São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2001

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JANIO DE FREITAS

Deu pânico na área

Um pequeno parágrafo, na 56ª linha e quase ao fim da notícia sobre o encontro de Fernando Henrique Cardoso com quatro governadores do PMDB, proporciona a melhor explicação disponível para o seu destampatório com evidências, mais que de descontrole, de aflições desesperadas mesmo. Explicada como apelo aos governadores peemedebistas para que o PMDB não adote candidatura de Itamar Franco à Presidência, mantendo-se aliado ao PFL e ao PSDB, a reunião deixou outro registro:
"O presidente disse a seus interlocutores que a mobilização precisa ser iniciada já, antes que a candidatura de Itamar vire um fato consumado". Já. Ou seja, com a rapidez que ele usou para sair atacando os opositores em seguida às vitórias da pré-candidatura de Itamar nas convenções peemedebistas e na decisão do PL de apoiá-la.
O lugar e as presenças da reunião são por si mesmos eloquentes sobre o que vem por aí. Foi na casa do multidenunciado Joaquim Roriz, com o pernambucano Jarbas Vasconcelos, o político brasileiro de conduta partidária mais sinuosa em sua geração; o paraibano José Maranhão, cujo governo naquele dia (anteontem) foi incluído no rol dos escândalos, e com o já presente Garibaldi Alves, do Rio Grande do Norte.
O surto de aflição baixou na Presidência porque ali não era esperado êxito expressivo de Itamar Franco, mas, sobretudo, porque as longas ações para a vitória de Michel Temer davam-na como certa. Orestes Quércia venceu e seu primeiro gesto de vitorioso foi apoiar Itamar.
Mas só por isso o desespero atabalhoado e tão agressivo? A hipótese de eleição de Itamar Franco é vista por Fernando Henrique e seu círculo de próximos, incluindo pefelistas, como o único risco verdadeiro de CPIs, outros gêneros de investigação e processos voltados para o atual governo e integrantes seus. O temor é justificado, sem dúvida.

Trabalhar?!
No destampatório de Fernando Henrique, em entrevista muito bem trabalhada jornalisticamente por Tereza Cruvinel, de "O Globo", quando o desatino sai da fúria é para cair no engraçado:
"Quer saber? Quando terminar meu mandato, terei que trabalhar, fazer conferências ou escrever para sobreviver".
Fernando Henrique tem aposentadoria integral, embora sem tempo para isso, e acrescida de um tipo de adicional noturno a que não tinha direito; receberá até a morte os vencimentos de presidente e mordomias várias e, para superlotar o caixa, Ruth Cardoso também recebe a aposentadoria generosa. Só aí, com toda a certeza, mais de R$ 260 mil por ano.
Fernando Henrique tem apartamento, sítio, a fazenda que pôs em nome dos filhos para que não seja citada no exterior como propriedade sua sob ameaça de invasão e, ainda, bens de alto valor, como o plantel de touros importado para faturar com reprodução. Sem falar em comentadas possibilidades parisienses.
De fato, 72 anos não é idade para alguém começar a trabalhar. Ainda mais sendo para dizer e escrever coisas que devam ser logo esquecidas.



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