São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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SÃO PAULO

Depois de ficar fora do segundo turno, ex-prefeito culpa a urna eletrônica e "onda vermelha" por fracasso na disputa

Maluf diz que foi vítima da 'maquininha'

DA REPORTAGEM LOCAL

Candidato derrotado ao governo de São Paulo -perdeu a vaga no segundo turno na reta final para José Genoino (PT)-, Paulo Maluf diz que a responsável pelo seu fracasso foi "a maquininha".
A "maquininha" (a urna eletrônica), mais uma "onda vermelha" que teria "varrido" a eleição, fizeram, segundo afirma na primeira entrevista após o primeiro turno, com que ficasse de fora da disputa com Geraldo Alckmin (PSDB).
Mas, como era de se esperar, ele garante que não abandona a "vida pública". (LUIZ CAVERSAN)

Folha - O que aconteceu com o sr. no primeiro turno?
Paulo Maluf -
O Datafolha do dia 4 de outubro deu Maluf com 27% e Genoino com 24%. Estava na margem de erro, porque o Ibope também deu 28% para Genoino e 27% para Maluf. O Vox Populi, Maluf, 27%, Genoino, 20%.
Uma média das três pesquisas daria um segundo turno entre Maluf e Alckmin. O que aconteceu? É um pouco difícil presumir, mas o Mauro Paulino, do Datafolha, analisou dizendo que começaram a votar no 13.
Então [o eleitor" começou, por exemplo, 1309 para federal, 13112 para estadual, aí, depois, 131, [Aloizio" Mercadante para o Senado, e, como já ia votar em Lula, no meio, no sanduíche, colocou o 13 também. O que aconteceu no Brasil foi uma onda vermelha facilitada pela maquininha. Começou com 13, terminou com 13.

Folha - O sr. acha que o eleitor teve dificuldade com os números?
Maluf -
Não. As pesquisas também indicavam que 65% dos eleitores queriam votar antigoverno.

Folha - O "fator Pitta" não seria também responsável pela derrota?
Maluf -
Não, estou falando do campo [das pesquisas] do dia da eleição, não de dois anos antes. Se pegar o campo de seis meses, três meses [atrás], eu sempre estive em primeiro lugar na pesquisa.

Folha - Ou seja, o sr. não acredita que tenha havido uma resposta negativa do eleitorado ao sr.?
Maluf -
Ao contrário, como poderia haver resposta negativa se eu cheguei a ter 43 pontos percentuais do Datafolha?

Folha - Naquele tempo, o Genoino tinha menos de 10% das intenções de votos, e suas trajetórias foram completamente inversas...
Maluf -
O Lula chegou a ter 27%, chegou a estar em empate técnico com o Ciro Gomes. Na verdade, todo mundo fala em mudança, até o José Serra fala em mudança.
E o PT caracterizou, aos olhos da população, que ele representa o anti-FHC. Essa eleição representou um voto médio de protesto contra a política do FHC.

Folha - A votação em Alckmin desmente esse seu raciocínio.
Maluf -
Não. Porque o Alckmin repete uma inverdade, a cada cacoete ele diz: "Estou há um ano e meio". Ele se enervou quando eu perguntei: "Por que o sr. esconde que foi durante seis anos presidente da comissão de desestatização?" Quem teve poder para vender todo o patrimônio, governou.

Folha - O sr. está falando de um voto anti-FHC e temos a votação expressiva do Alckmin, que está dn segundo turno com chances de ganhar. As duas coisas não batem.
Maluf -
Batem sim, porque ele diz que está há um ano e meio e diz: "Peço mais uma chance para fazer um governo com a minha marca". Como se a marca do [Mario" Covas não fosse dele.

Folha - Essa onda vermelha à qual o o sr. se refere não representa um golpe definitivo no malufismo?
Maluf -
Não existe isso. Quantas eleições o Lula disputou e quantas ele ganhou? Foram três para presidente e uma para governador, ele nunca conseguiu ganhar uma eleição para o Executivo e vai ser presidente da República. Dizer se alguém está fora ou dentro da vida pública é simplista. Ninguém está invencível e ninguém está eternamente derrotado.

Folha - Seu apoio ao Genoino vai contra um posicionamento histórico seu anti-PT e também contrariou interesses no seu partido, vide o desligamento do candidato ao Senado, Cunha Bueno.
Maluf -
Nós estamos no segundo turno, no qual você tem três coisas a fazer: votar num candidato, no outro ou anula o voto. O que eu fiz de maneira democrática?
Consultei durante duas semanas todos os companheiros. Nós combatemos a continuação da violência, a continuação do desemprego, a farra dos pedágios, a progressão continuada. No programa do PT, eu achei isso.

Folha - E o eleitor, que a vida inteira ouviu o sr. batendo pesado no PT, e agora o sr. recomenda o voto?
Maluf -
Eu não estou votando no PT, estou votando contra o Alckmin. Quanto ao Cunha Bueno, o ponto de vista dele é diverso. Ele tem, da minha parte, toda a liberdade de divergir de mim. E não estou triste com isso, não.

Folha - Existiu a possibilidade de compor para apoiar o Alckmin?
Maluf -
Não, não tem nada disso.

Folha - O sr. acha que o Genoino tem chances de ser eleito?
Maluf -
Sim. Como no primeiro turno votaram 13, pode dar outra surpresa.

Folha - E sua vida pública, continua?
Maluf -
A vida pública é uma vocação. Não quero dizer que tenho planos futuros para ser candidato a alguma coisa...

Folha - Mas tem.
Maluf -
Eu acredito que tenho um currículo que poucas pessoas têm neste país.

Folha - O que o sr. poderia fazer, senão participar de eleições?
Maluf -
Posso presidir um instituo de altos estudos para dar conselhos a diversas soluções econômicas, participar de um instituto sobre casa popular. Acho que eu sou um homem útil, tenho sempre uma boa palavra, uma boa solução, pela minha experiência.

Folha - O sr. se candidatará novamente a prefeito de São Paulo?
Maluf -
Não é uma decisão que eu tomo hoje. Nem sim, nem não.


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