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ALIANÇA NO ESCURO
Presidente licenciado do Senado ataca BC e sugere que "o grande escândalo" do país envolve privatizações
Jader diz que não renuncia e elogia Itamar
Elza Lima/Folha Imagem
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O presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), em entrevista concedida em Belém |
RAYMUNDO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM
Por enquanto, o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), poupa o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas não seu governo. Diz que
é vítima de uma conspiração de
setores da base aliada do governo,
interessados em enfraquecer o
PMDB na sucessão presidencial.
Jader não dá nomes. É taxativo
apenas quando se refere ao Banco
Central. Acha que o BC resolveu
importuná-lo com o caso do desvio de verbas do Banpará porque
pediu a CPI do sistema financeiro.
Com as acusações contra ele, o
senador paraense acredita que o
BC e o governo desviam a atenção
dos verdadeiros problemas. Das
dificuldades econômicas às acusações nunca investigadas sobre o
processo de privatização da telefonia, o programa de ajuda aos
bancos e a operação de socorro
aos bancos Marka e FonteCindam na crise cambial de 99.
Jader diz que não renunciará à
presidência do Senado, mas sabe
que o PMDB já articula sua sucessão. E diz que, pela primeira vez,
terá oportunidade de se defender
da acusação de ter-se beneficiado
de dinheiro do Banpará: a Justiça
paraense lhe concedeu um habeas
data para que tenha acesso ao
processo feito pelo BC.
Folha - O sr. vai renunciar à presidência do Senado?
Jader - Não. Eu estou de licença.
Eu não posso, como democrata,
colaborar para o retrocesso político no país. Eu lutei contra a ditadura militar, e lutei pertencendo
ao grupo mais aguerrido da oposição brasileira, para que não fosse possível, no Brasil, se voltar a
processos arbitrários e de se desejar decretar a morte política de
um homem público simplesmente porque determinados setores
consideram conveniente. Nós estamos vivendo num Estado democrático, regido pela lei. Em relação às acusações que me fazem,
elas haverão de ser provadas e não
simplesmente me submeterem a
um linchamento político, enganando a opinião pública brasileira
e me apresentando como grande
problema nacional.
Folha - Quem deseja decretar a
sua morte política?
Jader - O grande escândalo nacional hoje se chama Jader Barbalho. O grande escândalo nacional
não são as especulações dos negócios que teriam sido feito com as
privatizações no Brasil, o grande
escândalo nacional não são os escândalos produzidos pelo Banco
Central do Brasil com o banco
Econômico, com o Nacional, com
o Marka e com o FonteCindam. O
BC deu U$ 1,6 bilhão ao Marka e
ao FonteCindam antes mesmo de
a fiscalização chegar.
Folha - O site que o sr. tem, no
qual responde a uma dezena de
acusações, não é por si só acusador?
Barbalho - Eu me encontro dentro de um processo de um julgamento político que começou com
meu entrevero com o [ex-"senador Antonio Carlos Magalhães,
há cerca de um ano e cinco meses.
Naquela oportunidade ele juntou
tudo quanto foi denúncia ao longo da minha vida pública. Problemas de episódios eleitorais, coisas
da província, de uma carreira de
36 anos. Isso tudo foi remetido ao
Ministério Público Federal pelo
Conselho de Ética do Senado. Nenhuma delas prosperou. As denúncias valem pela qualidade e
não pela quantidade. Eu resolvi
então colocar nesse portal na internet (www.jaderbarbalho.
com.br) para quem tivesse a curiosidade verificar se essas denúncias têm consistência.
Folha - Mas o procurador-geral
parece estar mudando de opinião
em relação a alguns episódios.
Barbalho - Quem pode dar satisfação é o próprio procurador. O
que eu tenho é uma manifestação
assinada pelo vice-procurador-geral da República e pelo procurador-geral da República, que considera essa matéria [a acusação de
que teria se beneficiado de desvio
de recursos do Banpará" prescrita
sob qualquer legislação que ela
possa ser observada. E, quanto ao
mérito, transcreve um trecho inteiro do relatório final do Banco
Central do Brasil, que me exclui
de qualquer responsabilidade. Os
meus argumentos não são meus.
