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JANIO DE FREITAS
Nem tudo sai
Tardou tanto uma atitude de
Fernando Henrique Cardoso
ou dos envolvidos no escândalo, que a esta altura suas demissões só beneficiam aos próprios, reduzindo-lhes a desgastante, senão humilhante,
exposição pública. A relutância, sobretudo a presidencial,
tornou as privatizações deste
governo definitivamente comprometidas pelo escândalo. O
governo e mesmo a imagem de
Fernando Henrique, por sua
vez, guardarão a mancha desse episódio.
Um novo trecho de gravações, por exemplo, ficará como
um questionamento forte, pelo
futuro afora. Nele, Mendonça
de Barros e Fernando Henrique falam da desistência da
Bell South de concorrer aos leilões, e o ministro diz ao presidente:
"Se a Bell South entrasse aí,
embaralhava tudo isso. Porque ela ia disputar São Paulo,
ia levantar o preço de São Paulo. Se ela ganhasse, expulsava
os italianos para outro lugar".
"Embaralhava" o quê? Só
poderia ser uma articulação
do conhecimento de Fernando
Henrique, ou a frase seria
ininteligível para ele. Não é,
porque não suscita nenhum
pedido seu de esclarecimento.
Se o dever dos privatizadores
era obter o melhor preço pelo
patrimônio público posto à
venda, como entender-se que
os dialogantes consideraram
inconveniente a presença de
uma empresa "porque ela ia
levantar o preço" da telefônica
de São Paulo? Não há qualquer reparo de Fernando Henrique à observação. Ou seja,
aquilo que não devia ser embaralhado também não devia
ter o seu preço levantado por
um comprador, que nem era
tecnicamente criticável, mas
uma das grandes telefônicas
internacionais.
Só se pode compreender como também indicadora de distribuição combinada, anteriormente à concorrência, a
afirmação de que "se ela (Bell
South) ganhasse, expulsava os
italianos (Telecom Italia) para outro lugar".
Expulsava? Que escolha verbal esquisita, para dizer que
uma empresa pagaria mais do
que outra por um bem pertencente ao país. E por que os responsáveis pela venda só queriam "os italianos" como detentores do grande pudim
paulista, mesmo que outra telefônica internacional pagasse
mais?
No diálogo de destino histórico, nada inibe o ministro,
para dizer, e nada soa impróprio ou estranho ao presidente. Mas nada se encaixa na
probidade que, por exigência
da lei, para não lembrar outras, deveria reger o comportamento dos vendedores de bens
públicos.
As quatro demissões são insuficientes para apagar, no governo e nas imagens pessoais,
fatos como aquele diálogo.
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