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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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Delegado depõe e acusa ex-assessor

DO ENVIADO A SALVADOR

O delegado Valdir Barbosa afirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público, que seu ex-assessor direto Alan Farias é o responsável pelos grampos telefônicos ilegais instalados na Bahia.
Barbosa solicitou à Justiça, entre março e outubro de 2002, a instalação dos grampos em telefones da Bahia, entre eles os dos deputados Geddel Vieira Lima (PMDB) e Nelson Pellegrino (PT), e da ex-namorada do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), a advogada Adriana Barreto.
O delegado, em um depoimento que durou quase cinco horas, negou ter sido ele quem incluiu os números dos parlamentares e da advogada em seus pedidos. À época, Barbosa dizia investigar um caso de sequestro ocorrido em Itapetinga (BA). Ele também disse que não conhece Adriana e seu marido, Plácido Faria.
Segundo o procurador da República Edson Abdon, os nomes de ACM e da ex-secretária de Segurança da Bahia Kátia Alves não foram citados no depoimento. O delegado também disse que não teve acesso ao conteúdo das gravações decorrentes do grampo.
"Eu não diria que ele [Barbosa] mentiu [em seu depoimento], mas diria que ele faltou com a verdade", disse Abdon. O depoimento do delegado acabou por volta das 20h de ontem. Alan Farias começou a ser ouvido em seguida.
O ex-assessor direto de Barbosa, ainda funcionário da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, afirmou ontem à tarde, ao chegar ao prédio da PF em Salvador, que estava disposto a "abrir a caixa preta" do caso dos grampos.
De terno preto e óculos escuros, Farias estava acompanhado apenas de seu um advogado. "Vou contar todo o modus operandi do grampo, estou disposto a abrir a caixa-preta", disse aos jornalistas.
O assessor, no entanto, se recusou a entrar em detalhes sobre o conteúdo do que chamou de "caixa-preta". "Isso só vou falar para o delegado."
Farias, segundo o delegado Gesival Gomes de Souza, da PF, era quem operava a central montada dentro da Polícia Civil para realizar os grampos criminosos.
Enquanto aguardava seu depoimento, Farias encontrou-se com o delegado. Os dois limitaram-se a um aperto de mãos.
O delegado, de terno cinza claro, evitou olhar diretamente para seu subordinado e conversou rapidamente com os jornalistas.
"Não vou falar nada que tenha relação direta com os grampos", disse ele. "Mas sei que devo satisfações à sociedade."
O depoimento de Barbosa começou por volta das 15h e não havia terminado até as 19h30. Farias falaria em seguida.
Abdon não ficou convencido de que Barbosa não tenha participação nos crimes. Segundo ele, o delegado poderá ser indiciado por mais de um crime.
"Eu acho que se trata de uma organização criminosa, quando passa de quatro é bando ou formação de quadrilha. Com certeza, há pessoas acima do Valdir, de dentro do governo ou com influência no governo da Bahia", disse o procurador.

Sigilo
A Justiça baiana determinou ontem, após pedidos dos procuradores que acompanham o caso, o fim do sigilo no inquérito.
"Não queríamos passar para a sociedade a idéia de que o Ministério Público Federal é contra a transparência das investigações", disse o procurador Edson Abdon, que no sábado havia obtido liminar garantindo o sigilo.
O senador Juvêncio Fonseca (PMDB-MS), presidente da Comissão de Ética do Senado acompanhou os depoimentos ontem.


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