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Altar dos negócios acolhe Lula, o "convertido"
Criticado por ativistas do Fórum Social, presidente ganhou a confiança dos empresários do Fórum Econômico Mundial
Participantes do encontro destacam a estabilidade do primeiro mandato e deixam em segundo plano o crescimento pretendido
DO ENVIADO A DAVOS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje à tarde a
Davos cercado pela aura de
confiança e até carinho que
construiu junto aos homens de
negócio que formam a clientela
básica do Fórum Econômico
Mundial, pelos mesmíssimos
motivos por que decepcionou o
que antigamente se chamava
"povo de Porto Alegre", a turma
do Fórum Social Mundial, desta vez reunida no Quênia.
Explica Jacob Frenkel, que já
comandou o Banco de Israel e
hoje é vice-presidente do American International Group, presente em 130 países, inclusive
Brasil (associado ao Unibanco):
"Quando Lula veio a Davos
pela primeira vez [em 2003],
havia grande preocupação.
Mas, quando ele anunciou
compromissos pró-mercado e a
favor da propriedade privada,
imediatamente aumentou a cotação do Brasil e a disposição de
investir no país".
Reforça o brasileiro José
Carlos Grubisich, executivo-chefe da Braskem, a maior petroquímica da América Latina:
"De fato, a posição que Lula
adotou teve [em Davos] uma
leitura favorável. A comparação entre as expectativas que
havia originalmente e a qualidade da governança que demonstrou lhe é muito positiva".
Claro que Grubisich está falando da ortodoxia fiscal e do
controle da inflação, pois, em
matéria de crescimento, "o
Brasil não está na rabeira mas
também não está na ponta".
Ao contrário de outros empresários brasileiros em Davos
(e são não mais de uma dúzia
entre 2.400), o executivo elogia
o Programa de Aceleração do
Crescimento. "São naturalmente bem-vindas medidas
que alocam mais recursos para
infra-estrutura, mas sempre
dentro da responsabilidade."
Parece evidente, tudo somado, que o Lula esperado em Davos é mais o Lula da estabilidade do primeiro mandato do que
o Lula do crescimento prometido para o segundo mandato.
Notícias do PAC chegaram
amortecidas e diluídas a Davos.
De todo modo, a agenda do
presidente é rica em contatos
com o mundo empresarial, da
Merck ao Citigroup, da Coca-Cola ao Google, além de uma
reunião, amanhã, com um grupo de 60 empresários.
"Para minha surpresa, até o
Rupert Murdoch pediu para
comparecer", diz o ministro
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), organizador do
encontro, referindo-se ao superempresário da mídia, nascido
na Austrália, com um império
espalhado pelo mundo.
É razoável supor que, nessa
área, o principal encontro será
hoje à noite, com Nicholas Negroponte, o inventor do computador de US$ 100 (mas que já
custa US$ 160), com o qual o
Brasil negocia um programa piloto de 1 milhão de unidades.
Trata-se, como é óbvio pelo
preço, de computadores básicos, que serão distribuídos como material didático às escolas
públicas. O cronograma já está
atrasado (deveria ter começado
em abril de 2000), mas Furlan
diz acreditar que o lançamento
não passa deste ano.
Lula terá também encontros
com políticos -Tony Blair, primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, seu sucessor, Felipe Calderón, presidente do México. Mas a principal reunião
será uma espécie de minicúpula sobre a Rodada Doha de negociações comerciais, travada
desde o lançamento em 2001,
mas que, nos últimos dias, dá tímidos sinais de vida.
(CLÓVIS ROSSI)
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