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Crise mundial será o foco das discussões do Fórum Social
Colapso financeiro confirmou previsões que o encontro fazia, afirma idealizador
Evento ocorrerá no Pará; no
entanto, para sociólogo,
organizadores deveriam ter
escolhido os EUA para tentar
retomar antiga visibilidade
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Depois de três edições debatendo rachas internos e buscando novos formatos, o Fórum Social Mundial, cuja nona
edição começa nesta terça-feira, em Belém (PA), vai ter como
principal foco a crise financeira
mundial. A edição deste ano terá menos atividades ligadas a
autocríticas e mais discussões
relacionadas à crise.
"Esta é a edição mais importante depois da primeira, em
2001", afirma Oded Grajew, do
Movimento Nossa São Paulo e
idealizador do evento. Grajew
diz que o colapso financeiro
confirmou as previsões que o
fórum fazia. "É só recuperar toda a nossa história. Sempre falamos isso. Mas a gente não fica
feliz e contente com a crise.
Queremos é um mundo com
qualidade de vida."
Para ele, a eleição de Barack
Obama nos EUA e a ofensiva de
Israel em Gaza também aproximam o contexto internacional
de assuntos que sempre estiveram no foco do fórum.
"A crise nos deu razão, mas
criou uma urgência. Ela nos impõe uma agenda", diz outro
fundador do encontro, Cândido
Grzybowski, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Para ele, as discussões
se voltarão mais à falência do
que chamou de "economia-cassino" e menos à autoanálise.
Mas o debate sobre métodos
e rumos do encontro continua
sendo essencial, diz Grajew. "O
fórum é muito novo. Estamos
navegando por mares nunca
antes navegados. Ele demanda
uma permanente avaliação."
Desde 2005, quando foi realizado pela última vez em Porto
Alegre (RS), o evento tentou
formatos e sedes diferentes.
Em 2006, aconteceu em três
países: Mali, Venezuela e Paquistão. Em 2007, foi para Nairóbi (Quênia), onde houve problemas de organização, como o
preço da inscrições.
No ano passado, em vez de
promover uma semana de debates, houve um dia de manifestações em 80 países.
Essas mudanças ecoavam incertezas e divisões internas da
organização. Nos encontros,
discutia-se a capacidade do
evento de provocar transformações reais -crítica comum
ao fórum. Nos bastidores, parte
de seu Conselho Internacional
lutava para que o fórum se filiasse a governos que consideram "progressistas", como o de
Hugo Chávez (Venezuela).
Segundo a ala ligada aos brasileiros, isso era contrário à carta de princípios da organização.
Um dos membros do conselho, o sociólogo filipino Walden
Bello, escreveu em artigo de
2007 que o fórum estava em
uma "encruzilhada" e devia ceder espaço a "novos modos" de
"resistência e transformação".
"Mas mesmo as reuniões do
conselho estão hoje mais tranquilas", afirma Chico Whitaker,
outro idealizador do fórum.
Ele, Grajew e Grzybowski afirmaram que o tema deste ano, a
Amazônia, se encaixa na busca
de soluções para a crise.
Para o sociólogo Chico de
Oliveira, no entanto, os organizadores deveriam ter escolhido
os EUA como local do encontro
para conseguir retomar a antiga visibilidade.
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