São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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QUESTÃO INDÍGENA

Maior parte da quantia terá como destino o pagamento de indenizações a fazendeiros; verba hoje é de R$ 94 mi

Funai precisa de R$ 60 mi a mais em seu orçamento

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JAPORÃ (MS)

A Funai (Fundação Nacional do Índio) precisa de mais R$ 60 milhões em seu orçamento de R$ 94 milhões para demarcar pelo menos 65 áreas indígenas no país, meta deste ano. A informação é do presidente da Funai, Mércio Gomes. O dinheiro deve ser gasto basicamente com indenizações a proprietários rurais pelas benfeitorias nas terras indígenas.
Segundo a Funai, o Brasil tem 618 terras indígenas, das quais 196 (31%) ainda não estão demarcadas. Das não-regularizadas, 168 nem sequer foram identificadas por antropólogos, primeiro passo para declará-las indígenas. A identificação é baseada em relato dos índios e na presença de cemitérios de antepassados.
Gomes disse que a meta é chegar ao final do governo Lula com todas as áreas demarcadas. Isso corresponde a regularizar ao menos 65 delas a partir de 2004. "Vamos pedir suplementação ao Congresso", disse. Ele confia na liberação de mais verbas. "Temos apenas R$ 94 milhões para atender a 410 mil índios."
As terras a demarcar somam 11.732.980 hectares. São reivindicadas por 24.289 índios. Do total, 18,7 mil querem áreas que nem sequer foram identificadas. "Já não são grandes áreas. São o osso", diz Gomes, referindo-se à dificuldade de demarcação onde há disputa de índios e fazendeiros.
O juiz federal Odilon de Oliveira, que julga ações envolvendo questões indígenas em Mato Grosso do Sul, disse que 340 fazendeiros disputam com índios a posse de 218 mil hectares no Estado. O juiz sugere uma mudança no artigo 231 da Constituição, o qual não prevê indenização aos proprietários pela terra perdida, mas só pagamento pelas benfeitorias. Na avaliação de Gomes, a mudança fará retroceder a regularização de terras e aumentar os custos das demarcações.
O MNP (Movimento Nacional dos Produtores) se manifesta contra as invasões dos índios.
"Os produtores rurais não sabem a quem recorrer. Estão desesperados. Até quando o Brasil vai agüentar isso?", disse o presidente do MNP, João Bosco Leal.



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