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QUESTÃO AGRÁRIA
MST estima que cerca de 30% de seus integrantes no Pontal do Paranapanema são evangélicos
Evangélicos ameaçam hegemonia católica
QUESTÃO AGRÁRIA
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha,
em Teodoro Sampaio (SP)
O avanço de
evangélicos nos
assentamentos e
acampamentos
de sem-terra no
Pontal do Paranapanema (extermo oeste do
Estado de São Paulo) ameaça a hegemonia católica no MST, movimento originário da CPT (Comissão Pastoral da Terra).
O berço político de alguns dos
principais líderes do MST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), como José
Rainha Júnior e Diolinda Alves de
Souza, foram as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), entidades de
inspiração católica.
Pesquisa realizada pelo Datafolha em maio do ano passado, em
um universo de 150 entrevistados
dos acampamentos Taquaruçu,
em Sandovalina, e Santa Rita, em
Mirante do Paranapanema, indica
que 9% eram evangélicos pentecostais, e 1%, históricos.
Atualmente, o MST estima que
30% dos militantes do movimento
sejam evangélicos, um quadro
bem diferente do registrado no início da década de 90.
Em 1991, dos 118 sem-terra que
invadiram a fazenda São Bento,
em Sandovalina, 9 eram evangélicos, que acabaram abandonando o
MST por pressões dos pastores.
Ação
Na tarde do domingo retrasado,
três trabalhadores rurais integrantes da Assembléia de Deus protagonizaram uma ação audaciosa
-entraram na fazenda São Domingos, em Sandovalina, onde a
UDR (União Democrática Ruralista) reunia sua ala mais radical.
Os três, argumentando que haviam se enganado, foram agredidos e expulsos do local.
Horas depois, o MST invadiu a
fazenda Maturi 1, em Caiuá. A operação dos sem-terra foi comandada pelos evangélicos José Paulo
dos Reis, o "Paulinho Crente", e
Marivaldo Rodrigues Frederick,
conhecido por "pastor" (leia entrevista ao lado).
Assustada com a concorrência, a
Igreja Católica começa a reagir e
programa um encontro para formar doutrinadores que vão atuar
nos acampamentos dos sem-terra.
"Abandonado"
Antonio Garcia, 30, membro do
acampamento de Santa Rita, conta
que há dois meses deixou o catolicismo por se sentir "abandonado" pela igreja. Atualmente, Garcia integra a Assembléia de Deus.
Autodenominado socialista, ele
se converteu em um dos cultos que
a Assembléia de Deus realiza duas
vezes por semana no local.
Dos cerca de cem integrantes do
acampamento de Santa Rita, pelo
menos 30 costumam frequentar os
cultos promovidos pela Assembléia de Deus.
"Quando cheguei aqui, há um
ano, não tinha um 'irmão'. Agora,
em todas as famílias há evangélicos", afirma o sem-terra Paulo
Moura da Cruz, 39, um dos organizadores das celebrações.
Outro neo-evangélico, o ex-DJ
Vanderson Nascimento da Silva,
16, ficou conhecido por animar
festas durante a caminhada dos
sem-terra a Brasília (DF).
"Eu gostava de soltar bomba
nos crentes, achava esse povo
meio louco, trouxa", diz.
Armas
O mais antigo integrante do MST
na Pontal do Paranapanema, Valmir Rodrigues Chaves, conhecido
por "Bill", deixou de frequentar a
Igreja Adventista do 7º Dia depois
de "bater no liquidificador" a Bíblia e "O Capital", de Karl Marx.
"O resultado da mistura diz que
dá para fazer as duas coisas", afirma o sem-terra.
O hoje assentado Rosinei Oliveira Santos, 36, adventista, diz ter
perdido a conta das vezes que participou de invasões. Santos só se
recusa a pegar em armas.
Na última tentativa de invasão
da fazenda São Domingos, em fevereiro passado, quando seis
sem-terra saíram feridos a bala, o
assentado conta que rezou muito.
"Pela palavra de Deus a gente
não pode pegar em armas, mas,
fugir da luta, a gente não foge",
afirma Santos.
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