São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REPERCUSSÃO

LUCIANA GENRO, deputada federal pelo PT-RS
"Evidentemente que é um ministério muito mais de esquerda do que todos que existiram até hoje, mas poderia ser mais de esquerda ainda. O maiores problemas foram a indicação do [Henrique] Meirelles para o Banco Central e de um empresário do setor de agrobusiness [Roberto Rodrigues] para o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Pelo menos no BC deveriam ter colocado um economista afinado com as idéias do PT. A política de alianças que Lula fez serviu para ele ganhar as eleições, mas acho difícil que seja eficiente do ponto de vista de se conseguir fazer política no Brasil. Como obter sustentação para as propostas do PT se estamos diante da burguesia brasileira?"
RENATO LESSA, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj)
"Sem dúvida nenhuma podemos dizer que a composição do atual ministério é majoritariamente de esquerda, com exceção de um núcleo que será responsável mais ativamente pela gestão econômica. Acho que vai ser um governo moderado, mas feito por pessoas que têm princípios de esquerda. Creio que atritos pontuais com os mais conservadores devem surgir, mas não podemos esquecer que uma política que prevê a redistribuição de renda e a redemocratização tem de estabelecer vínculo com uma equipe econômica que possua capacidade técnica, e nesse ponto os nomes escolhidos têm muita capacidade, lastro, competência e currículo. Não é a esquerda que está a serviço da economia; é uma gestão realista da economia que está a serviço de um projeto de esquerda"
IVAN VALENTE, deputado federal PT-SP
"Na área social, contamos com muitos companheiros de esquerda, mas na economia temos um pensamento de centro-direita, o que lamento um pouco. Mas o que importa, nesse caso, não é se a pessoa nomeada para o Banco Central é do PT ou não é, mas o que importa é se a lógica política que ela apresenta vai representar o que o governo PT quer. A questão é: devemos nos sensibilizar com as pressões do mercado, ou mostramos ao mercado que o que mais vale é fazer uma política econômica com base na distribuição de renda e da criação de empregos? Se, por exemplo, os ministros da Educação e da Saúde tiverem de reivindicar mais verba, e se essas verbas forem escassas por causa de uma eventual necessidade de aplicá-las para fazer o ajuste fiscal, daí esses ministros vão ter de mostrar que o PT não compactua com a especulação e com a irracionalidade do mercado"
FÁBIO WANDERLEY REIS, cientista político da Universidade Federal de MInas Gerais (UFMG)
"Ainda que existam matizes mais radicais e mais liberais dentro do partido, podemos dizer que o fato de várias pessoas do PT estarem no mistério já nos permite caracterizá-lo como de esquerda. E creio que atritos por causa da eventual nomeação de [Henrique] Meirelles para o Banco Central só vão existir por parte da ala mais radical, como já aconteceu com a senadora Heloísa Helena. O partido como um todo já passou por um aprendizado de realismo, creio que já sabe se ajustar às condições do mercado"
ROBERTO ROMANO, professor titular de filosofia política da Universidade de Campinas (Unicamp)
"Eu diria que temos um ministério majoritariamente de centro esquerda. Os membros do ministério têm histórico, formação ideológica e intelectual de esquerda, mas todos, com exceção da Marina Silva [confirmada para o Meio Ambiente] , estão há pelo menos cinco anos tentando adotar atitudes mais moderadas. Com relação aos possíveis atritos por causa da nomeação de Henrique Meirelles ao BC, vale lembrar que o Meirelles é não é de direita, mas de centro-direita, e que tem um perfil reformista e desenvolvimentista. Talvez haja discordâncias entre o que Meirelles vai captar do mercado internacional e propor para o governo, mas haveria mais tensão se os ministros do planejamento e da economia não fossem do PT, o que não é o caso."
RENATO JANINE RIBEIRO, professor de filosofia política da Universidade de São Paulo (USP)
"Não temos no Brasil experiência de indicação de um governo de esquerda, por isso é muito difícil fazer uma análise sobre a composição ministerial. Acredito que vamos ter conflitos, isso é óbvio. A indicação de Roberto Rodrigues para o ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento, por exemplo, atingiu diretamente membros do MST; já a indicação de Gilberto Gil para o Ministério da Cultura deixou a intelectualidade do PT ficou com o pé atrás. Mas talvez o PT tenha dado uma grande tacada."


Texto Anterior: Dulci nega ter havido "racha" entre PT e PMDB
Próximo Texto: Miro nega uso político das concessões de TV
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.