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SOMBRA NO PLANALTO
Lula discute hoje em reunião próximos passos para tentar abafar crise causada por Waldomiro Diniz, ex-assessor do Planalto
Ato pró-Dirceu recebe críticas e divide PT
KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Parte da cúpula do governo tem
dúvida sobre a conveniência política do ato de desagravo ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, preparado pelo PT. A oposição já ataca o ato, previsto para a próxima
quarta-feira, em Brasília.
Em reunião marcada para hoje
à tarde no Palácio do Planalto, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutirá os próximos passos
para tentar abafar a crise política
desencadeada pelo caso Waldomiro Diniz e se é conveniente deixar nascer a CPI dos Bingos, que
já tem assinaturas suficientes no
Senado para ser instalada.
Ontem, Lula recebeu no Palácio
da Alvorada o ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda). Há preocupação dos dois em evitar que a
crise política contamine a economia e paralise o governo.
Nesse contexto, a Folha apurou
que alguns ministros avaliam que
o ato de desagravo, ao contrário
de ajudar o governo a superar a
crise, pode colocar mais lenha na
fogueira. Também soa como ação
"defensiva", em contraste com
iniciativas "ofensivas" como foi a
medida provisória que proibiu o
funcionamento dos bingos.
Mais: o desagravo a Dirceu interessa mais ao PT do que ao governo porque o ministro da Casa Civil é visto pelo partido como o nome que defende as bandeiras tradicionais da legenda no governo.
Aliados do PMDB e o grupo do
senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) também têm interesse na manutenção de Dirceu
no posto numa posição de maior
dependência do apoio deles. Ou
seja, valorizam-se e podem cobrar
caro do governo.
Por isso, há membros da cúpula
do governo que dizem que o ato
de desagravo seria um erro e deveria ser suspenso. Eles lembram
que a estratégia do PT de investir
contra seus adversários políticos
na semana passada rendeu mais
prejuízos do que dividendos ao
governo, levando setores do
PSDB e do PFL, antes reticentes, a
apoiar uma CPI específica do caso
Waldomiro, o que desagrada o
Palácio do Planalto.
Mais interessante, avaliam, seria
insistir na chamada "agenda positiva", tentando reacender o debate sobre reforma política e priorizando projetos que o governo
avalia fundamentais para o crescimento econômico. Dois desses
projetos estão no Senado, onde
tramita o pedido de CPI do caso
Waldomiro. São eles: a medida
provisória do setor elétrico e o
projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
A crise política foi gerada pela
divulgação do vídeo gravado em
2002 no qual Waldomiro, homem
da confiança de Dirceu, pede propina e contribuição de campanha
a Carlinhos Cachoeira, empresário do bingo. Na época, ele era
presidente da Loterj (Loteria do
Estado do Rio de Janeiro), no governo Benedita da Silva (PT).
Em 2003, Waldomiro foi trabalhar na Subchefia de Assuntos
Parlamentares da Casa Civil, onde
ficou até o final de janeiro, quando foi transferido na reforma ministerial para a Secretaria de
Coordenação Política e Assuntos
Institucionais. Na Casa Civil, teve
encontro com Cachoeira e representantes de empresa interessada
em renovar contrato com o governo federal.
PFL ataca
"Esse ato [de desagravo a Dirceu] significa que a reação do PT
em relação ao caso Waldomiro
não é de indignação, e sim algo
com o que se pode conviver. Não
é para se indignar com o episódio.
Esse desagravo vai deixar o governo do tamanho do Waldomiro",
disse o líder do PFL, senador José
Agripino (RN). "Não é um ato de
ataque a ninguém, mas o PT não
pode ficar parado diante de tantos
ataques que está sofrendo. Estamos usando o caminho de sempre, a defesa", afirmou o presidente do PT, José Genoino.
Segundo petistas, além de homenagem a Dirceu, o ato seria demonstração de apoio a Lula.
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