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OPERAÇÃO ANACONDA
Francisco Baltazar da Silva disse que desconhecia a alegada dependência química do delegado Bellini
Crise na PF é coisa do passado, diz superintendente
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O superintendente da Polícia
Federal de São Paulo, Francisco
Baltazar da Silva, 52, afirmou que
desconhecia a suposta dependência química do delegado José Augusto Bellini -condição suscitada por sua defesa no decorrer da
Operação Anaconda- e atribuiu
ao delegado Marco Antônio Veronezzi, superior imediato do policial, a responsabilidade por
mantê-lo na chefia do setor de
passaportes. "Se houve condescendência [com Bellini], é uma
condescendência criminosa", disse Baltazar em entrevista à Folha.
Bellini foi preso sob a acusação
de pertencer a um grupo de venda
de sentenças judiciais. Convocado pela CPI da Pirataria, apresentou relatório psiquiátrico de
"transtorno mental e comportamental" devido ao uso "diário,
abusivo e descontrolado" de bebida alcoólica havia quatro anos.
Quando inquirido sobre sua
amizade com Bellini, Baltazar responde com uma generalização.
Diz que, após quase 31 anos de
polícia, fez muitos amigos.
Falar da operação comandada
pela PF de Brasília é um assunto
que desagrada a Baltazar. Toda a
investigação -que até o momento resultou na prisão de nove pessoas, entre elas três policiais federais -, aconteceu à revelia do superintendente.
"Isso já foi superado", afirma
Baltazar, que garante que a crise
na cúpula da PF é coisa do passado e não afetou seu bom relacionamento com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. "Eu sou fã do
presidente", declara o superintendente e ex-chefe da segurança do
então candidato nas últimas quatro eleições presidenciais.
Abaixo, trechos da entrevista.
Folha - À CPI, o delegado Bellini
disse que, há pelo menos quatro
anos, sofre de forte dependência
química. A condição é compatível
ao cargo de chefe de passaportes?
Francisco Baltazar da Silva - Agora, quando ele foi preso, ele já estava afastado por licença médica.
Bellini não é o meu subordinado
direto. Dentro da hierarquia de
comando, ele nem chega a despachar comigo. Ele é do quarto ou
quinto escalão. O chefe imediato
dele [o delegado Marco Antonio
Veronezzi] nunca reclamou nada
comigo. O chefe dele tem de reclamar para um dos coordenadores.
Bellini era um quarto escalão.
Folha - Quando o sr. teve conhecimento da saúde de Bellini?
Baltazar - Eu só vim a saber por
meio do nosso ambulatório,
quando foi dada a licença médica.
Tanto é que ele foi preso em uma
clínica. É óbvio que, se tivessem
me informado... Mas a sua pergunta tem de ser feita diretamente
ao chefe hierárquico de Bellini, se
ele foi conivente, se ele foi condescendente, é até uma condescendência criminosa.
Folha - Mas a Operação Anaconda...
Baltazar - Da Operação Anaconda eu não falo. Não falo porque
muito já foi dito, eu já fui muito
execrado. Falaram um monte de
coisas a meu respeito e ninguém
perguntou a minha versão sobre
os fatos. Houve um primeiro momento [de desentendimento com
a PF de Brasília]? Houve. O incidente já foi superado? Já foi superado. Conversei com o diretor-geral [Paulo Lacerda], conversei
com o ministro [da Justiça] Márcio [Thomaz Bastos], que são os
meus superiores hierárquicos.
Daqui para a frente, é vida nova.
Foi um incidente de percurso. As
justificativas, tanto as minhas
quanto as que recebi, foram suficientes e satisfatórias.
Folha - Uma operação da própria
PF foi deflagrada em São Paulo
sem seu conhecimento. O sr. se sentiu sob suspeição?
Baltazar - Você está voltando à
mesma pergunta. Não falo sobre
Anaconda.
Folha - Brasília não teria recebido
bem a reação contrária do sr. à investigação. Mudou o relacionamento do sr. com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva após a Operação Anaconda?
Baltazar - Não mudou, mesmo
porque é um tipo de assunto que,
dentro das preocupações do máximo mandatário da nação, nem
deve chegar a ele. Mesmo porque,
se eu for falar com ele, é evidente
que não vou tratar desse assunto.
Se for falar com o presidente, será em razão da amizade pessoal,
não por questão profissional. É
um assunto tão diminuto para as
preocupações dele.
Folha - Como é o relacionamento
com o presidente Lula hoje?
Baltazar - É normal. É óbvio que,
num canal hierárquico, não despacho com ele, despacho com o
diretor-geral e, eventualmente,
com o ministro da Justiça. Eu sei
que gozo de um bom conceito
com ele. Sempre fui seu eleitor,
sempre trabalhei com ele e o admiro. Eu sou seu fã.
Folha - Mas disseram que seu
acesso ao Planalto foi reduzido.
Baltazar - Isso eu não sei de
quem partiu. Acho que foi até da
sua própria organização jornalística, da Folha. O meu acesso continua da mesma forma. Nunca tive a pretensão de derrubar ninguém. Nunca tive pretensão de
ser o diretor-geral. Nunca tive
pretensão nenhuma, mesmo porque eu já tenho tempo inclusive
de ir para casa. Estou aqui para
ajudar um governo que eu sempre acreditei, mesmo quando ele
[Lula] não tinha chance de ser
eleito, estou desde a primeira candidatura de um então líder metalúrgico.
Folha - O sr. é petista?
Baltazar - Não, sou eleitor do Lula. Nunca fui filiado.
Folha - O sr. acompanhou o presidente nas quatro campanhas eleitorais. O que o sr. fazia?
Baltazar - A coordenação de segurança do candidato. Tinha de
ver o local onde estava montado o
comício, onde o candidato ia, se
havia baderneiros ou adversários
políticos, essas coisas. A preocupação é manter a integridade física do candidato.
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