concorrentes está habilitada a fazer helipontos porque não são empresas de engenharia. São apenas empresas de consultoria", diz Peter.
Borges afirma que os donos da Dumont não se apresentam aos clientes como militares, ao contrário do que fariam seus concorrentes. ""Nós nos apresentamos como engenheiros."
O capitão reconhece que sua empresa é a única que tem militares da ativa entre os donos, mas afirma que não é possível a aprovação de um projeto irregular. ""É impossível um projeto defeituoso passar sem ser detectado", afirma Borges.
Ele explica que cada projeto é enviado a três órgãos diferentes do Comar, que analisam questões de engenharia e de segurança de vôo. Depois, o relatório vai para o Rio de Janeiro, onde o projeto é analisado outra vez por órgãos de âmbito nacional.
Os dois dizem que o tempo de tramitação dos projetos da Dumont não é substancialmente menor do que o das outras empresas. Borges estima em cerca de 8% a redução.
""Isso acontece porque nossos projetos são bem feitos e porque nós temos um esquema de acompanhamento" que, segundo ele, permitiria correções mais rápidas de eventuais erros.
Borges, em princípio, negou que tenha feito obras para a Aeronáutica. ""Não prestamos serviço para a Aeronáutica. Prestamos um serviço para a Infraero, mas foi só para colocar a Infraero no currículo. Foi o desenho de sinalização de um pátio."
Mas, em seguida, admitiu ter ganho uma licitação para ""uma reforma elétrica nos prédios do Campo de Marte".
Ele afirma não ver problemas éticos no fato de ele e os sócios terem feito projetos de helipontos na Dumont e, ao mesmo tempo, julgarem esses mesmos processos na Aeronáutica.
""Eu tenho consciência tranquila de que não há privilégios. Eu não aprovo projetos. Faço bons projetos e bons projetos são aprovados", afirma.
Borges e Peter criticaram a forma como a Aeronáutica conduz a investigação sobre os sócios da Dumont. Eles acusam o 4º Comar de impedir sua defesa.
""Na sindicância, não foi formalizada nenhuma denúncia. Fomos chamados só para sermos ouvidos. Prestamos depoimento na boa-fé. Saí da sindicância, protocolei um documento pedindo cópia autenticada de toda a documentação, no dia 15 de julho. Não me deram nem uma folha que pudesse levar para o meu advogado", relata o capitão.
Ele ataca também as prisões. Diz que nenhuma atitude poderia ser tomada antes do término do IPM. Por isso os militares vão entrar com um mandado de segurança, para que as punições sejam canceladas. Os militares querem ter acesso aos documentos do inquérito.
Eles acusam a Aeronáutica de dar ouvidos a denúncias sem fundamento. ""Na Aeronáutica, uma denúncia vazia, que num local sério você joga na lata do lixo, recebe a tarja de "informe"."

Crescimento
A empresa foi fundada em 93, com o nome Dumont Representações, Comércio e Consultoria Aeroportuária Ltda. Na época, resumia-se a uma sala em um edifício comercial na avenida Lins de Vasconcelos.
"Crescemos rápido. Em seis meses, tínhamos três salas. Em um ano e meio, eram cinco", lembra Borges.
Em 98, já com a atual razão social, a Dumont transferiu-se para uma casa, na rua Senador Teixeira de Carvalho. Os dois endereços são próximos da sede do 4º Comar. (RC e MD)


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