São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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PERSONALIDADE

Geógrafo convivia com a doença havia sete anos; enterro contou com a presença da prefeita Marta Suplicy

Milton Santos morre de câncer aos 75

Flávio Florido-27.abr.2001/Folha Imagem
O geógrafo Milton Santos, professor emérito da USP e autor de "Por uma Outra Globalização", entre mais de 40 livros, morto ontem


DA REPORTAGEM LOCAL

O corpo do geógrafo Milton Santos foi sepultado às 16h de ontem no cemitério da Paz (zona sul de São Paulo), na presença de cerca de 150 pessoas. Professor emérito da USP (Universidade de São Paulo) e um dos mais renomados intelectuais do país, Santos morreu às 3h10 de domingo, no Hospital do Servidor Público Estadual, Vila Clementina (zona sul).
Santos sofria de um câncer de próstata diagnosticado havia sete anos. Sua morte foi atribuída a uma insuficiência respiratória provocada por carcinomatose, quando o câncer já atinge vários órgãos do corpo.
Apesar do diagnóstico da doença, Santos manteve um ritmo de trabalho intenso nos últimos anos. Continuou dando aulas na USP até o ano passado, quando lançou dois novos livros. Reclamava de dores aos amigos, mas dizia que deixar o trabalho seria uma "concessão à doença".
Continuou a frequentar a universidade até março e pretendia escrever um novo livro sobre o urbanismo de Salvador, tema de sua tese de doutorado nos anos 60, durante exílio na França.
No último dia 16, Santos recebeu em casa a amiga e discípula Maria Adélia, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Ele me disse: vamos continuar. Era uma despedida".
No domingo retrasado Santos teve seu estado de saúde agravado. Foi internado na quarta-feira, dia 20, já com um quadro bastante crítico. A doença tinha atingido os ossos e a medula óssea, o que provocava dores intensas que não cessavam nem com analgésicos.
Na noite da quinta-feira, diante do quadro terminal, a família e os médicos decidiram sedá-lo, de forma a evitar mais sofrimentos.
Santos se despediu da mulher, Marie-Hélène, do filho, Rafael, e de alguns poucos amigos antes de ser sedado. Segundo os médicos, Milton Santos permaneceu no leito número 8, da hematologia, no 13º andar do Hospital do Servidor, sem a ajuda de aparelhos.
De acordo com Rafael Santos, que estava a seu lado na madrugada de ontem, seu pai teve "uma morte tranquila".
O enterro reuniu ex-alunos, colegas e amigos. Professores das universidades federais da Bahia, Ceará, Santa Catarina e Rio de Janeiro viajaram para o enterro. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, que havia convidado Santos a organizar um grupo de estudos sobre o impacto da globalização nos centros urbanos, também compareceu. Estava acompanhada do ex-marido e senador, Eduardo Suplicy (PT-SP).
O corpo de Santos foi velado em cerimônia reservada. O presidente Fernando Henrique Cardoso enviou nota à família, mas decidiu não se manifestar publicamente.



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