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AJUSTE RETÓRICO
Presidente diz que não há previsão sobre a inflação que o faça perder "otimismo" e chama críticos de "apressados"
Lula lamenta país "dependente e fragilizado"
Alan Marques/Folha Imagem
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O ministro José Graziano (Segurança Alimentar), o vice-presidente, José Alencar, e o presidente Lula durante evento de combate à fome |
LEILA SUWWAN
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do segundo aumento da
taxa básica de juros em seu governo -de 25,5% para 26,5% ao
ano- na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
falou ontem sobre a situação econômica e afirmou que o país "não
poderia estar tão dependente do
capital internacional e fragilizado". Para Lula, que participou de
um evento voltado ao combate à
fome na CNC (Confederação Nacional do Comércio), é preciso
pensar na recuperação da economia e na redução dos juros.
"Concomitante [à mobilização
social no Fome Zero], temos que
pensar na recuperação do crescimento da economia. Temos que
pensar na redução de juros deste
país. Vocês sabem que a situação
do nosso país não é das melhores.
Um país do tamanho do Brasil
não poderia estar tão dependente
do capital internacional e fragilizado como está hoje", disse o presidente.
E completou: "A nossa economia já poderia estar crescendo.
Mas vai crescer. [...] Não há indicador social, não há número de
previsão de inflação que me faça
perder o otimismo com que eu estava no dia 1º de janeiro, quando
tomei posse".
Em seu discurso na solenidade
de assinatura do protocolo de
cooperação entre o Sesc (Serviço
Social do Comércio) e o Ministério de Segurança Alimentar e
Combate à Fome, Lula disse que a
responsabilidade pelo sucesso do
projeto Fome Zero é exclusivamente da sociedade civil, porque
o governo federal precisa se concentrar na recuperação da economia e em baixar os juros.
É a primeira vez que Lula comenta o aumento dos juros desde
a semana passada.
"Apressados"
O presidente abriu seu discurso
respondendo diretamente a seus
críticos -chamados por ele de
"apressados"- e disse que o Fome Zero, que distribuirá verbas
para a compra de alimentos, não é
"proselitismo" nem "esmola".
"O Fome Zero não terá o sucesso que nós queremos se ficar dependendo apenas do governo. A
sociedade civil, pela sua dinâmica,
será a única e maior responsável
pelo sucesso total do Fome Zero.
O governo vai cumprir sua parte,
vai fazer o que é possível fazer na
medida do Orçamento e da burocracia", disse.
A seus críticos, o presidente
afirmou que o projeto não ocorrerá com a rapidez cobrada e lembrou que há entre 43 milhões e 50
milhões de pessoas -"uma Argentina e meia"- passando fome
no Brasil.
"Há sempre aqueles apressados
que dizem: "Não adianta fazer isso, isso não resolve o problema, é
dar migalha para as pessoas, é dar
um prato de comida, o que nós
precisamos é gerar emprego e riqueza". Quando chegarmos a isso,
teremos ensinado as pessoas a
pescar, mas ainda não chegamos
a esse ponto", disse Lula, em relação a críticas de que o Fome Zero
seria assistencialista. No dia em
que o governo começou a pagar
os R$ 50 para as famílias de Guaribas e Acauã (PI), ele não mencionou o benefício.
Na mesma mesa em que o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), acusado de compra de votos pelo Ministério
Público e pelo PT, Lula também afirmou que a fome leva as pessoas à submissão, o que facilita a troca de votos por comida.
"Não temos que ter vergonha de
enfrentar o debate e dizer que não
estamos fazendo proselitismo.
Não estamos dando esmola a ninguém. A fome, em lugar algum do
mundo, levou o ser humano à revolução. A fome leva sempre à
submissão. A fome leva o ser humano a se tornar um pedinte, presa fácil na época das eleições de muitos políticos brasileiros que
utilizam a pobreza como forma
de se perpetuarem no poder", disse Lula.
O presidente agradeceu aos cerca de 200 presentes por oferecerem um prato de comida aos famintos "enquanto a gente [o governo] não pode fazer a economia
crescer e enquanto não podemos gerar os empregos que queremos".
Lula fez ainda um apelo emocional aos comerciantes ao dizer
que eles devem estar cansados de ver potenciais fregueses, que
"passam olhando e não conseguem comprar", que dormem debaixo das marquises de suas lojas ou que morrem na calçada e só
são removidos 12 horas depois.
Segundo ele, entram e saem governos, deputados, senadores e
ministros e o resultado é sempre o
mesmo: "O povo continua mais
pobre do que antes". Essa foi a
única menção direta à herança de dificuldades que recebeu.
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