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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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Delegado não é investigado após acusação de ameaçar criança

DA REPORTAGEM LOCAL

Acusado de ameaçar o filho do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, um menino de 12 anos, sob a alegação de que ele "sabia demais", o delegado federal José Augusto Bellini não foi investigado pela Polícia Federal.
A denúncia foi apresentada pessoalmente há 64 dias por Norma Regina Emílio Cunha ao superintendente da PF de São Paulo, Francisco Baltazar da Silva. Não foi -e nem será- aberto procedimento na Corregedoria.
Baltazar decidiu encaminhar a denúncia para Brasília, a pedido da Corregedoria Geral, após a deflagração da Operação Anaconda.
No dia 19 de setembro, Norma, ex-mulher do juiz Rocha Mattos, fez uma representação contra Bellini. Junto, entregou cópia de uma fita cassete em que teria registrado o telefonema do delegado a seu filho -a fita conteria declarações intimidatórias.
A denúncia de Norma Cunha ficou restrita a um termo de declarações -primeiro procedimento para qualquer tipo de acusação. Mas o caso se torna oficial somente após a abertura de um procedimento disciplinar pela Corregedoria, o que nunca ocorreu.
O superintendente informou que não houve tempo hábil para abrir um procedimento disciplinar contra Bellini.
Atual corregedora da PF paulista, Stelamaris Kubota foi quem recebeu a denúncia de Norma Cunha, a pedido de Baltazar. Por meio da assessoria de imprensa, ela afirmou que, antes de abrir um procedimento disciplinar, a PF precisava degravar a fita, o que demandaria mais tempo.
As escutas telefônicas gravadas pela PF de Brasília revelam que o então corregedor da PF paulista, Dirceu Bertin, ligou para avisar Bellini, que é seu amigo, sobre a representação no mesmo dia em que ela foi feita por Norma Cunha. Disse que tinha de lhe contar algo, mas em um telefone fixo, mais seguro contra grampos.
Apesar da cautela, cerca de 30 minutos depois, Bellini fez outras três ligações e relatou seu diálogo com Bertin -o delegado telefonou para a agente federal César Herman Rodriguez (preso), para a mulher, Sílvia, e para Wagner Rocha (preso), nesta ordem.
"A Norma me representou, moça. (...) Eu recebi essa notícia às 17h porque o Bertin me ligou", afirmou Bellini a Sílvia, às 18h17.
Bellini explicou a Rocha o motivo da representação: "Eu liguei para falar com o João [juiz federal] e ele [o menino] atendeu. Falei: "Você é moleque, vagabundo, você tem que se colocar no seu lugar, você tem de ser criança, rapaz. Parar com esse negócio de ficar aí atrás dos problemas de família". Você acredita que a outra [Norma] entrou hoje com a fita e uma representação?".
Em outros diálogos, Bellini afirmou que ameaçou o menino porque ele era um "computador" e "sabia demais". O garoto participou de reuniões com policiais, levado pelo pai, o juiz Rocha Mattos. (LC)


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