São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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Procurador não viu vídeo que pode contradizer o parecer apresentado

DA SUCURSAL DO RIO

O vídeo com a gravação da necropsia de Suzana Marcolino, no qual não aparece a medição de sua altura pelo legista Badan Palhares, não foi assistido pelo vice-procurador-geral da República, Haroldo Ferraz da Nóbrega.
O vídeo é uma prova-chave da investigação sobre as mortes de Suzana e seu namorado, Paulo César Farias. Documenta a necropsia, em junho de 1996.
Contradiz o parecer de Nóbrega, 56, que baseou o arquivamento do inquérito federal sobre as duas mortes ocorridas em Maceió. O procurador diz considerar que Badan mediu Suzana.
O vídeo mostra o contrário. O procurador não assistiu ao vídeo que derruba sua afirmação em questão decisiva no caso.
"Olhe, eu, sinceramente, certamente a pessoa fica lá num estrado, num tablado, num local e tem uma certa medição", disse Nóbrega anteontem à Folha. A seguir, disse que não viu o vídeo, que faz parte dos autos.
Depois de indagado três vezes sobre se sustentava que as fotografias anexadas ao inquérito mostram Suzana maior do que sua irmã, Ana Luiza, e PC (ambos com 1,63 m, mais altos que Suzana), o procurador respondeu:
"O senhor está me colocando numa situação, digamos assim, de inferioridade [por não ter os autos à mão]. Eu quero os autos aqui para eu dizer tudo".
De fevereiro ao começo deste mês, a Procuradoria Geral da República esteve com os documentos do inquérito. O repórter, por impossibilidade legal, nunca.

"Explicações suficientes"
Desde julho de 1995 vice de Geraldo Brindeiro na Procuradoria, Nóbrega afirmou que, sobre a altura de Suzana Marcolino, "o doutor Badan deu explicações mais do que suficientes".
No parecer, se referiu ao trabalho coordenado pelo legista em 1996 como "minucioso laudo pericial". Desse laudo não constava a altura de Suzana, só informada depois de requisição judicial.
Nóbrega afirmou que não considerou as provas produzidas em 1999, quando as investigações foram reabertas, porque "as de 1997 foram suficientes".
Em seu parecer, ele cita documentos escritos por Badan e nenhum por integrante da equipe que fez o segundo laudo.
Registra a conclusão da polícia em 1996 (homicídio seguido de suicídio), mas não faz referência aos nove indiciamentos de 1999 por duplo homicídio.
Não se pronuncia sobre a ausência de impressões digitais no revólver do qual saíram as balas, uma em cada vítima.
Nem sobre a ausência de sangue na arma, que estaria quase colada ao peito de Suzana. Nem de certos elementos químicos componentes da pólvora nas mãos de Suzana, que pela versão do procurador teria atirado.
"Se o meu parecer estiver errado, quero ir para o inferno com ele", disse Haroldo da Nóbrega.

Julgamento
A Justiça de Alagoas aguarda publicação da decisão do STF para manter ou não o julgamento dos quatro réus acusados de matar PC e Suzana.
Se o Supremo não se manifestou sobre o mérito do caso, apenas arquivando o inquérito, há chance de haver julgamento. Se concluiu que Suzana matou PC e se suicidou, provavelmente o processo da Justiça Estadual ficaria vinculado, tendo de ser arquivado. O STF pode reabrir o caso, a pedido da Procuradoria, se houver novas provas. (MM)


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