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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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FÓRUM SOCIAL/FÓRUM ECONÔMICO:DIÁLOGO POSSÍVEL?

Petista usa estratégia contra vaia

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou uma estratégia contra a possibilidade de vaias durante sua presença no anfiteatro Pôr- do-Sol, em Porto Alegre. Testou a reação do público antes de começar a falar. No palco, com cerca de 30 metros de comprimento, ministros e membros do comitê organizador formaram uma parede humana, que impediu o público de ver a chegada de Lula.
O presidente da Abong (Associação Brasileira de ONGs), Sérgio Haddad, abriu a cerimônia, falando da importância do Fórum Social Mundial. Pouco mais de um minuto depois de começar a falar, citou o nome de Lula, que foi aclamado. Mesmo sem Haddad ter concluído seu pronunciamento, o presidente saiu de trás do palco, aumentando ainda mais os aplausos e cochichou com o presidente da Abong, que deixou sua fala inconclusa.
Bem recebido, Lula pôde referir-se a sua ida a Davos, sob protestos tímidos de "fica, fica", mas sem vaias esperadas de grupos ligados ao PSTU. O público por duas vezes surpreendeu Lula. Quando o presidente disse que tinha quatro anos de mandato, a platéia o interrompeu aos gritos: "Oito, oito, oito", numa referência à possibilidade de reeleição.
Na segunda vez, Lula tomou a mulher pelas mãos e a trouxe para a frente do palco: "Marisa, Marisa", gritou a multidão. Bem-humorado, Lula disse: "Se continuar com essa popularidade, a Marisa vai acabar candidata a algum cargo nas próximas eleições".
Aos milhares de estrangeiros presentes ao anfiteatro aberto, Lula afirmou: "Muitos de vocês talvez não estejam entendendo o que eu digo, por não falarem português. Então, olhem nos meus olhos. Vocês vão entender exatamente o que quero dizer".
Na boca do palco, Lula falava sobre uma faixa de 15 metros, com os dizeres: "Não ao neoliberalismo; contra a guerra imperialista". As maiores faixas no público tinham a guerra como tema: "Fora Bush! Abaixo com a pirataria; paz no mundo", dizia uma faixa de cerca de dez metros em inglês. Havia protestos também contra Cuba: "Fidel = democracia? Liberdade de expressão?".
Vestido com calça e paletó azul, com um brasão da República na lapela e sem gravata, Lula falou por 39 minutos. Quando se aproximava da meia hora de discurso, ao dizer que tinha de ir embora, a platéia pediu que ficasse. O presidente olhou as horas e falou por mais nove minutos.
A razão da consulta ao relógio: como havia decidido ir para a Europa em avião de carreira, Lula tinha horário a cumprir, porque senão perderia o vôo da TAM que sairia de São Paulo no final da noite. Falou por mais nove minutos e despediu-se como fazia nos comícios de campanha: "Até a vitória, companheiros", como se a vitória já não tivesse ocorrido.


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