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Após 4 meses, PF não tem autor nem áudio de escuta no Supremo
Governo espera conclusão de inquérito, que pode ser prorrogado por 30 dias, para avaliar retorno de Lacerda ao comando da Abin
Apesar da falta de provas do grampo, apuração mostra irregularidades na atuação de espiões da agência
na Operação Satiagraha
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro meses e mais de uma
centena de depoimentos depois, o inquérito da PF que apura o grampo ilegal de conversas
do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar
Mendes, chega ao fim do ano
sem provas de autoria nem vestígios do áudio cuja transcrição
divulgada pela revista "Veja"
resultou no afastamento do diretor-geral da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência),
Paulo Lacerda.
O inquérito está nas mãos da
Justiça, que analisa o pedido de
prorrogação feito pelos delegados Rômulo Berredo e William
Morad. A tendência é que a investigação ganhe sobrevida de
30 dias, mas, ainda assim, na PF
poucos acreditam que ela chegue aos culpados.
Na sexta-feira, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) arquivou sindicância aberta para investigar a participação de agentes da Abin no episódio. O gabinete diz não ter
achado provas contra os agentes. Mas nada disso, por ora, é
capaz de garantir a recondução
de Lacerda ao cargo e devolver
a tranqüilidade à Abin.
Para o governo, só após a
conclusão do inquérito será
possível saber se há clima para
a volta do diretor. Apesar da ausência de provas técnicas sobre
o grampo, as investigações da
PF e da CPI dos Grampos comprovaram irregularidades na
atuação dos espiões na Operação Satiagraha e contradições
nas declarações de Lacerda.
A principal delas: em agosto,
Lacerda disse que a participação da Abin se limitou à colaboração em tarefas banais. Hoje,
sabe-se que mais de 80 agentes
foram postos à disposição do
delegado Protógenes Queiroz,
para, entre outras coisas, analisar escutas de jornalistas.
Esse é um revés significativo
para Lacerda. O encarregado
pelo trabalho, o oficial de inteligência Marcio Seltz, não só
confessou ter analisado as interceptações como disse ter entregue uma cópia ao diretor.
Lacerda nega, mas internamente o depoimento de Seltz
teve efeito devastador. Por lei,
os agentes da Abin não podem
usar escutas em investigações.
A sindicância do GSI também é considerada frágil para
sustentar a decisão de reconduzi-lo ao posto. Primeiro, por
não ter independência suficiente, já que a Abin está subordinada ao gabinete. Segundo,
porque o próprio ministro-chefe do GSI, Jorge Felix, disse em
reunião com centenas de agentes que o vazamento era obra
de um "colega", declaração que,
apesar do testemunho de agentes, Félix nega.
Investigação
Sobre os possíveis meios usados para realizar o grampo, na
ausência de evidências de peso,
a PF trabalha para descartar
tecnicamente as hipóteses. O
uso de maletas, possibilidade
levantada pelo ministro Nelson
Jobim (Defesa), já foi desconsiderado. Em janeiro, ficarão
prontas as perícias em equipamentos da Vivo, da Brasil Telecom e na central telefônica do
Senado. Sobre elas estão depositadas as poucas esperanças de
produção de provas.
Os delegados da PF ficaram
intrigados ao descobrir que a
central comprada pelo Senado
por R$ 5,4 milhões (com dispensa de licitação), permite a
gravação de 50 PA's (postos de
atendimento, ou ramais) pré-selecionados. O problema é que
o equipamento, à primeira vista, não permite auditagem.
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