São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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CPI DOS CORREIOS

Diretor da PF diz que Janene fez pressão por cargo

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, afirmou ontem, em audiência pública da CPI dos Correios, que sofreu pressão política para nomear superintendentes regionais da instituição. Uma delas teria sido do deputado José Janene (PP-PR), investigado no escândalo do "mensalão", que queria indicar, segundo ele, um afilhado político para o cargo de superintendente da PF no Paraná.
Em conversa reservada com o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), após a audiência pública, Lacerda teria dito que as pressões para a indicação do afilhado de Janene ocorreram em 2003 e partiram da Casa Civil, ocupada na época por José Dirceu, e de dentro da própria Polícia Federal.
"Quando o ministro Márcio Thomaz Bastos me convidou, em 2002, para assumir a Polícia Federal, eu disse que gostaria de ter uma Polícia Federal independente, a começar pela nomeação dos cargos. Isso vem acontecendo, a despeito de pressões políticas, que são naturais. Políticos querem a colocação de tal pessoa em determinada superintendência, inclusive políticos hoje investigados pela CPI", afirmou.
Torres quis saber qual era o político investigado citado por Lacerda, mas ele afirmou que daria a resposta reservadamente ao deputado. "Ele declarou que sofreu pressão especificamente do deputado José Janene, em 2003, que se utilizou da Casa Civil e de pessoas da Polícia Federal para fazer essa pressão", disse o deputado.
Questionado pela imprensa, Lacerda confirmou que se referia a Janene e que o fato teria ocorrido em 2003, mas não quis comentar se as pressões teriam partido da Casa Civil. "Foi simplesmente uma intenção, prontamente rechaçada", afirmou.
A assessoria de imprensa de Janene afirmou que a Casa Civil ofereceu vários cargos ao PP, entre eles as superintendências da Polícia Federal em Goiás e no Paraná. O partido teria então feito um ofício com as indicações, mas algumas pessoas não teriam sido aceitas, entre elas o indicado para a superintendência no Paraná.
Janene está entre os 18 deputados que tiveram a cassação do mandato pedida pela CPI por suposto envolvimento com o escândalo do "mensalão". Ele é acusado de receber R$ 4,1 milhões do "valerioduto". A Folha não conseguiu falar ontem com José Dirceu, que estava na Venezuela para o Fórum Social Mundial.
Ainda na audiência pública, Lacerda afirmou que os Estados Unidos têm uma cultura jurídica própria e, por isso, podem negar o acesso da CPI à movimentação financeira do publicitário Duda Mendonça no exterior. Ele também afirmou que o ritmo da comissão é diferente do da investigação criminal.
"Os senhores têm a premência do tempo e a ansiedade de apresentar resultados, por isso as cobranças às autoridades, mas muitas vezes essas investigações levam anos", afirmou o diretor-geral da Polícia Federal.


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