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DIVISÃO NO SOCIAL
Iets tem ideólogos do governo responsáveis por diretriz econômica
Instituto financiado pelo Bird inspira política social de Lula
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Formuladores da política econômica e social do governo Luiz
Inácio Lula da Silva são sócios no
Iets (Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade), entidade sem
fins lucrativos financiada por organismos internacionais -como
Banco Mundial (Bird) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)- e dinheiro da União.
Marcos Lisboa, secretário de
Política Econômica do Ministério
da Fazenda, além de sócio, é
membro do conselho de administração do Iets. Nos dois últimos
anos, recebeu por participação
em pesquisas. Ricardo
Henriques, secretário-executivo
do Ministério da Assistência e
Promoção Social, não mantém
atividade no Instituto há um ano
embora ainda seja sócio. Um terceiro sócio integra a equipe de
Henriques: Pedro Olinto, secretário de Avaliação do ministério.
Tanto a nova "cara" da política
econômica, recentemente divulgada pelo ministro Antonio Palocci Filho em 95 páginas do documento "Políticas Econômicas e
Reformas Estruturais", como a
"guinada social" em curso na área
social têm origem em trabalhos
feitos no Iets.
O site do instituto destaca a notícia de que o texto divulgado por
Palocci "retoma os princípios da
"Agenda Perdida'", documento
coordenado por Lisboa em parceria com o economista José Alexandre Scheinkman e apresentado na última campanha eleitoral.
A proposta de coordenação dos
programas de transferência de
renda aos pobres que Lula deve
apresentar no mês que vem está
afinada com duas pesquisas em
curso no Iets. Uma delas tem por
título "Avaliando o grau de focalização da política social brasileira"
e é financiada pelo Conselho Britânico. A outra, bancada pelo
BID, chama-se "Uma avaliação da
fidedignidade das informações do
Cadastro Único".
A coordenação dos programas
foi atribuída ao Ministério da Assistência e Promoção Social, onde
trabalham Henriques e Olinto.
Mais do que um possível conflito
ético, a sociedade do Iets mostra
que a formulação da política econômica e social do governo tem
um endereço comum e até aqui
desconhecido: a cobertura do nš
100 da Praia do Flamengo, no Rio
de Janeiro, sede do instituto.
Campineiros X cariocas
O documento de Palocci e a direção da "guinada social" são pivôs de uma disputa por hegemonia na formulação de políticas do
governo Lula, tornada pública no
início da semana por meio de entrevista da economista Maria da
Conceição Tavares à Folha.
"O governo Lula tem afinidade
histórica com os "campineiros"
[economistas da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas],
mas sua política tende para o grupo de economistas cariocas", avalia Marcelo Neri, outro sócio-fundador do Iets, junto com economistas como Ricardo Paes de Barros e José Márcio Camargo, vinculados respectivamente à Fundação Getúlio Vargas, ao Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) e à PUC-Rio.
Tavares mirou em Lisboa, a
quem acusou de querer acabar
com a "universalização" dos serviços sociais, o que seria uma expressão do pensamento liberal.
Mas o grupo de quem a economista foi porta-voz se opõe mais
imediatamente ao formato alternativo dos programas de transferência de renda aos pobres comandado por Ricardo Henriques.
Diferentemente do cartão-alimentação criado pelo ministro
José Graziano (Combate à Fome),
que limita o uso do dinheiro à
compra de alimentos, o programa
único de transferência de renda
dará liberdade de compra às famílias pobres e exigirá contrapartidas, como a frequência às escolas, a cursos de alfabetização e a
postos de saúde.
Inspirada na tese de que o gasto
social do Brasil não precisa ser
maior, mas ter mais qualidade, a
equipe do Iets tem propostas como rediscutir o mecanismo de financiamento das universidades
públicas gratuitas. "Essas universidades são destinadas às elites",
diz André Urani, secretário-executivo do Instituto. Segundo Ricardo Henriques, o tema não
consta da pauta do governo.
Henriques pondera que o conjunto de pesquisadores do Iets começou a trabalhar há quase quatro anos em programas de combate à pobreza e inclusão social.
"É razoável que essas pessoas estejam num governo progressista
do PT", diz o secretário-executivo
do Ministério de Assistência e
Promoção Social, bastante elogiado por Palocci.
Oscip
O Iets está registrado no Ministério da Justiça como uma Oscip
(Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público). É uma espécie de prima-irmã das ONGs (organizações não-governamentais).
A principal diferença é a transparência na prestação de contas com
que as Oscips se comprometem.
Pesquisa feita pela Folha no site
do instituto mostra que os balanços de 2001 e 2002 não foram publicados. Segundo o secretário-executivo do Iets, André Urani, os
demonstrativos financeiros foram incluídos no site ontem na
hora do almoço, mas não estavam
disponíveis à tarde.
Ainda segundo Urani, Marcos
Lisboa teria recebido "apenas" R$
11.500 do instituto nos dois últimos anos por participação em
pesquisas. Ricardo Henriques
não teria tido remuneração.
A União é uma importante financiadora do instituto. Segundo
pesquisa feita no Siafi (sistema informatizado de acompanhamento dos gastos federais), os cofres
públicos federais repassaram R$
3,4 milhões ao Iets em 2001 e 2002.
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