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País subutiliza mão-de-obra qualificada, aponta estudo
Desde 1980, capital humano cresce num ritmo muito superior ao da economia
Roberto Albuquerque, do Inae, avalia que hoje, se o Brasil crescer 5% ao ano, pode aproveitar melhor sua mão-de-obra qualificada
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil vive, desde 1980, um
paradoxo. De um lado, há poucas dúvidas de que a baixa qualificação de sua mão-de-obra é
um sério entrave para o crescimento econômico. De outro,
olhando para trás, o que se verifica é que o crescimento da economia foi insuficiente para
aproveitar a melhoria na qualificação de seu capital humano.
Esse quadro fica claro na
análise de um estudo que será
divulgado nesta semana no 20º
Fórum Nacional, de 26 a 30 de
maio no Rio, pelo diretor-técnico do Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos), Roberto
Cavalcanti de Albuquerque. O
trabalho compara a evolução
do capital humano brasileiro
-medido por meio do tamanho
da população com 15 anos ou
mais de idade e sua alfabetização e escolaridade média- com
a variação do PIB desde 1970.
Na primeira década comparada, essas duas variáveis cresceram em ritmos similares, o
que indica que a economia gerava empregos compatíveis
com a qualificação da mão-de-obra. Desde 1980, porém, há
um descolamento das duas variáveis e o capital humano passa a crescer num ritmo muito
superior ao da economia, indicando subaproveitamento do
potencial da mão-de-obra.
Albuquerque explica que esse aparente paradoxo ocorreu
no Brasil porque a formação de
uma mão-de-obra qualificada é
aspecto importante, mas não o
único, a influenciar o crescimento econômico. "É preciso
ter, de um lado, um processo de
formação de capital humano
dinâmico, mas, de outro, tem
que ter também uma economia
que gere os empregos compatíveis com essa evolução. Foi justamente isso que faltou ao Brasil nos anos 80 e 90."
Para o diretor-técnico do
Inae, no entanto, as condições
hoje são mais favoráveis ao melhor aproveitamento do capital
humano: "Se o país conseguir
crescer num ritmo de 4% a 5%
ao ano, o cenário até 2015 é otimista, já que a pressão por vagas no mercado de trabalho
tende a diminuir por causa do
crescimento demográfico em
ritmo mais lento".
Desenvolvimento Social
Além de analisar a relação
entre crescimento econômico e
capital humano, o estudo também analisa a evolução social
no Brasil a partir de um novo
indicador: o IDS (Índice de Desenvolvimento Social). A exemplo do que faz o IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano),
da ONU, o IDS considera indicadores de saúde, educação e
renda para comparar regiões,
mas agrega a essas três dimensões também aspectos relativos
ao trabalho e à habitação.
O IDS permite comparar a situação de regiões e Estados
brasileiros desde 1970. Ele
mostra que a desigualdade entre regiões caiu bastante, com o
Norte e o Nordeste se aproximando do restante do país.
Outra análise possível a partir do trabalho é a comparação
entre o grau de desenvolvimento social e o PIB per capita. Ao
confrontar essas duas variáveis, é possível identificar Estados ou regiões que poderiam
estar numa posição melhor do
ponto de vista de seus indicadores sociais se aproveitassem
melhor sua riqueza.
Um exemplo claro disso é a
comparação das regiões Sul e
Sudeste. Apesar de ter um PIB
per capita 17% superior ao do
Sul, o Sudeste fica atrás dessa
região quando se leva em conta
o conjunto de seus indicadores
sociais medido pelo IDS.
O mesmo pode ser feito com
os Estados. Neste caso, o destaque negativo é o Rio, que tem o
terceiro maior PIB per capita
do país, mas apenas o sétimo
maior desenvolvimento social.
Mato Grosso, Amazonas e Pernambuco são outros exemplos
de desenvolvimento social
aquém do PIB per capita, quando comparados com as demais
unidades da federação.
Por outro lado, além dos três
Estados da região Sul, Tocantins e Ceará são exemplos de
unidades da Federação em que
seu desempenho social é melhor na comparação nacional
do que o seu PIB per capita.
Albuquerque explica que, no
caso da região Sul, um indicador importante a explicar o melhor aproveitamento de sua riqueza em termos de desenvolvimento social é a menor desigualdade nos rendimentos, que
é um dos indicadores considerados na elaboração do IDS.
No caso do Rio de Janeiro,
duas dimensões colocam o Estado para baixo nessa comparação: a alta taxa de desemprego e
um desempenho ruim na área
da saúde quando ele é comparado com Estados com PIB per
capita semelhante.
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