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CRIME ORGANIZADO
Ex-governador nega relação com quadrilha de Arcanjo Ribeiro
"Vasculhem minha vida", diz Dante sobre acusação
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-governador de Mato Grosso Dante de Oliveira (PSDB) negou ontem a acusação de que seu
comitê de campanha eleitoral tenha recebido recursos provenientes da Confiança Factoring, empresa de João Arcanjo Ribeiro,
chefe de uma das maiores quadrilhas do país. "Tentar me envolver
com o crime organizado é um absurdo", declarou à Folha.
Em depoimento à Justiça, no último sábado, Nilson Roberto Teixeira, ex-gerente-geral da Confiança Factoring, disse que a firma
de Arcanjo Ribeiro realizou "pagamentos de campanha do ex-governador Dante de Oliveira". As
despesas teriam sido cobertas por
27 depósitos do DVOP (Departamento de Viação e Obras Públicas
de Mato Grosso). De acordo com
rastreamento feito pelo Banco
Central, somam R$ 1.723.600,00.
"O que pode ter acontecido é que
o DVOP pagou a determinado
fornecedor, ele pegou esses cheques e foi lá, entregou como pagamento de dívida", afirmou Dante.
Nilson Teixeira disse que se reuniu na firma de Arcanjo Ribeiro
com dois coordenadores de campanha de Dante: José Carlos Novelli, ex-dirigente do DVOP, e
Carlos Avalone, ex-secretário de
Indústria e Comércio. Ambos negam, segundo Dante, a realização
de negócios com a factoring.
"O Carlos Avalone tinha uma
amizade pessoal com o Nilson",
disse Dante. "Mas relações de negócio, ainda mais envolvendo governo e campanha, é outra coisa."
Algum entendimento pode ter
sido feito sem o conhecimento de
Dante de Oliveira? "Eu nunca autorizei e nunca fui consultado para nada disso. Por mim nunca
passou absolutamente nada e
acredito que não tenha havido nada", disse o ex-governador.
Folha - O sr. analisou, com seus
advogados, o depoimento de Nilson Roberto Teixeira, gerente da
empresa de factoring de João Arcanjo Ribeiro?
Dante de Oliveira - Nós conversamos bastante, elaboramos uma
nota oficial que diz o que penso.
Folha - O que aconteceu?
Dante - A verdade é que eu sempre tive posição muito clara. Nunca autorizei nem tive contato com
factoring, coisa nenhuma. Passei
o meu governo inteirinho cobrando do Fernando Henrique e das
autoridades federais que trouxessem para o Mato Grosso, para cuidar das fronteiras, as Forças Armadas. Sempre achei que era um
papel indelegável das Forças Armadas, com todo o poderio que
elas têm, enfrentar o narcotráfico
e o tráfico de drogas. Nunca consegui. Quando montou-se aqui
em Mato Grosso o Gaeco, que é o
grupo especializado da Polícia Federal de combate ao crime organizado, eu os recebi no palácio,
dei todo apoio, jamais atrapalhei
nenhuma investigação. Tentar
me envolver agora com o crime
organizado é um absurdo. Podem
vasculhar. Pega meu patrimônio e
compatibiliza com tudo que ganhei nesses anos todos.
Folha - A que conclusões os senhores chegaram a respeito dos 27
depósitos, num total de R$
1.723.600,00, do DVOP (Departamento de Viação e Obras Públicas
de Mato Grosso) em favor da firma
Confiança Factoring?
Dante - Esses depósitos não existem segundo o meu [ex-]presidente do DVOP José Carlos Novelli. Ele soltou uma nota em que
nega que tenha feito negócios
com factoring. Não tem cheque.
Ele é conselheiro do Tribunal de
Contas e diz que não existe isso.
Folha - Quanto à existência dos
cheques parece não haver dúvidas.
Foram rastreados pelo BC.
Dante - Vou fazer uma análise
sobre o que acho que pode ter
acontecido. E não estou defendendo isso. Aqui em Mato Grosso, havia dez factorings aprovadas
pelo Banco Central. Das dez, sete
eram desse moço [o comendador
João Arcanjo Ribeiro]. Uma empresa que recebesse no dia 1º um
cheque para o dia 20 e quisesse
trocar, ia na factoring. Dentistas e
médicos recebiam cheques para
30 dias e iam na factoring para fazer dinheiro. O grande empresário a mesma coisa. Era o banco
que funcionava para descontar
cheques de todo mundo. O que
pode ter acontecido é que o
DVOP pagou a determinado fornecedor, ele pegou esses cheques
e foi lá, entregou como pagamento de dívida. Isso pode ter ocorrido pelo que entendi das explicações que obtive. Não sei se é isso.
Folha - O DVOP pagava aos fornecedores em cheque ou em crédito
direto na conta?
Dante - Acho que em cheque.
Folha - O sr. conversou com as
duas pessoas que coordenaram a
sua campanha e que, segundo o depoimento de Nilson Teixeira, o auxiliar de Arcanjo, se reuniram com
ele na Confiança Factoring?
Dante - Falei com os dois. Um
deles é esse José Carlos Novelli
[ex-presidente do DVOP], que divulgou essa nota negando os cheques. O outro, Carlos Avalone,
deve estar chegando de viagem
hoje [ontem] e vai providenciar
nota ou fazer pronunciamento.
Folha - Eles estiveram, afinal, na
empresa de factoring, em reuniões
com Nilson Roberto Teixeira?
Dante - O Novelli nunca esteve
em reunião. O Carlos Avalone tinha uma amizade pessoal com o
Nilson antes de ele trabalhar com
a factoring. Era amigo pessoal. Segundo ele fala, quando o Nilson
trabalhava no Banco Econômico,
já eram amigos. Quando ele foi
trabalhar na factoring, disse a ele:
"Não faça isso". Ele foi. Quando o
sr. Nilson quis fazer uma adoção
de criança, quem orientou e fez
tudo foi o Avalone, porque ele
também tem criança adotada. Os
dois têm relação, um ia na casa do
outro. Essa relação pessoal tinha.
Mas relações de negócio, ainda
mais envolvendo governo e campanha, aí é outra coisa.
Folha - O sr. Nilson Roberto Teixeira há de estar blefando, portanto, quando diz no depoimento que
conseguiria provar, com documentos, a relação entra a Confiança
Factoring e o comitê de campanha?
Dante - Não sei que documentos
são esses, não sei sobre o que ele
está falando. O duro é que está se
criando uma coisa no Brasil de
pegar o depoimento de um cidadão, colocar em todos os sites do
Brasil e do mundo e você tem de
ficar correndo atrás do prejuízo.
Quem lê esse tipo de coisa diz:
"Olha, o Dante aí envolvido com o
crime organizado". Agora tem de
refazer tudo isso. É terrível.
Folha - A contabilidade de campanha era controlada pelo sr. na
condição de candidato?
Dante - Tinha um comitê de
campanha, no qual o Carlos Avalone era a pessoa que fazia os contatos com empresários. Ele, no
meu segundo mandato, foi secretário da Indústria e Comércio, tinha muitas relações empresariais.
Ele era o contato empresarial.
Folha - Não pode ter havido algum entendimento que fugisse ao
seu conhecimento?
Dante - Eu nunca autorizei e
nunca fui consultado para nada
disso. Por mim nunca passou absolutamente nada e acredito que
não tenha havido nada.
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