São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Os líderes Bispo Rodrigues e Valdemar Costa Neto votaram com a oposição, mas não foram seguidos por bancada

Principal aliado do PT, PL votou pró-FHC em projetos polêmicos

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL


O Partido Liberal, que nas eleições presidenciais ganhou status de principal aliado do PT, passou quatro anos votando com o governo Fernando Henrique Cardoso em matérias importantes, como a Flexibilização da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A Folha tabulou os votos dos 22 deputados federais do PL em oito projetos considerados polêmicos nessa legislatura, eleita em 1998.
No caso da flexibilização da CLT, apenas nove deputados do PL foram contra o projeto, que foi uma das principais bandeiras da oposição. A mudança na lei pretende instaurar a supremacia dos acordos coletivos sobre a legislação. A oposição votou em bloco contra o projeto, que foi aprovado na Câmara em dezembro de 2001, mas está parado no Senado.
A bancada votou em peso com o governo para aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Já com o seguro-apagão, que autorizou reajustes na tarifa de energia para compensar as perdas com o racionamento, apenas dez deputados votaram com a oposição.
A divisão na bancada prevaleceu em outras votações polêmicas, como na auto-anistia das multas que a Justiça Eleitoral aplicou em 69 deputados, 12 senadores e em nove governadores, durante as eleições de 96 e 98. Apenas sete deputados federais foram contrários à anistia, cujo valor chegava a R$ 2,2 milhões.
Se a votação da Lei de Responsabilidade Fiscal fez com que os liberais votassem em bloco, favoravelmente, à limitação dos gastos públicos, o projeto que impedia a contratação de parentes no Executivo, Legislativo e Judiciário só conseguiu o voto de 12 liberais.
Para derrubar a Lei da Mordaça -que, ao não ser aprovada, virou uma das principais vitórias da oposição- apenas seis liberais votaram com a oposição.
Nem o projeto que acabou com a imunidade parlamentar para crimes comuns aproximou PL e PT: apenas 12 liberais votaram pela aprovação.
A prorrogação da CPMF, aprovada em segundo turno na Câmara em março passado, depois de um "acordão" entre governo e oposição foi o momento em que PT e PL votaram juntos. O acordo assegurou 384 votos ao governo.
O cruzamento desses dados mostra que os dois principais líderes do PL, Bispo Rodrigues (RJ) e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto (SP), votaram com a oposição no caso da CLT e do seguro-apagão, mas não foram seguidos pela bancada.
Além de desunida, a bancada do PL é "mutante" -os deputados pulam de um partido para o outro. O caso mais conhecido é o de João Caldas (AL), que mudou sete vezes de partido nessa legislatura e reelegeu-se neste ano pelo PL.
Só para se ter idéia dessa dança das cadeiras, na eleição passada, o PL elegeu 12 deputados. Dois saíram do partido antes da posse. Dos dez que ficaram, sete trocaram de partido e 19 entraram, principalmente, pelas mãos de Bispo Rodrigues, coordenador político da Igreja Universal do Reino de Deus, que trocou o PFL pelo PL, em fevereiro de 1999.
"Os deputados, vendo que não teriam espaço no governo, saíram do PL", diz Rodrigues. Ele afirma, que, para manter um número "razoável" de parlamentares, "foi preciso" conviver com aqueles que contrariavam a diretriz da bancada para seguir os governadores dos Estados.
O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, informou, por e-mail, que quem não acompanhar a orientação poderá ser expulso.
Rachel Meneguello, diretora do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, diz que, para se ajustar à nova realidade, o PL terá de mudar: "Temos quatro anos para ver até onde essa aliança de esquerda e de direita vai aguentar". Uma das características dos chamados "partidos ideológicos", caso do PT, é votar coeso.


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