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DIVISÃO NO SOCIAL
Ministro defende propostas para área contidas em documento e diz que focalização é "questão de bom senso"
Focar verba não é ser de direita, diz Palocci
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) reafirmou ontem
as propostas para a área social
contidas no documento "Política
Econômica e Reformas Estruturais", divulgado no dia 10 pelo sua
pasta: "A focalização é uma questão de bom senso e não de política
de direita ou de esquerda".
O fato de o documento da Fazenda tratar da questão social,
ressaltando a necessidade de o Estado focalizar as políticas para o
setor, levantou a ira de petistas
históricos, como a economista
Maria da Conceição Tavares, 73.
Para os opositores da idéia, a
equipe econômica, ao falar em focalização, teria começado a "ensaiar" um ataque às políticas universais de saúde, educação e Previdência Social, trazendo o que
chamam de "liberalismo" de sua
área para a seara social.
Palocci detonou essas interpretações. "Hoje se inventou um tal
debate de focalização e universalização que não sei de onde surgiu.
Agora uma coisa é certa: se é necessário políticas universais na
área de saúde, educação e Previdência, isso não impede que, ao
fazermos programas de distribuição de renda, não tenhamos foco
nas pessoas que mais precisam."
O ministro disse ainda que os
quadros de distribuição dos programas de renda no Brasil são
"terrivelmente malfeitos". "Se
avaliarmos qualquer grupo de população em qualquer região, vamos encontrar 5.000 famílias que
recebem dez programas e 10 mil
que não recebem nenhum. Essa é
a questão de focalizar nas pessoas
que mais precisam e ordenar políticas de renda fazendo com que
elas tenham mais eficácia."
Palocci falou sobre focalização
ontem durante sua participação
no seminário "O Planejamento e
a Nova Agenda de Desenvolvimento", promovido pelo Ipea, em
Brasília. Seu secretário de Política
Econômica, Marcos Lisboa, principal alvo das críticas de Maria da
Conceição, não compareceu ao
evento. Lisboa é o autor do documento defendido por Palocci e
execrado pela economista.
Apesar das críticas aos programas de distribuição de renda herdados de Fernando Henrique
Cardoso, Palocci ressaltou que os
programas que repassam dinheiro direto para o cidadão reduziram a corrupção, que no passado
foi marca das políticas sociais. Citou os bem-sucedidos Bolsa-Escola e Bolsa-Alimentação.
O ministro descartou qualquer
relação entre focalização e uma
eventual mudança no sistema de
atendimento universal de saúde:
"A questão de focalizar nas pessoas que mais precisam e ordenar
políticas de renda não tem nada
haver com mudar SUS ou política
de educação".
Palocci aproveitou para ser gentil com o ministro Cristovam
Buarque, que nesta semana pediu
mais dinheiro para educação e foi
repreendido em público por Lula.
"Em educação, se nós mudarmos
é para ter mais investimentos."
Palocci reafirmou a principal
mudança de enfoque da política
econômica do governo para a
área social, que é a necessidade de
criar políticas capazes de distribuir renda e de gerar emprego ao
mesmo tempo em que se busca o
equilíbrio macroeconômico.
"Não adianta vir com a velha
idéia de que é preciso esperar o
bolo crescer para distribuir. Não
haverá crescimento sustentado
sem equilíbrio macroeconômico.
Agora, não haverá crescimento só
com esse equilíbrio. É preciso ter
política de distribuição de renda e
de geração de emprego. Não defendo um Estado interventor,
mas que coordene as coisas."
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