São Paulo, sábado, 25 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REAÇÃO OFICIAL

Michel Temer diz que irá consultar partido sobre proposta, o que deve adiar reforma

Lula oferece 4 pastas e busca apoio no PMDB contra a crise

Adriano Machado/Folha Imagem
Michel Temer, presidente Lula, Renan Calheiros e Aloizio Mercadante de mãos dadas na reunião de ontem sobre o apoio do PMDB


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em mais um movimento para tentar superar a maior crise política de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ontem quatro ministérios de peso ao PMDB: Minas e Energia, Integração Nacional, Saúde e Cidades. Citou até o nome de Silas Rondeau, presidente da Eletronorte, para as Minas e Energia. O PMDB prometeu responder à oferta na semana que vem, o que deve adiar a conclusão da reforma vislumbrada pelo Planalto.
Lula disse que o PMDB pode manter suas duas pastas atuais (Previdência e Comunicações) desde que indique substitutos para Romero Jucá e Eunício Oliveira e se contente no total com quatro pastas. Lula insiste no critério de que ministros parlamentares que queiram ser candidatos em 2006 deixem o posto agora.
É o caso de Jucá e Eunício, que sairiam numa reforma que afetaria ao menos 15 dos 35 ministros. Jucá é suspeito de desvio de verbas públicas e está sendo processado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Lula gostaria de ter um pretexto para tirá-lo.
A depender da evolução das negociações, Lula mexerá as peças. Ciro Gomes, por exemplo, é opção para a Saúde ou a Previdência -uma dessas duas pastas não ficará com o PMDB. Ele quer substituir Olívio Dutra (Cidades) e Humberto Costa (Saúde).
A oficialização da oferta ao PMDB ocorreu em almoço ontem no Palácio do Planalto entre Lula, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP).
Lula julga o PMDB vital para aumentar a sua proteção no Congresso, onde há investigações parlamentares sobre acusações de corrupção ao governo -CPI dos Correios e o caso do "mensalão". O PMDB tem a maior bancada do Senado (23) e a segunda da Câmara (85 deputados).
Temer disse a Lula que precisaria consultar os grupos governista e oposicionista e que seria "impossível" responder até segunda ou terça-feira. Perguntou a Lula se ele aguardaria mais tempo. "Aguardo", disse o presidente.
A Folha apurou que Lula chegou a dizer que Minas e Energia poderia ser dirigida "pelo Silas, aquele menino do [José] Sarney". Silas foi indicado por Sarney em conversa por telefone com Lula na terça-feira à noite.
Assim, Lula fecharia uma composição com o grupo de Sarney, no qual há até pefelistas, e compensaria a promessa não-cumprida de levar a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para o ministério. Sarney ficou chateado.
Das outras pastas, duas ficariam com os governistas (Câmara e Senado) e uma com os oposicionistas (alguns deputados e governadores). Lula falou que gostaria de extinguir Comunicações para uma fusão com Integração Nacional, mas que a manteria se o partido assim desejasse.
O presidente do PT, José Genoino, defendeu o estreitamento da aliança do governo com o PMDB e disse que tal movimento "não entra em contradição com o esforço de negociação com os movimentos sociais" e faz parte do "jogo democrático".

Porteira fechada
A Folha apurou, porém, que há complicadores para que a oferta de Lula seja aceita. Alguns governadores são contrários. Uma das maiores dificuldades é convencer o secretário de governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Essa é a primeira vez que o presidente do PMDB, que é da ala oposicionista, aceitou participar para valer das negociações com o Planalto.
Antes de Lula tomar posse, Temer participou de negociação que fracassou. Para tentar facilitar um acerto, Lula disse que a ampliação do espaço do PMDB não significaria compromisso com sua eventual reeleição. Ou seja, é uma oferta para atravessar o período mais duro da crise no Congresso.
"O presidente da República enfatizou a necessidade de o PMDB participar mais amplamente do governo e disse que o partido era indispensável para a tranqüilidade institucional do país", afirmou Temer. "Ficou subentendido que viriam ministérios de razoável potencial governativo."
Ao ressaltar que o partido vai comandar "por inteiro" as eventuais pastas que assumir, Temer faz referência a outra queixa freqüente dos aliados: o aparelhamento da máquina pública pelo PT, ou seja, o partido assume um ministério mas não manda nele de fato porque os cargos de segundo e terceiro escalão são ocupados por petistas.
"Primeiro, a ampliação substanciosa do espaço do PMDB, segundo, a participação direta do partido nas decisões de governo, especialmente nas áreas que venha a comandar, e comandar por inteiro", disse Temer, ao descrever a proposta feita por Lula.

Aldo e Wagner
Na reunião, foi analisada a situação do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política). "Gosto muito do Aldo. Vou mantê-lo no mesmo lugar ou em outro ministério." O mais provável é que Lula acabe com a pasta de Aldo e dê suas atribuições ao ministro Jaques Wagner (Conselhão), que faria a ponte com o colégio de líderes aliados do Congresso Nacional. Aldo poderia ocupar o lugar de Ricardo Berzoini no Trabalho ou de José Alencar na Defesa.
(KENNEDY ALENCAR, ELIANE CANTANHÊDE E FERNANDA KRAKOVICS)

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