São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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CONGRESSO
Disputa no Senado aumenta troca de acusações entre Jader e ACM; acordo PMDB-PSDB amplia tensão entre aliados
Sucessão acirra disputa entre senadores

RAQUEL ULHÔA
ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do PMDB, senador Jader Barbalho (PA), comparou o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ao "demônio" e a "Satanás". ACM disse que Jader não seria eleito seu sucessor porque a "corrupção não triunfará no Senado".
"O conceito, para mim, vale para as pessoas que conceituam. Eu não vou acreditar em demônio pregando o Evangelho. Eu jamais iria a uma igreja ouvir sermão feito por Satanás", disse Jader.
A briga dos caciques deu o tom da confusão geral em que se transformou, entre os aliados do governo, a sucessão das Mesas da Câmara e do Senado.
O líder do PSDB na Câmara, Aécio Neves (MG), acusou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), de submeter a Câmara ao Executivo. Era uma referência às tentativas do pefelista de conseguir o apoio público do presidente Fernando Henrique Cardoso à sua candidatura.
Aécio atribuiu a inexistência de um acordo para a eleição nas duas Casas à vontade imperial de "lideranças" do PFL, numa referência velada a ACM.
Inocêncio respondeu: "A candidatura dele (Aécio) é da parte de um partido, fruto de uma briga no Senado".
A tensão entre os aliados aumentou com o anúncio do acordo entre as cúpulas do PSDB e PMDB para dividir entre os dois as Mesas da Câmara e do Senado, isolando o PFL.
"O PSDB está se preparando para 2002. Acha que mudando de aliado muda a cara", afirmou o senador José Jorge (PFL-PE).
Há outras justificativas para o anúncio prematuro do acordo. "O PFL não estava negociando institucionalmente. Inocêncio estava cooptando deputados do PMDB", disse o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
Por trás de tanta disputa, o poder de se sentar à Mesa. O apoio do PMDB ao PSDB se justifica, em parte, pela negociação entre Geddel e Aécio para dar aos peemedebistas duas cadeiras na Mesa.
No Senado, Jader ofereceu à líder do Bloco de Oposição, senadora Heloísa Helena (PT-AL), a possibilidade de participação na chapa. A petista adiou a resposta.

Articulações
Os pefelistas passaram o dia em articulações para tentar virar o jogo. "Hoje é dia de muito trabalho para dar a volta por cima", afirmou Inocêncio, após uma reunião com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), e ACM.
Jader reagiu com ironia às declarações do senador José Sarney (PMDB-AP) de que gostaria de ser "candidato de consenso".
"Por consenso, eu quero ser até papa", disse Jader.
O presidente do PMDB disse que o acordo com o PSDB "jogou água no chope do PFL". Segundo seu raciocínio, o PFL achava que poderia eleger Inocêncio na Câmara e vetar seu nome no Senado, forçando outra candidatura.
"O impasse era meu aqui no Senado. Agora o impasse está democratizado: está na Câmara e é do PFL", disse Jader. Ele reafirmou que o PMDB não vai aceitar "ingerência externa" sobre a escolha do candidato do partido.
ACM manteve ontem o discurso pregando a "moralidade" e voltou a defender a candidatura de Sarney.
"Consenso não quer dizer apoio de todos. Quer dizer ser melhor recebido. E Sarney é muito melhor recebido do que o outro candidato, seja pelo Congresso, seja pelo povo brasileiro", disse.


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