São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Disquetes de Ivar foram apreendidos e podem revelar lista

Marido de Regina confirma que Arruda pediu a lista

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O funcionário do Prodasen Ivar Alves Ferreira, marido da ex-diretora do órgão Regina Peres Borges, contestou ontem, em dois depoimentos, parte da versão dada pelo ex-líder do governo no Senado José Roberto Arruda para a violação do sigilo da votação da cassação do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF).
Ivar afirmou que o senador Arruda (que se desligou ontem do PSDB) não fez apenas uma consulta sobre a possibilidade de os votos serem conhecidos, como afirmou anteontem em discurso.
"Ele fez um pedido, em nome do presidente Antonio Carlos Magalhães, e Regina saiu do apartamento dele afirmando o seguinte, como ela disse aqui: "Estou saindo para cumprir uma ordem'", afirmou Ivar.
Em seu discurso no plenário do Senado, no qual assumiu parcialmente a responsabilidade pela violação, Arruda afirmou que havia feito uma mera consulta à diretora do Prodasen e lamentou que Regina tivesse se "precipitado" e mandado violar o painel de votações do Senado.
"Não foi uma consulta", insistiu Ivar, ao responder seguidas perguntas de senadores no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, ontem à noite. Pela manhã, ele já havia prestado depoimento ao corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP).
Durante o depoimento a Tuma, todos os disquetes usados diariamente por Ivar, num total de 56, foram apreendidos por ordem do senador e enviados à Polícia Federal, para perícia.
A intenção de Tuma é tentar recuperar a lista de votação, que teria sido apagada. Embora ela não deva ser oficialmente divulgada, pelo fato de conter dados de uma votação secreta, Tuma disse que se trata da prova material do delito e que servirá para confirmar ou não os depoimentos.

Data do encontro
Ivar afirmou ainda que o senador Arruda chamou Regina em seu apartamento para pedir que ela fizesse a violação do painel eletrônico, entre as 21h e as 22h do dia 27 de junho do ano passado, véspera da cassação.
"Tenho certeza da data, porque fomos logo depois para o Prodasen [Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado". Tínhamos poucas horas para fazer a mudança no programa do computador", afirmou o marido da ex-diretora do órgão.
Se ficar provado que o encontro entre Regina e Arruda aconteceu na noite do dia 27, todas as afirmações feitas no discurso de Arruda no plenário no último dia 18, com uma minuciosa agenda, ficam desmoralizadas, e a situação do senador fica ainda mais difícil perante os colegas.
Ivar confirmou ponto por ponto o depoimento de Regina. Disse que participou da operação por solidariedade a sua mulher, que teria chegado da visita ao apartamento do senador Arruda muito aflita e angustiada.
Segundo ele, a decisão de violar o painel não foi fácil para nenhum dos funcionários, mas eles tinham pouco tempo para decidir e tinham em mente que estavam atendendo a um pedido do presidente do Senado, que na época era o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Ivar afirmou que, no dia seguinte, Regina avisou ao grupo que ACM havia telefonado para agradecer pelo envio da lista e todos respiraram aliviados. "Hoje eu vejo que é uma idiotice, mas estávamos tão tensos que qualquer migalha era um alento", disse.
Ivar disse que chegou ao Prodasen por volta de 1h30 da manhã do dia 28 e que, cerca de duas horas depois, havia aprendido a fazer a alteração no programa, com a ajuda de Sebastião Gazzola Jr., que havia trabalhado temporariamente na empresa que produziu o painel de votações do Senado.
Gazzola havia iniciado seu depoimento ao Conselho de Ética do Senado durante o fechamento desta edição.


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