São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2001

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SENADO EM CRISE

Presidente telefona e diz que ex-líder foi "combativo e competente"

Arruda renuncia ao Senado, poupa FHC e já prepara volta pelo PFL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de passar uma semana ameaçando atacar o Palácio do Planalto, José Roberto Arruda (sem partido-DF) renunciou ontem ao mandato de senador sem fazer ataques ao governo: "Atacar não é da minha conduta. Meus compromissos de lealdade nascem de meu caráter e isso não exige reciprocidade. Eu cometi um erro, e ninguém tem culpa disso".
Primeiro senador a renunciar ao mandato para evitar uma cassação, Arruda fez essa declaração logo depois de receber um telefonema do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Ele me deu um abraço. Foi elegante", disse. Na ligação, FHC disse que, como líder do governo, Arruda tinha sido "combativo e competente".
À noite, o Palácio do Planalto reagiu a rumores de que Arruda teria dito ao presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), que mostrara a lista com os votos secretos dos senadores a FHC.
"Duvido que ele [Arruda] tenha dito isso, e o presidente não teria nenhum interesse político no caso nem a curiosidade mórbida de saber quem cassou o senador Luiz Estevão", disse o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, para contestar os boatos.
Aloysio disse ter presenciado uma conversa de Arruda com FHC na biblioteca do Palácio da Alvorada, na qual o senador negou ter tido acesso à lista. Tal conversa, segundo Aloysio, teria ocorrido horas antes de Arruda defender tal versão no plenário do Senado. A versão durou pouco.
Na véspera da renúncia, os ânimos do ex-senador foram apaziguados pelo ministro tucano Pimenta da Veiga (Comunicações), encarregado de dissuadir Arruda da idéia de atacar o governo.
Um de seus alvos seria o ministro da Saúde, José Serra, a quem o ex-tucano atribui o comando de uma articulação para tirá-lo do PSDB. Serra nega a articulação. Se não tivesse deixado a legenda, Arruda seria expulso pelo partido.

Retorno
O presidente do Senado, Jader Barbalho, combinou com o ex-tucano os detalhes protocolares da renúncia no café da manhã de ontem, na casa do peemedebista.
Já em casa, na companhia de amigos, familiares e eleitores, o ex-senador falou de sua mais nova idéia: lançar o livro "A Lista", com os bastidores de todo o episódio, mas sem a relação dos votos que cassaram o mandato do ex-senador Luiz Estevão.
Arruda pensa em voltar à política, provavelmente pelo PFL, mas afirma ter recebido também convites do PL, do PPS e do PTB. A proximidade com os pefelistas marcou o roteiro da renúncia. A primeira versão do discurso lido ontem foi escrita pelo ex-tucano no gabinete do senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL, concomitantemente à votação do Conselho de Ética que propôs a abertura de processo de cassação.
"Vou botar calça jeans, botina e voltar a trabalhar", afirmou Arruda. Engenheiro da CEB (Companhia Energética de Brasília), ele pretende viajar hoje para Itajubá (MG), sua cidade natal. Depois disso, seus planos são voltar à empresa e trabalhar no entorno da capital, onde buscaria apoio para sua futura campanha.
Também na lista de seus afazeres está o envio de uma carta ao senador Carlos Wilson (PPS-PE), terceiro secretário do Senado, pedindo para atenuar as punições da servidora Regina Peres Borges e os outros três servidores do Prodasen que participaram da violação do painel. "Não se pode agir com ela [Regina" de uma maneira tão radical como agiram comigo. Meu julgamento foi político, o dela não é", afirmou Arruda.



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