São os argumentos do procurador-geral da República e do relatório conclusivo e final do Banco
Central do Brasil. Assinado por
toda a hierarquia jurídica do banco, inclusive seu procurador-geral.
Folha - Se o procurador-geral pedir a quebra de seu sigilo bancário,
o sr. vai recorrer?
Jader - Não há necessidade de
ele pedir. Já foi quebrado durante
cinco anos pelo banco Central.
Folha - Senador, a carta do BC diz
que foram recolhidos indícios de
que o sr. foi beneficiário do desvio
do Banpará. Só não foram recolhidas provas para embasar juridicamente um processo.
Jader - Em relação a mim, registra que, apesar do esmero da fiscalização, os auditores não chegaram a nenhum indício.
Folha - O sr. sempre diz que está
prescrito, que não foram encontradas provas, mas não nega o fato.
Jader - Nunca houve contraditório administrativo, nunca fui citado para coisíssima alguma a
respeito disso. Há todo um processo administrativo do qual eu
nunca participei, ao qual eu nunca tive acesso. Se o BC tivesse chegado a alguma prova, estaria obrigado a tomar alguma providência, sob pena de ter cometido crime de prevaricação.
Folha - Mas o relatório do auditor
Abrahão Patruni diz que o sr. foi
beneficiado.
Jader - Essa questão só o BC pode explicar. Durante cinco anos
esse sr. fez uma auditagem em todas as minhas contas. Se, após
cinco anos, o BC não conseguiu
encontrar nada que pudesse me
envolver, como eu posso aceitar
esse tipo de especulação?
Folha - À exceção de um cheque...
Jader - À exceção de um cheque
correspondente hoje a R$ 60 mil.
Veja bem, de uma especulação
que já esteve em US$ 10 milhões,
em R$ 10 milhões, passou agora,
segundo uma revista, para R$ 2,5
milhões. Eu só vou ter oportunidade agora, com a leitura do relatório completo, o que se disse a
respeito dessa minha conta. A
movimentação bancária é simples: entrada e saída. A matéria de
prova contra qualquer pessoa que
tenha movimentação bancária é o
extrato bancário.
Folha - Por que o sr. tinha uma
conta no banco Itaú no Rio?
Jader - Porque eu ia muito ao
Rio. Por outro lado, não havia
mesa de aplicação de overnight
aqui no Pará, na época. E eu abri
esta conta muito antes, salvo engano de minha parte é de 1980 ou
de 1978. É uma conta muito anterior inclusive à minha chegada ao
governo do Pará em 1983.
Folha - Senador, o sr. pode dizer
com todas as letras que nunca foi
beneficiário de recursos desviados
do Banpará?
Jader - Não fui. E terei a oportunidade, ao final de tudo isso, de
comprovar o que estou dizendo.
Fui avisado de que tudo seria uma
campanha orquestrada.
Folha - Avisado por quem?
Jader - Por diversas pessoas.
Folha - Cite um.
Jader - O presidente José Sarney,
meu amigo, numa conversa na
casa dele. Ele me avisou o que iria
me acontecer se eu insistisse em
ser candidato à presidência do Senado. O que estava sendo montado, essa orquestração. Não só ele
me disse, outras pessoas também
me avisaram. Eu achei que aquilo
era uma forma de me intimidar.
Depois veio o episódio do painel
[a quebra do sigilo dos votos na
sessão que cassou o mandato de
Luiz Estevão". Novamente eu fui
instado. Desta vez eu tinha de salvar o Antonio Carlos, eu tinha de
colaborar para que o Antonio
Carlos não perdesse o mandato.
Porque, se ele perdesse o mandato, inevitavelmente eu também
deveria perder o mandato.
Folha - Por quem o sr. foi instado?
Jader - Por diversas pessoas, por
diversos políticos.
Folha - Mas por que tantas pessoas estavam interessadas em desestabilizá-lo?
Jader - Na hora que eu fui eleito
presidente do Senado, acumulando com a presidência do PMDB,
passei a ser uma peça da maior
importância para a sucessão presidencial. E era fundamental remover essa peça. Era fundamental diminuir o tamanho do presidente do PMDB politicamente.
Eu não tenho a menor dúvida de
que, além desses atores aos quais
já me referi, há outros atores, internos no governo, na própria base do governo, no sentido de enfraquecer o PMDB.
