São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Antropóloga estudou condição feminina e se projetou com Comunidade Solidária

DA REDAÇÃO

Antes de se tornar nacionalmente conhecida como mulher do então presidente Fernando Henrique Cardoso, Ruth Corrêa Leite Cardoso, 77, já tinha uma longa carreira como antropóloga dedicada a estudos de gênero e de aculturação.
Contudo, ela só ganhou projeção nacional no governo FHC por implantar o programa Comunidade Solidária que, de 1995 a 2002, alfabetizou 3 milhões de jovens, capacitou outros 114 mil para o mercado de trabalho e estimulou a organização de mulheres artesãs em cooperativas de produção.
Apesar disso, o programa era criticado até mesmo por aliados do governo, como o senador baiano Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que declarou: "Essa masturbação sociológica me irrita". FHC respondeu secamente: "Ministro não critica governo". Motta silenciou.
Discreta, Ruth criticou várias vezes a imprensa por considerar que tinha sua vida privada invadida com freqüência.
Na área acadêmica, a antropóloga criou na USP o Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero. Também se destacou por suas duas teses sobre aculturação dos japoneses no Brasil, que ganharam especial repercussão neste ano em razão do centenário da imigração japonesa.
Decidida a estudar filosofia, Ruth mudou-se de Araraquara (SP), sua cidade natal, onde nasceu em 19 de setembro de 1930, para São Paulo aos 19 anos. Na USP, conheceu FHC, um ano mais novo do que ela. Eles se formaram em 1952 e se casaram no ano seguinte. Mas, enquanto FHC se dedicava à carreira acadêmica, ela trabalhou também como assistente na área de recursos humanos da USP e cuidava dos três filhos do casal, o que fez com que sua produção científica progredisse mais lentamente que a dele.
Defendeu seu mestrado em 1970 com o "Papel das Associações Juvenis na Aculturação dos Japoneses", e seu doutorado em 1972, com a tese "Estrutura Familiar e Mobilidade Social: estudo dos japoneses no Estado de São Paulo". Fez pós-doutorado na Universidade Columbia (EUA). Publicou ainda "A Aventura Antropológica".
Seus estudos não tiveram a mesma repercussão que os de FHC, conhecido internacionalmente pela teoria da dependência, mas a levaram a lecionar nas universidades de Berkeley (EUA) e Cambridge (Inglaterra). Quando seu marido foi aposentado compulsoriamente pelo AI-5 em 1968, Ruth permaneceu vinculada à USP, enquanto ele se dedicou a fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Em 1975, ela se tornou coordenadora da pós-graduação de ciência política -área onde atuou até sua morte. Ruth só entrou para o Cebrap depois que FHC deixou o instituto.


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