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ELIO GASPARI
O Boi Voador da
reforma política
O pessoal da São Clemente
exagera quando diz que
"aqui tudo foi tramado para virar esculhambação", mas, se a
patuléia não se cuidar, o PT-Federal vai lhe vender um Boi
Voador.
Num país onde o andar de cima come os juros reais mais altos do mundo e o de baixo grama uma das maiores taxas de
desemprego de sua história, o
comissariado petista sonha com
uma nova agenda para o debate
nacional. Seria o caso de esperar
que nessa agenda alguém cobrará de Lula o "espetáculo do
crescimento" prometido para
julho passado. Faltam dois dias
para que o IBGE anuncie que
2003 foi um ano de contração
da renda per capita dos brasileiros. A nova agenda nada terá a
ver com a ruína do 11º ano de
predomínio da ekipekonômica.
Ela pretende ludibriar o país por
meio de um Boi Voador que se
denomina reforma política.
Seus pilares são dois. O primeiro é a instituição do sistema
de financiamento público das
campanhas eleitorais. Essa proposta destina-se a tirar dinheiro
do bolso da patuléia para pagar
campanhas eleitorais dos maganos sem que se desative um só
esquema de corrupção e de fraude vigentes. Hoje, candidatos recebem (ou tomam) doações legais e ilegais. Pagam suas despesas com uma contabilidade de
duas caixas. No caixa dois está o
grosso das despesas de marquetagem e de produção de programas de televisão. Quase sempre,
gastos com aviões e automóveis.
Há candidatos que, além de
receberem doações ilegais, embolsam uma parte desse dinheiro. Quem sabe, garante: para
cada real registrado na Justiça
Eleitoral, houve outro, voador.
Numa campanha vitoriosa, de
cada três reais que entram nos
últimos 90 dias, pelo menos um
voa para outro lugar.
Se for instituído um sistema
de financiamento público de
campanhas, tudo continuará
igual, com a diferença de que tomarão algumas centenas de milhões de reais à patuléia para a
montagem do teatrinho da moralidade.
Admitindo que essa modalidade de financiamento estivesse
em vigor, Waldomiro Diniz deixaria de pedir dinheiro a Charlie Waterfalls? É sempre bom
lembrar que o doce Wal achacava o bicheiro dizendo-se arrecadador de duas candidatas, rivais.
Se o PT e os demais partidos
estão falando sério, em vez de
queimar dinheiro dos impostos
para financiar seus candidatos,
devem mostrar que cumprem a
lei. Podem provar que o fazem,
já na campanha municipal deste ano. Basta oferecer ao eleitorado prestações de contas diárias. Podem também divulgar os
custos da produção de cada um
de seus programas de televisão.
Inclusive os salários (reais) dos
marqueteiros.
O segundo Boi Voador da reforma política é a proposta de
instituição do sistema de votação em listas. Em bom português, ele se destina a cassar o direito da choldra de votar no
Enéas Carneiro ou no José Genoino. Numa versão radical, e
improvável, a malta ignorante
seria encarregada de escolher
apenas o partido, Prona ou PT,
no caso. Daí em diante, prevaleceria a ordem na qual os candidatos foram colocados na lista.
O sujeito poderá votar no PT
pensando em eleger o deputado
Chico Alencar, mas a lista, montada pela caciquia, poderá estar
organizada de maneira que o
seu voto irá para um candidato
parecido com o Professor Luizinho.
Pode-se chegar a um sistema
híbrido, no qual apenas uma
parte da bancada será preenchida pela lista partidária. Em
qualquer caso, com a proteção
do comissário José Dirceu e com
o prestígio que adquiriu nas
suas negociações no Congresso,
Waldomiro Diniz ganharia
uma cadeira de deputado num
sistema de listas. Pelo método
atual, dificilmente ele conseguiria 10 mil votos. Com a reforma,
teria proteção suficiente para
ser colocado no topo da lista de
algum partido da base aliada
do PT Federal.
O Boi Voador do comando
parlamentar petista é mais abusado do que o da São Clemente.
Os comissários querem que a
choldra acredite que o sistema
de representação popular melhorará se ela aceitar duas tungas. Numa, tomam-lhe dinheiro
dos impostos para engordar
candidatos. Noutra, confiscam-lhe o direito de votar em quem
bem entende.
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