São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Vedoin quis vender dossiê contra Mercadante, diz Abel

Empresário ligado a ex-ministro tucano diz que não avisou PSDB de denúncia

Senador petista afirma que nunca propôs emenda que favorecesse sanguessugas; advogado de Vedoin nega existência do suposto dossiê

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

O empresário Abel Pereira, ligado ao prefeito de Piracicaba (SP) e ex-ministro da Saúde no governo FHC, Barjas Negri (PSDB), afirmou ontem à Polícia Federal que Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, pediu a ele no início de agosto que levasse à "cúpula do PSDB" um dossiê contra o senador Aloizio Mercadante (PT), então candidato a governador de São Paulo.
Vedoin "não se referiu naquele momento a valores", disse Abel. Há contradições entre o que ele disse em parte do depoimento e à imprensa. Abel Pereira foi acusado formalmente na Justiça por Luiz Antonio Vedoin, em 14 de setembro, de cobrar propina para liberar verbas destinadas aos sanguessugas na gestão de Barjas, em 2002. No mesmo dia, Vedoin deu entrevista à revista "IstoÉ" e negociou dossiê contra tucanos.
À PF Abel disse que se encontrou com Vedoin em agosto no shopping Iguatemi, em São Paulo. Na conversa, Vedoin teria dito possuir documentos que comprovariam interferência de Mercadante para liberar verbas na Saúde. Vedoin teria solicitado que Abel procurasse também Barjas Negri.
No depoimento, Abel disse ter respondido a Vedoin que não tinha motivos para se envolver com a questão. Afirmou ainda não ter procurado a direção do PSDB nem Barjas. Abel afirmou que em 24 de agosto foi a Cuiabá, onde teria recebido telefonema de Vedoin marcando novo encontro.
Questionado por jornalistas, após o depoimento à PF, se deixara em aberto na conversa em São Paulo a negociação do dossiê, Abel se irritou. "Deixei [em aberto], pronto. Satisfeito?" O empresário afirmou que, no encontro em Cuiabá, os Vedoin tentaram filmar a conversa, e por isso marcou-se um encontro num restaurante. Ao local foi só o empresário Ronildo Medeiros, parceiro dos Vedoin.
Por isso, disse Abel, não houve conversa. Ele disse que só "voltou a ouvir falar de Vedoins" após a publicação da reportagem na "IstoÉ". Já à imprensa Abel disse que um dia antes da publicação da revista, tentou falar por telefone com Vedoin e deixou recado.
"[Telefonei] porque eu tinha conhecimento de que eles estavam fazendo acusações contra minha pessoa em uma revista." Em nota, Mercadante classificou o depoimento de "factóide". Segundo ele, o empresário Abel Pereira tinha por objetivo "desviar a atenção das investigações sobre o esquema sanguessuga, comprovadamente gestado na administração federal do governo anterior".
Defendendo-se das acusações de envolvimento no esquema de superfaturamento de ambulâncias, o senador petista afirmou que nunca propôs emenda que favorecesse a máfia. "[Isso] pode ser facilmente comprovado em consulta ao Orçamento (Siafi) e ao Ministério da Saúde, ou ainda, à CPI dos Sanguessuga e Corregedoria Geral da União, que investigaram exaustivamente essa questão", declara.
"Ou Abel estava tentando negociar o silêncio devido a seu esquema no governo anterior ou foi uma armadilha para alguns petistas [tentarem comprar o dossiê contra tucanos], o que levou Lula ao segundo turno e prejudicou minha candidatura", completou.
A afirmação de Abel de que se encontrou por três vezes com Vedoin para falar sobre o suposto dossiê prova, diz Mercadante, que o empresário "estava buscando informação para prejudicar minha candidatura ao governo de São Paulo." O advogado de Luiz Antonio Vedoin, Eloi Refatti, afirmou que não existe dossiê contra o petista. "Não existe nada contra o Mercadante. [Vedoin] não tentou vender nada contra ele. Digo com toda a certeza."


Colaborou a FOLHA ONLINE


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