São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

"Atirar na cabeça"

NELSON DE SÁ

A morte de Jean de Menezes por "acidente", com cinco tiros na cabeça, à queima-roupa, foi a manchete dos principais jornais britânicos -do prestigioso "Observer", que é a edição dominical do "Guardian", ao tablóide "News of the World", dominical do "Sun".
Foi a manchete até do "New York Times", do outro lado do Atlântico.
Na televisão, desde o sábado à tarde se manteve como a notícia central dos canais BBC e Sky News, ambos britânicos, além CNN e Fox News, os principais americanos.
Ao menos duas grandes redes abertas dos EUA, NBC e ABC, divulgaram com destaque a confirmação de que a polícia londrina havia assassinado "um brasileiro inocente".
 
Nos EUA, os programas de domingo de repercussão, como "Late Edition", de Wolf Blitzer, e "Fox News Sunday", debateram o tema longamente.
Mas foi no "Sunday with Adam Boulton", da Sky News, também de Murdoch, que saiu a entrevista mais controversa do dia.
"Sir" Ian Blair, o comissário de polícia de Londres, defendeu e afirmou que vai continuar com a política de "atirar para matar". Com bom inglês, soou brutal na argumentação:
- Nós estamos confortáveis, a política é a correta. Mas é claro que são tempos fantasticamente difíceis e temos que concentrar em pegar a tragédia, lamentá-la profundamente e seguir em frente.
Mais do mesmo:
- Não faz sentido atirar no peito, porque é lá que vai estar a bomba. Não faz sentido atirar em nenhum outro lugar, porque podem cair e detonar... Tiramos isso da experiência de outros países, como Sri Lanka. O único jeito de lidar com isso é atirar na cabeça.
 
No mesmo tom e com atenção semelhante, o "News of the World" publicou longo artigo assinado por "Lord" Stevens, que foi o comissário de polícia responsável pela implantação da "política".
Duas frases, destacadas pelo próprio tablóide:
- "Atirar para matar" salva vidas... Uma tragédia não vai mudar isso.
Ao longo da cobertura, dois ministros britânicos, do exterior e da justiça, ecoaram os chefes de polícia.
E na imprensa os primeiros editoriais, inclusive aqueles dos jornais chamados de prestígio, evitaram condenar os policiais ingleses ou a "política". Pediram investigação.
 
Em oposição às palavras de Ian Blair e seus colegas, só a avó e outros parentes de Jean. Eles e a cobrança do chanceler Celso Amorim, na Sky News como na BBC e CNN:
- É evidente agora que era uma pessoa inocente e pacífica. Até na luta contra o terror temos que cuidar para evitar a perda de vida inocente.
Além das vozes brasileiras aqui e ali, vale sublinhar, o site do britânico "Financial Times" fechou domingo com manchete para a "pressão crescente" sobre a chefia da polícia, por parte da "comunidade islâmica" e até de "alguns políticos" britânicos. Não deu nomes.

NO AR Acima, imagens de Jean de Menezes na BBC, do Reino Unido, na ABC, dos EUA, e no sinal americano da CNN, entre outras redes que cobriram exaustivamente o assassinato. Abaixo, na britânica Sky News, de Rupert Murdoch, o comissário de polícia de Londres, "Sir" Ian Blair, defende a política nacional de "atirar para matar" e, em especial, "atirar na cabeça"

Bagunça
Em meio ao choque da morte do brasileiro, o "Financial Times" publica hoje um editorial sobre o escândalo no Brasil, intitulado "O desafio de Lula":
- Eleito para tornar o Brasil e o governo mais eficientes, limpos e justos, o presidente Lula parece estar caindo nas três questões. Não obstante um ininterrupto otimismo no mercado, o governo está em uma bagunça.

Estabilidade
Após resumir as notícias, o "FT" foi ao ponto:
- Por enquanto, a economia está isolada dessas dificuldades... Mas existem alguns sinais de que o panorama se deteriora.
Por fim, conselhos:
- Como primeiro passo, deve reconhecer o tamanho da crise e aceitar alguma responsabilidade por permitir que ele acontecesse. O presidente Lula precisa, então, reorganizar o seu governo em torno de um projeto que assegure estabilidade.

Polígrafo
Vexado pela entrevista que caiu do céu, no domingo anterior, o "Fantástico" comparou Lula ao Clinton do caso Lewinsky e ouviu até especialistas em "mentira". Chegou muito perto, inspirado por Claudio Humberto, mas não apelou ao polígrafo.

nelsondesa@folhasp.com.br


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Panorâmica - Mensalão/PP: Relator da CPI recebeu doação de Valério
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.