São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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Telemar fica com imagem "arranhada'

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

O grupo Telemar sai com sua imagem arranhada do escândalo das gravações telefônicas que causou a demissão do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, do presidente do BNDES, André Lara Resende, e do vice-presidente do banco, José Pio Borges.
A análise feita por integrantes da cúpula da empresa é que o episódio diminuiu sua "credibilidade comercial" perante os grandes clientes (clientes corporativos), que são os mais rentáveis.
Na avaliação de um alto executivo do grupo, a discussão sobre a lisura do processo de privatização da Telebrás não afeta os clientes residenciais, mais preocupados com a qualidade e com o preço dos serviços. Já os grandes usuários -que acompanham o noticiário e são formadores de opinião- reagem negativamente.
A revelação de que o próprio ministro das Comunicações se referia ao consórcio Telemar como "borocoxô" e a seus integrantes como "telegangue" é desastrosa para a imagem da Tele Norte Leste, cuja área de concessão abrange 16 Estados, com 86 milhões de habitantes.
Há duas semanas, a empresa vem sendo citada nas transcrições dos telefonemas grampeados, sempre associada a acusações de incapacidade financeira e falta de experiência em telecomunicações.
Para agravar a situação, o ex-ministro Mendonça de Barros insinuou em diversas ocasiões -inclusive em seu depoimento no Senado- que sócios da Telemar seriam responsáveis pela divulgação das fitas. Para ele, o principal suspeito era o empresário Carlos Jereissati, controlador do grupo La Fonte e acionista da Telemar.
A companhia avalia que precisará restaurar sua credibilidade junto aos chamados clientes corporativos. A empresa prepara também uma campanha publicitária destinada ao grande público para mostrar as providências tomadas a partir da privatização para ampliar a oferta dos serviços e melhorar o atendimento.
²
Tensão
Os executivos do grupo dizem que, apesar da turbulência, a empresa iniciou uma "revolução" interna para aumentar sua produtividade e eliminar os vícios da administração estatal.
Uma das providências é a renegociação dos contratos com fornecedores de equipamentos e prestadores de serviços. A Telemar está exigindo descontos de até 70% nos preços dos contratos assinados sob a gestão estatal.
Na quinta-feira passada, enquanto Mendonça de Barros era sabatinado pelos senadores em Brasília, cerca de 6.700 empregados da Telemar (de um total de 32 mil) eram demitidos dentro do programa de demissões incentivadas. No dia seguinte, mais mil foram cortados por decisão unilateral da empresa.
Os executivos admitem que há tensão entre os sócios da Telemar em razão do desejo do governo de se desfazer dos 25% das ações da companhia em poder do BNDES. A Telecom Itália tem interesse nas ações, mas a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) diz que a negociação não pode ser efetivada porque os italianos já são sócios da Tele Centro Sul. Enquanto o governo não definir se o BNDES mantém ou vende as ações, a tensão entre os sócios persistirá.



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