São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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Ministro acumulou inimigos ao assumir postura agressiva

FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília

Desde que assumiu o Ministério das Comunicações, no último dia 30 de abril, o ministro demissionário Luiz Carlos Mendonça de Barros ficou marcado pela facilidade em conseguir inimizades e adversários.
Chamado para substituir Sérgio Motta, morto em abril, o principal objetivo de Mendonça de Barros era privatizar o Sistema Telebrás.
Logo no seu primeiro dia de trabalho, disse que não temia as disputas judiciais em torno da privatização e alfinetou os juízes que mantinham liminares contra o leilão.
Para ele, eles seguiam a "cartilha do formalismo", o que escondia "algum problema em relação à privatização".
O passo seguinte de Luiz Carlos Mendonça de Barros foi reduzir a importância da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), concebida por Sérgio Motta e considerada o braço direito na condução do processo de privatização da estatal.
Ainda como presidente do BNDES, Mendonça de Barros já havia criticado as metas de expansão do serviço telefônico estabelecidas pela Anatel, repetindo argumentos dos investidores interessados na Telebrás -as metas seriam economicamente inviáveis e poderiam prejudicar os resultados finais do leilão.
Críticas
As críticas repercutiram na Anatel, que acabou reduzindo as metas previamente estabelecidas.
Mendonça de Barros e sua equipe foram alvos de 59 ações judiciais contra o leilão da Telebrás.
Pressionado por essa estratégia, ele optou por politizar a privatização da estatal.
O ministro demissionário partiu para o ataque com críticas a Leonel Brizola (PDT), candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mendonça de Barros dizia que o ex-governador do Rio não tinha "compromisso com a verdade" ao criticar o preço mínimo estabelecido para a estatal.
Ao receber uma proposta do PT para o futuro das telecomunicações no país, ele a qualificou de um "um elefante com chifres e asas". A proposta previa a quebra do monopólio estatal e a manutenção de uma empresa pública para o setor.
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Divergências
As divergências de Mendonça de Barros dentro do governo vieram à tona em setembro, quando ele divergiu publicamente da condução da política econômica pelo ministro Pedro Malan (Fazenda) e pelo presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
Ele afirmou que era preciso adotar mecanismos de restrição às importações de supérfluos, incentivar as exportações e reduzir a dependência do país em relação aos capitais especulativos.
A criação do Ministério da Produção, confirmada pelo Palácio do Planalto, só serviu para aumentar as resistências a Mendonça de Barros dentro da base governista.
A nova pasta foi entendida pelos aliados do PFL e do PMDB como um fortalecimento excessivo do PSDB.



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