|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LEGISLATIVO X JUDICIÁRIO
Presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Congresso voltam a trocar críticas e acusações
ACM e Pertence acirram ataques a Poderes
SILVANA DE FREITAS
RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília
Decisões relativas à CPI dos Precatórios provocaram ataques durante todo o dia de ontem entre os
presidentes do Supremo Tribunal
Federal (STF), Sepúlveda Pertence, e do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Às 14h, ao abrir a sessão plenária
do STF, Pertence leu uma carta de
protesto contra declarações feitas
por ACM anteontem.
O senador havia criticado decisão do ministro do STF Carlos Velloso de manter a liminar que suspendeu a quebra do sigilo telefônico de Pedro Neiva, investigado pela comissão do Senado.
``Temos os meios de fazer com
que o Supremo faça cumprir as
nossas leis e possa interpretá-las
como elas devem ser interpretadas. Acho que não deve haver confronto entre os Poderes, mas, em
havendo, evidentemente não é o
Legislativo que vai perder'', disse
ACM anteontem.
Pertence respondeu com ironia
às ameaças. ``Sempre haverá os
nostálgicos dos tempos idos. E, no
regime democrático, até a nostalgia da ditadura é livre.''
Segundo o texto lido por Pertence, ``desde Napoleão, a ninguém
mais ocorrera proibir o juiz de interpretar as leis''.
``Pode haver alhures juízes que
aceitem ordens de como interpretar e aplicar a lei. Para felicidade da
nação, eles não têm tido assento
no STF'', afirmou.
O presidente do Supremo disse
que o ato atacado pode ser ``de
qualquer autoridade, não importa
sua hierarquia, o poder a que pertence ou quanto votos teve''.
ACM responde
Após saber do pronunciamento
de Pertence, o presidente do Congresso reagiu da tribuna do Senado. Ele acusou o ministro do STF
de estar agindo como ``presidente
da UNE (União Nacional dos Estudantes)''. Após o discurso, foi
aplaudido pelo plenário.
``Não posso ser presidente de diretório, como presidente do Congresso. Nem o presidente Fernando Henrique Cardoso pode, como
presidente da República, e muito
menos o senhor Sepúlveda Pertence, pode continuar, ainda, como
presidente da UNE, na presidência
do Supremo Tribunal Federal'',
afirmou o senador.
ACM mencionou que alguns ministros do STF foram nomeados
por governos militares.
``Talvez Sua Excelência (Pertence) devesse estar fazendo essa afirmação (sobre "nostalgia da ditadura") por causa de algum colega
seu que foi nomeado pela ditadura, porque aqui todos foram eleitos livremente pelo povo brasileiro
em regime pós-ditadura''.
O STF tem quatro ministros indicados pelo regime militar -Moreira Alves, Sydney Sanches, Octávio Gallotti e Néri da Silveira.
Após a sessão, ACM deu entrevista e foi mais enfático nas críticas. Disse que é ``um hábito errado'' dos ministros do STF a participação de debates públicos. ``O que
acho -e devo dizer sinceramente- é que não está certo esse debate público de ministros do STF. A
tribuna política é o Congresso e até
mesmo o Executivo. O juiz julga
nos autos. O juiz não fica discutindo na imprensa. É um hábito errado do STF.''
Tréplica
Pertence comentou ontem mesmo a reação de ACM -especificamente, as referências do presidente do Congresso à indicação de ministros do STF.
``Para mim fica difícil falar, porque fui nomeado (para o STF) pelo
mesmo presidente da República
que nomeou ACM ministro de Estado'', disse, falando de José Sarney, em cujo governo ACM respondeu pelo Ministério das Comunicações.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|