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SÃO PAULO
Depois de ficar fora do segundo turno, ex-prefeito culpa a urna eletrônica e "onda vermelha" por fracasso na disputa
Maluf diz que foi vítima da 'maquininha'
DA REPORTAGEM LOCAL
Candidato derrotado ao governo de São Paulo -perdeu a vaga
no segundo turno na reta final para José Genoino (PT)-, Paulo
Maluf diz que a responsável pelo
seu fracasso foi "a maquininha".
A "maquininha" (a urna eletrônica), mais uma "onda vermelha"
que teria "varrido" a eleição, fizeram, segundo afirma na primeira
entrevista após o primeiro turno,
com que ficasse de fora da disputa
com Geraldo Alckmin (PSDB).
Mas, como era de se esperar, ele
garante que não abandona a "vida
pública".
(LUIZ CAVERSAN)
Folha - O que aconteceu com o sr.
no primeiro turno?
Paulo Maluf - O Datafolha do dia
4 de outubro deu Maluf com 27%
e Genoino com 24%. Estava na
margem de erro, porque o Ibope
também deu 28% para Genoino e
27% para Maluf. O Vox Populi,
Maluf, 27%, Genoino, 20%.
Uma média das três pesquisas
daria um segundo turno entre
Maluf e Alckmin. O que aconteceu? É um pouco difícil presumir,
mas o Mauro Paulino, do Datafolha, analisou dizendo que começaram a votar no 13.
Então [o eleitor" começou, por
exemplo, 1309 para federal, 13112
para estadual, aí, depois, 131,
[Aloizio" Mercadante para o Senado, e, como já ia votar em Lula,
no meio, no sanduíche, colocou o
13 também. O que aconteceu no
Brasil foi uma onda vermelha facilitada pela maquininha. Começou com 13, terminou com 13.
Folha - O sr. acha que o eleitor teve dificuldade com os números?
Maluf - Não. As pesquisas também indicavam que 65% dos eleitores queriam votar antigoverno.
Folha - O "fator Pitta" não seria
também responsável pela derrota?
Maluf - Não, estou falando do
campo [das pesquisas] do dia da
eleição, não de dois anos antes. Se
pegar o campo de seis meses, três
meses [atrás], eu sempre estive
em primeiro lugar na pesquisa.
Folha - Ou seja, o sr. não acredita
que tenha havido uma resposta negativa do eleitorado ao sr.?
Maluf - Ao contrário, como poderia haver resposta negativa se
eu cheguei a ter 43 pontos percentuais do Datafolha?
Folha - Naquele tempo, o Genoino tinha menos de 10% das intenções de votos, e suas trajetórias foram completamente inversas...
Maluf - O Lula chegou a ter 27%,
chegou a estar em empate técnico
com o Ciro Gomes. Na verdade,
todo mundo fala em mudança,
até o José Serra fala em mudança.
E o PT caracterizou, aos olhos
da população, que ele representa
o anti-FHC. Essa eleição representou um voto médio de protesto contra a política do FHC.
Folha - A votação em Alckmin
desmente esse seu raciocínio.
Maluf - Não. Porque o Alckmin
repete uma inverdade, a cada cacoete ele diz: "Estou há um ano e
meio". Ele se enervou quando eu
perguntei: "Por que o sr. esconde
que foi durante seis anos presidente da comissão de desestatização?" Quem teve poder para vender todo o patrimônio, governou.
Folha - O sr. está falando de um
voto anti-FHC e temos a votação
expressiva do Alckmin, que está dn
segundo turno com chances de ganhar. As duas coisas não batem.
Maluf - Batem sim, porque ele
diz que está há um ano e meio e
diz: "Peço mais uma chance para
fazer um governo com a minha
marca". Como se a marca do
[Mario" Covas não fosse dele.
Folha - Essa onda vermelha à qual
o o sr. se refere não representa um
golpe definitivo no malufismo?
Maluf - Não existe isso. Quantas
eleições o Lula disputou e quantas
ele ganhou? Foram três para presidente e uma para governador,
ele nunca conseguiu ganhar uma
eleição para o Executivo e vai ser
presidente da República. Dizer se
alguém está fora ou dentro da vida pública é simplista. Ninguém
está invencível e ninguém está
eternamente derrotado.
Folha - Seu apoio ao Genoino vai
contra um posicionamento histórico seu anti-PT e também contrariou interesses no seu partido, vide
o desligamento do candidato ao Senado, Cunha Bueno.
Maluf - Nós estamos no segundo
turno, no qual você tem três coisas a fazer: votar num candidato,
no outro ou anula o voto. O que
eu fiz de maneira democrática?
Consultei durante duas semanas todos os companheiros. Nós
combatemos a continuação da
violência, a continuação do desemprego, a farra dos pedágios, a
progressão continuada. No programa do PT, eu achei isso.
Folha - E o eleitor, que a vida inteira ouviu o sr. batendo pesado no
PT, e agora o sr. recomenda o voto?
Maluf - Eu não estou votando no
PT, estou votando contra o Alckmin. Quanto ao Cunha Bueno, o
ponto de vista dele é diverso. Ele
tem, da minha parte, toda a liberdade de divergir de mim. E não
estou triste com isso, não.
Folha - Existiu a possibilidade de
compor para apoiar o Alckmin?
Maluf - Não, não tem nada disso.
Folha - O sr. acha que o Genoino
tem chances de ser eleito?
Maluf - Sim. Como no primeiro
turno votaram 13, pode dar outra
surpresa.
Folha - E sua vida pública, continua?
Maluf - A vida pública é uma vocação. Não quero dizer que tenho
planos futuros para ser candidato
a alguma coisa...
Folha - Mas tem.
Maluf - Eu acredito que tenho
um currículo que poucas pessoas
têm neste país.
Folha - O que o sr. poderia fazer,
senão participar de eleições?
Maluf - Posso presidir um instituo de altos estudos para dar conselhos a diversas soluções econômicas, participar de um instituto
sobre casa popular. Acho que eu
sou um homem útil, tenho sempre uma boa palavra, uma boa solução, pela minha experiência.
Folha - O sr. se candidatará novamente a prefeito de São Paulo?
Maluf - Não é uma decisão que
eu tomo hoje. Nem sim, nem não.
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