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REFORMA ADMINISTRATIVA
Falta `coragem' para aprovar mudanças, diz presidente
Para FHC, Congresso age
de forma ``vergonhosa''
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Montreal
O presidente
Fernando Henrique Cardoso
disse ontem, em
Montreal, no
Canadá, que é
``vergonhoso''
que o Congresso
ainda não tenha aprovado a reforma administrativa.
Em entrevista, pouco antes de
retornar ao Brasil, FHC chamou
de ``ranheta'' (rabugenta) a votação de anteontem na Câmara,
quando o governo foi derrotado
na votação do destaque que previa
o contrato de emprego público.
``É vergonhoso levar dois anos
para votar uma lei tão importante
para o Brasil. É demais'', afirmou.
Para FHC, falta ``coragem'' para
aprovar as propostas do governo
de reforma do Estado. ``Ninguém
avança no Brasil se não tiver coragem. Primeiro, a coragem muitas
vezes de dizer não, ou não atender
a uma pressão momentânea.''
O presidente criticou os deputados que ficaram contra o governo
na votação, dizendo que ``muitas
vezes as pessoas não têm consciência, pensando que, votando pela
manutenção do que está aí, estão
sendo ultra-avançadas''. Segundo
ele, "os problemas não podem ser
empurrados com a barriga''.
FHC disse que a derrota foi "acidental'' e que vai ``insistir'' nas
mudanças na área administrativa.
Falando a empresários canadenses, minimizou derrotas do governo no Congresso, sem citar diretamente a reforma administrativa.
``Quando perdemos alguma coisa, pequena, não essencial, os jornais dão manchete. Mas, nos últimos dois anos e meio, estamos
conseguindo um conjunto de vitórias com três quintos do Congresso. Não há, no mundo, outro lugar
onde isso ocorra'', disse.
Fernando Henrique isentou o
presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e o partido do deputado,
o PMDB, de culpa pela derrota do
governo. ``Não acho que isso possa ser colocado nos ombros de
uma só pessoa; dele (Temer), da
minha ou de um partido.''
Ao chamar as atuais regras administrativas de ``padrões antiquados'', FHC acenou com pagamento melhor para servidores ``competentes'' e demissão para "os outros que não o são'' após a reforma.
Repercussão
Em Brasília, o líder do PFL na
Câmara, Inocêncio Oliveira (PE),
considerou "excessivas'' as declarações do presidente.
Para Inocêncio, vergonhosa
-palavra usada pelo presidente
para se referir ao comportamento
do Congresso- é uma definição
``muito forte''.
"Eu creio que foi o desabafo de
um homem público que tem procurado fazer as reformas necessárias para adequar o nosso país à
nova realidade mundial'', disse.
Segundo o pefelista, a decisão da
Câmara foi ``infeliz''. Ele entende
que todos os partidos governistas
têm de dividir a responsabilidade
pela derrota. "A vitória tem muitos pais, mas a derrota é órfã.''
A petista Sandra Starling (MG)
disse que FHC ``continua covarde'', porque ``fala mal dos movimentos sociais e dos políticos
quando sai do país''. "Ele não reconhece uma única atitude de independência do Congresso.''
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