Folha - Quem são esses atores?
Jader - Eu não gostaria de citar
nomes. O que eu estou fazendo é
um diagnóstico.
Folha - Se há uma orquestração,
há um regente. Quem é?
Jader - Não posso nominar um
regente, existem vários regentes.
Existem vários sócios nessa empreitada.
Folha - O sr. guarda alguma mágoa em relação relação ao presidente Fernando Henrique Cardoso
nesse processo?
Jader - Absolutamente. O presidente é um homem que acompanha atentamente a cena política.
Folha - O PMDB vai apoiar uma
candidatura do governo?
Jader - Chance sempre existe em
política. Mas considero cada vez
mais remota essa possibilidade,
por achar que cresce a tese da candidatura própria do PMDB. Esse é
o caminho eleitoral e politicamente mais adequado.
Folha - Essa candidatura pode ser
a do governador Itamar Franco?
Jader - A decisão do PMDB deve
ser democrática. Não só por ser
governador de Minas Gerais, mas
também presidente da República,
não tenho a menor dúvida de que
ele, neste momento, é o que se
apresenta com maior densidade
eleitoral.
Folha - Por que o sr. não disse
desde o início que foi sócio do empresário José Osmar Borges, que é
apontado pelo Ministério Público
como o maior fraudador da Sudam
da?
Jader - Quando o conheci, ele foi
apresentado como um empresário vitorioso, com projetos com
certificado de implantação concedidos pela Sudam. Ninguém pode
ser responsabilizado por qualquer acusação que pese em relação a outro.
Folha - Por que o sr. não declarou
a compra dessa fazenda ao Imposto de Renda?
Jader - Eu declarei. Tudo o que a
legislação determina foi cumprido em relação a essa compra.
Folha - Numa conversa gravada,
o sr. é acusado de ter se beneficiado da desapropriação de uma fazenda.
Jader - As pessoas que se envolveram nesse tal de telefonema [o
ex-banqueiro Serafim e sua mulher, Vera Arantes", depondo na
Polícia Federal e perante o corregedor-geral do Senado, Romeu
Tuma, dizem que a história não
tem nenhum fundamento. É um
absurdo sem tamanho, como o é
esse episódio publicado pela revista "IstoÉ", segundo o qual o deputado Mário Frota teria usado o
meu nome e solicitado valores a
um empresário.
Folha - Usou?
Jader - Nunca o deputado Mario
Frota me procurou para conversar absolutamente nada a respeito
de Sudam. Ele já desmentiu. Disse
a mim que isso seria uma montagem patrocinada pelo governador
do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), que é inimigo pessoal
dele.
Folha - Até hoje não apareceu
uma fita com sua voz, mas por que
será que as pessoas o citam tanto,
senador?
Jader - Se eu não tivesse ousado
enfrentar o Antonio Carlos, se eu
não tivesse ousado me transformar num dos políticos mais importantes deste país, eu não estaria sendo objeto de todas essas
misérias, de todas essas calúnias.
Onde está uma ação contra
mim? Onde está uma ação de ressarcimento? Eu respondo a um
processo só nas revistas e nos jornais. Mais nada além do que isso.
Ninguém encampa. Ninguém assume.
Folha - O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, está
preparando uma ação.
Jader - Eu estou aguardando. A
última vez em que o dr. Brindeiro
se manifestou a respeito do assunto foi para dizer que legalmente não era possível ingressar. Se
ele prepara uma ação a respeito
do Banpará, eu já tenho a minha
contestação. Será o parecer dele.
Folha - No depoimento prestado
à Polícia Federal o sr. disponibilizou seu sigilo bancário. Depois, pediu para o Supremo Tribunal Federal negá-la. Por quê?
Jader - Porque o que se quer fazer é um show de pirotecnia. Se
havia eu aberto mão do mão do
meu sigilo bancário, se a transação foi uma transação bancária, a
coisa mais simples seria verificar a
ordem de pagamento ou cheque.
Pedir a quebra dos sigilos fiscal e
telefônico não tem cabimento. Se
o casal diz que tudo o que havia
falado ao telefone era mentira,
nós estamos diante do quê? Um
show de pirotecnia.
Folha - O sr. tem TDAs (Títulos da
Dívida Agrária)?
Jader - Nunca tive.
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