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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Francisco Baltazar da Silva disse que desconhecia a alegada dependência química do delegado Bellini

Crise na PF é coisa do passado, diz superintendente

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O superintendente da Polícia Federal de São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, 52, afirmou que desconhecia a suposta dependência química do delegado José Augusto Bellini -condição suscitada por sua defesa no decorrer da Operação Anaconda- e atribuiu ao delegado Marco Antônio Veronezzi, superior imediato do policial, a responsabilidade por mantê-lo na chefia do setor de passaportes. "Se houve condescendência [com Bellini], é uma condescendência criminosa", disse Baltazar em entrevista à Folha.
Bellini foi preso sob a acusação de pertencer a um grupo de venda de sentenças judiciais. Convocado pela CPI da Pirataria, apresentou relatório psiquiátrico de "transtorno mental e comportamental" devido ao uso "diário, abusivo e descontrolado" de bebida alcoólica havia quatro anos.
Quando inquirido sobre sua amizade com Bellini, Baltazar responde com uma generalização. Diz que, após quase 31 anos de polícia, fez muitos amigos.
Falar da operação comandada pela PF de Brasília é um assunto que desagrada a Baltazar. Toda a investigação -que até o momento resultou na prisão de nove pessoas, entre elas três policiais federais -, aconteceu à revelia do superintendente.
"Isso já foi superado", afirma Baltazar, que garante que a crise na cúpula da PF é coisa do passado e não afetou seu bom relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu sou fã do presidente", declara o superintendente e ex-chefe da segurança do então candidato nas últimas quatro eleições presidenciais.
Abaixo, trechos da entrevista.

 

Folha - À CPI, o delegado Bellini disse que, há pelo menos quatro anos, sofre de forte dependência química. A condição é compatível ao cargo de chefe de passaportes?
Francisco Baltazar da Silva -
Agora, quando ele foi preso, ele já estava afastado por licença médica. Bellini não é o meu subordinado direto. Dentro da hierarquia de comando, ele nem chega a despachar comigo. Ele é do quarto ou quinto escalão. O chefe imediato dele [o delegado Marco Antonio Veronezzi] nunca reclamou nada comigo. O chefe dele tem de reclamar para um dos coordenadores. Bellini era um quarto escalão.

Folha - Quando o sr. teve conhecimento da saúde de Bellini?
Baltazar -
Eu só vim a saber por meio do nosso ambulatório, quando foi dada a licença médica. Tanto é que ele foi preso em uma clínica. É óbvio que, se tivessem me informado... Mas a sua pergunta tem de ser feita diretamente ao chefe hierárquico de Bellini, se ele foi conivente, se ele foi condescendente, é até uma condescendência criminosa.

Folha - Mas a Operação Anaconda...
Baltazar -
Da Operação Anaconda eu não falo. Não falo porque muito já foi dito, eu já fui muito execrado. Falaram um monte de coisas a meu respeito e ninguém perguntou a minha versão sobre os fatos. Houve um primeiro momento [de desentendimento com a PF de Brasília]? Houve. O incidente já foi superado? Já foi superado. Conversei com o diretor-geral [Paulo Lacerda], conversei com o ministro [da Justiça] Márcio [Thomaz Bastos], que são os meus superiores hierárquicos. Daqui para a frente, é vida nova. Foi um incidente de percurso. As justificativas, tanto as minhas quanto as que recebi, foram suficientes e satisfatórias.

Folha - Uma operação da própria PF foi deflagrada em São Paulo sem seu conhecimento. O sr. se sentiu sob suspeição?
Baltazar -
Você está voltando à mesma pergunta. Não falo sobre Anaconda.

Folha - Brasília não teria recebido bem a reação contrária do sr. à investigação. Mudou o relacionamento do sr. com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a Operação Anaconda?
Baltazar -
Não mudou, mesmo porque é um tipo de assunto que, dentro das preocupações do máximo mandatário da nação, nem deve chegar a ele. Mesmo porque, se eu for falar com ele, é evidente que não vou tratar desse assunto.
Se for falar com o presidente, será em razão da amizade pessoal, não por questão profissional. É um assunto tão diminuto para as preocupações dele.

Folha - Como é o relacionamento com o presidente Lula hoje?
Baltazar -
É normal. É óbvio que, num canal hierárquico, não despacho com ele, despacho com o diretor-geral e, eventualmente, com o ministro da Justiça. Eu sei que gozo de um bom conceito com ele. Sempre fui seu eleitor, sempre trabalhei com ele e o admiro. Eu sou seu fã.

Folha - Mas disseram que seu acesso ao Planalto foi reduzido.
Baltazar -
Isso eu não sei de quem partiu. Acho que foi até da sua própria organização jornalística, da Folha. O meu acesso continua da mesma forma. Nunca tive a pretensão de derrubar ninguém. Nunca tive pretensão de ser o diretor-geral. Nunca tive pretensão nenhuma, mesmo porque eu já tenho tempo inclusive de ir para casa. Estou aqui para ajudar um governo que eu sempre acreditei, mesmo quando ele [Lula] não tinha chance de ser eleito, estou desde a primeira candidatura de um então líder metalúrgico.

Folha - O sr. é petista?
Baltazar -
Não, sou eleitor do Lula. Nunca fui filiado.

Folha - O sr. acompanhou o presidente nas quatro campanhas eleitorais. O que o sr. fazia?
Baltazar -
A coordenação de segurança do candidato. Tinha de ver o local onde estava montado o comício, onde o candidato ia, se havia baderneiros ou adversários políticos, essas coisas. A preocupação é manter a integridade física do candidato.



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