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ALIADOS EM CRISE
"Nunca neguei a lista", afirma senador, admitindo pela primeira vez de forma clara que teve documento
"Destruí, rasguei", diz ACM da lista que leu
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse ontem
que teve acesso à lista com a votação secreta da cassação de Luiz
Estevão. Recebeu-a, segundo diz,
do senador José Roberto Arruda
(PSDB-DF). Indagado sobre o
destino do documento, ACM diz:
"Destruí. Rasguei".
O ex-presidente do Senado, que
comandou a sessão que cassou o
mandato de Luiz Estevão, diz não
lembrar se destruiu a lista na presença de Arruda.
ACM diz ter mantido sigilo sobre a lista para evitar a anulação
da cassação de Estevão, antecipando o que dirá no depoimento
ao Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar do Senado, amanhã.
Seu argumento é que, no dia da
cassação de Estevão, seria impossível garantir que votos não haviam sido alterados.
Haveria pressão, segundo ACM,
para que uma nova votação fosse
realizada. Nessa hipótese, ela teria
de ser realizada em outra data.
Luiz Estevão poderia, nesse caso,
ganhar tempo para tentar reverter
o resultado adverso.
Recluso no dia de ontem, ACM
falou pouco em público. Conversou rapidamente com a Folha, no
final da tarde. O plenário do Senado estava quase vazio. Ele interrompeu a entrevista várias vezes
para falar com alguns senadores
que ainda estavam no local.
Não foi possível questioná-lo
nos cerca de cinco minutos que
durou a entrevista inteira, descontadas as interrupções.
A seguir, os principais trechos
da entrevista de ACM, que deve finalizar hoje com seus advogados
e assessores o teor do depoimento
que dará amanhã sobre o caso:
Folha - O sr. vai admitir em seu
depoimento, com todas as letras,
que teve acesso à lista?
Antonio Carlos Magalhães -Vou.
Folha - Admitir isso não prejudica
a sua defesa?
ACM - Não.
Folha - Por quê?
ACM - Vou explicar detalhadamente o que aconteceu. A razão
da necessidade de manter o sigilo
e não de punir na hora quem cometeu o delito foi para não tornar
sem efeito a cassação de Luiz Estevão.
Folha - Mas já está claro que isso,
a anulação da cassação, não vai
acontecer...
ACM - Está claro agora, depois
que a Unicamp fez um laudo atestando que não foram modificados
os votos. Naquele dia, não. Poderia haver um movimento pela
anulação da cassação.
Folha - O fato de o sr. admitir que
teve a lista não o complica, já que
ficaria comprovado que o sr. não
disse a verdade outras vezes?
ACM - Eu nunca neguei a lista...
Falei em lista... Era uma lista como outra qualquer. Como poderia saber ao certo?
Folha - O sr. então vai argumentar que não poderia saber, ao certo, que a lista de fato informava como votaram os senadores na cassação de Luiz Estevão?
ACM - Não é bem isso. É melhor.
Folha - O sr. recebeu a lista do senador Arruda. O que fez com ela?
ACM - Destruí. Rasguei.
Folha - Fez isso na presença do senador Arruda?
ACM - Não me lembro.
Folha - Quando esteve em sua sala com a lista, o senador Arruda só
apresentou a cópia que entregou
ao sr. ou tinha mais cópias?
ACM - Ele levou só uma cópia.
Folha - E sobre a sua ligação telefônica agradecendo a ex-diretora
do Prodasen Regina Borges?
ACM - Continuo a não me lembrar. Mas vou fazer uma nova
análise disso hoje [ontem" à noite.
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