São Paulo, quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

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Altar dos negócios acolhe Lula, o "convertido"

Criticado por ativistas do Fórum Social, presidente ganhou a confiança dos empresários do Fórum Econômico Mundial

Participantes do encontro destacam a estabilidade do primeiro mandato e deixam em segundo plano o crescimento pretendido


DO ENVIADO A DAVOS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje à tarde a Davos cercado pela aura de confiança e até carinho que construiu junto aos homens de negócio que formam a clientela básica do Fórum Econômico Mundial, pelos mesmíssimos motivos por que decepcionou o que antigamente se chamava "povo de Porto Alegre", a turma do Fórum Social Mundial, desta vez reunida no Quênia.
Explica Jacob Frenkel, que já comandou o Banco de Israel e hoje é vice-presidente do American International Group, presente em 130 países, inclusive Brasil (associado ao Unibanco):
"Quando Lula veio a Davos pela primeira vez [em 2003], havia grande preocupação. Mas, quando ele anunciou compromissos pró-mercado e a favor da propriedade privada, imediatamente aumentou a cotação do Brasil e a disposição de investir no país".
Reforça o brasileiro José Carlos Grubisich, executivo-chefe da Braskem, a maior petroquímica da América Latina: "De fato, a posição que Lula adotou teve [em Davos] uma leitura favorável. A comparação entre as expectativas que havia originalmente e a qualidade da governança que demonstrou lhe é muito positiva".
Claro que Grubisich está falando da ortodoxia fiscal e do controle da inflação, pois, em matéria de crescimento, "o Brasil não está na rabeira mas também não está na ponta".
Ao contrário de outros empresários brasileiros em Davos (e são não mais de uma dúzia entre 2.400), o executivo elogia o Programa de Aceleração do Crescimento. "São naturalmente bem-vindas medidas que alocam mais recursos para infra-estrutura, mas sempre dentro da responsabilidade."
Parece evidente, tudo somado, que o Lula esperado em Davos é mais o Lula da estabilidade do primeiro mandato do que o Lula do crescimento prometido para o segundo mandato.
Notícias do PAC chegaram amortecidas e diluídas a Davos.
De todo modo, a agenda do presidente é rica em contatos com o mundo empresarial, da Merck ao Citigroup, da Coca-Cola ao Google, além de uma reunião, amanhã, com um grupo de 60 empresários.
"Para minha surpresa, até o Rupert Murdoch pediu para comparecer", diz o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), organizador do encontro, referindo-se ao superempresário da mídia, nascido na Austrália, com um império espalhado pelo mundo.
É razoável supor que, nessa área, o principal encontro será hoje à noite, com Nicholas Negroponte, o inventor do computador de US$ 100 (mas que já custa US$ 160), com o qual o Brasil negocia um programa piloto de 1 milhão de unidades.
Trata-se, como é óbvio pelo preço, de computadores básicos, que serão distribuídos como material didático às escolas públicas. O cronograma já está atrasado (deveria ter começado em abril de 2000), mas Furlan diz acreditar que o lançamento não passa deste ano.
Lula terá também encontros com políticos -Tony Blair, primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, seu sucessor, Felipe Calderón, presidente do México. Mas a principal reunião será uma espécie de minicúpula sobre a Rodada Doha de negociações comerciais, travada desde o lançamento em 2001, mas que, nos últimos dias, dá tímidos sinais de vida.
(CLÓVIS ROSSI)


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