|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TODA MÍDIA
"Atirar na cabeça"
NELSON DE SÁ
A morte de Jean
de Menezes por "acidente",
com cinco tiros na cabeça, à
queima-roupa, foi a manchete
dos principais jornais britânicos
-do prestigioso "Observer",
que é a edição dominical do
"Guardian", ao tablóide "News
of the World", dominical do
"Sun".
Foi a manchete até do "New
York Times", do outro lado do
Atlântico.
Na televisão, desde o sábado à
tarde se manteve como a notícia
central dos canais BBC e Sky
News, ambos britânicos, além
CNN e Fox News, os principais
americanos.
Ao menos duas grandes redes
abertas dos EUA, NBC e ABC,
divulgaram com destaque a
confirmação de que a polícia
londrina havia assassinado "um
brasileiro inocente".
Nos EUA, os programas de
domingo de repercussão, como
"Late Edition", de Wolf Blitzer, e
"Fox News Sunday", debateram
o tema longamente.
Mas foi no "Sunday with
Adam Boulton", da Sky News,
também de Murdoch, que saiu a
entrevista mais controversa do
dia.
"Sir" Ian Blair, o comissário de
polícia de Londres, defendeu e
afirmou que vai continuar com
a política de "atirar para matar".
Com bom inglês, soou brutal na
argumentação:
- Nós estamos confortáveis,
a política é a correta. Mas é claro
que são tempos fantasticamente
difíceis e temos que concentrar
em pegar a tragédia, lamentá-la
profundamente e seguir em
frente.
Mais do mesmo:
- Não faz sentido atirar no
peito, porque é lá que vai estar a
bomba. Não faz sentido atirar
em nenhum outro lugar, porque
podem cair e detonar... Tiramos
isso da experiência de outros
países, como Sri Lanka. O único
jeito de lidar com isso é atirar na
cabeça.
No mesmo tom e com atenção
semelhante, o "News of the
World" publicou longo artigo
assinado por "Lord" Stevens,
que foi o comissário de polícia
responsável pela implantação
da "política".
Duas frases, destacadas pelo
próprio tablóide:
- "Atirar para matar" salva
vidas... Uma tragédia não vai
mudar isso.
Ao longo da cobertura, dois
ministros britânicos, do exterior
e da justiça, ecoaram os chefes
de polícia.
E na imprensa os primeiros
editoriais, inclusive aqueles dos
jornais chamados de prestígio,
evitaram condenar os policiais
ingleses ou a "política". Pediram
investigação.
Em oposição às palavras de
Ian Blair e seus colegas, só a avó
e outros parentes de Jean. Eles e
a cobrança do chanceler Celso
Amorim, na Sky News como na
BBC e CNN:
- É evidente agora que era
uma pessoa inocente e pacífica.
Até na luta contra o terror temos
que cuidar para evitar a perda de
vida inocente.
Além das vozes brasileiras
aqui e ali, vale sublinhar, o site
do britânico "Financial Times"
fechou domingo com manchete
para a "pressão crescente" sobre
a chefia da polícia, por parte da
"comunidade islâmica" e até de
"alguns políticos" britânicos.
Não deu nomes.
![](../images/n2507200502.jpg) |
|
NO AR Acima, imagens de Jean de Menezes na BBC, do Reino Unido, na ABC, dos EUA, e no sinal americano da CNN, entre outras redes que cobriram exaustivamente o assassinato. Abaixo, na britânica Sky News, de Rupert Murdoch, o comissário de polícia de Londres, "Sir" Ian Blair, defende a política nacional de "atirar para matar" e, em especial, "atirar na cabeça"
![](../images/n2507200503.jpg) | |
Bagunça
Em meio ao choque da morte
do brasileiro, o "Financial Times"
publica hoje um editorial sobre o
escândalo no Brasil, intitulado "O
desafio de Lula":
- Eleito para tornar o Brasil e o
governo mais eficientes, limpos e
justos, o presidente Lula parece
estar caindo nas três questões.
Não obstante um ininterrupto
otimismo no mercado, o governo
está em uma bagunça.
Estabilidade
Após resumir as notícias, o
"FT" foi ao ponto:
- Por enquanto, a economia
está isolada dessas dificuldades...
Mas existem alguns sinais de que
o panorama se deteriora.
Por fim, conselhos:
- Como primeiro passo, deve
reconhecer o tamanho da crise e
aceitar alguma responsabilidade
por permitir que ele acontecesse.
O presidente Lula precisa, então,
reorganizar o seu governo em
torno de um projeto que assegure
estabilidade.
Polígrafo
Vexado pela entrevista que caiu
do céu, no domingo anterior, o
"Fantástico" comparou Lula ao
Clinton do caso Lewinsky e ouviu
até especialistas em "mentira".
Chegou muito perto, inspirado
por Claudio Humberto, mas não
apelou ao polígrafo.
nelsondesa@folhasp.com.br
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Panorâmica - Mensalão/PP: Relator da CPI recebeu doação de Valério Índice
|