São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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RUMO A 2002
Cúpula petista pretende esvaziar discussão sobre disputa presidencial, que ganhou ares de conflito dentro do partido
PT não quer que Lula fale se é candidato

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAYMUNDO COSTA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

A direção do PT vai pedir que Luiz Inácio Lula da Silva desista de anunciar em março se disputará ou não a Presidência da República pela quarta vez.
No próximo encontro do Diretório Nacional, em 2 e 3 de dezembro, o "Campo Majoritário" (reunião das principais tendências moderadas que hoje controlam o partido com folgada maioria) apresentará o pedido de adiamento e irá defender que o anúncio da candidatura presidencial petista deva ocorrer até o fim de 2001 ou começo de 2002.
Por intermédio da assessoria, Lula disse que não foi avisado do pedido de adiamento de sua decisão e que não participará da reunião do Diretório Nacional. Ele estará em viagem a Cuba.

Ausência
Mesmo sem a presença de Lula, um dos efeitos do movimento da cúpula do PT será esvaziar a discussão sobre a eleição de 2002, que ganhou ares de conflito depois que o senador Eduardo Suplicy (SP), que deseja disputar a Presidência, recomendou a Lula que desistisse de disputar.
A afirmação de Suplicy que desencadeou o descontentamento da cúpula com ele foi: "A população considerará um gesto de grande generosidade a decisão dele de não ser candidato e de ajudar o partido a eleger o presidente do Brasil".
Os dirigentes petistas avaliam também que nada ganham definindo logo se Lula será ou não candidato ou revelando quem seria seu eventual substituto.
"Não há nenhuma razão para o Lula decidir em março. O PT não está cobrando isso dele e acha que não é o momento de discutir sucessão.
E também não é nada para prejudicar o Suplicy, que tem o direito de fazer seus pleitos", afirmou o deputado federal João Paulo Cunha (SP), articulador do documento que será apresentado na reunião da direção.

Avaliação
Na avaliação da cúpula petista, segundo João Paulo, membro da Executiva Nacional, não se deve discutir sucessão presidencial neste momento por três motivos.
O partido tiraria energia da articulação para o início do trabalho dos 181 prefeitos eleitos em outubro. A crise na base governista poderia mudar o destino das três grandes siglas (PMDB, PSDB e PFL) na sucessão de 2002. E a economia americana poderia gerar turbulência internacional a ponto de comprometer a esperada melhora da economia brasileira nos próximos dois anos.
"A lua-de-mel será curta e o eleitor cobrará logo resultados do PT. É melhor pensarmos em governar bem agora, vermos como os partidos governistas se articularão antes de definir nossa estratégia e aguardar o desenrolar da economia", disse João Paulo.

Suplicy
Os caciques petistas não admitem, mas, na prática, quanto mais se adiar a definição do candidato, mais crescerá a chance de Lula ser o postulante.
Foi assim em 98, quando o adiamento da candidatura inviabilizou um nome alternativo ao de Lula. O partido temia ficar atrás de Ciro Gomes (PPS) com outro petista.
O presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP), e Lula, presidente de honra da sigla, discutiram ontem em São Paulo o enquadramento de Suplicy. Estava prevista para acontecer até hoje uma conversa entre Dirceu e o senador.
Contribuiu para aumentar o mal-estar na cúpula o apoio de Marta Suplicy, prefeita eleita de São Paulo e mulher do senador, para a proposta de discutir agora a sucessão.
Marta disse que esse debate não prejudicava a formação de seu governo, em resposta à preocupação da cúpula petista nesse sentido.


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